A combinação de ferramentas de IA (Inteligência Artificial) aplicada na análise de mamografias aumenta a precisão da detecção precoce do câncer de mama, mostra estudo do Grupo Fleury. A rede passará a adotar a tecnologia na rotina dos atendimentos a partir de 2025.
O trabalho analisou um banco de dados de 1.511 mamografias anonimizadas, sendo 565 com confirmação de câncer de mama por biopsia e 946 casos sem a doença.
A ideia foi investigar os limites das ferramentas de IA. Por exemplo, erros, acertos e contextos em que elas são melhores ou piores para serem utilizadas.
Os resultados apontam que, sozinha, cada IA teve uma taxa de acurácia de 90%, em média. Combinadas, o índice ultrapassou de 95%. O trabalho será apresentado em congresso internacional de radiologia, que acontecerá em Chicago (EUA), em dezembro.
Segundo o radiologista Bruno Aragão, coordenador médico de inovação do Fleury, o objetivo foi testar se duas ferramentas diferentes de IA teriam desempenhos melhores do que uma isolada. A conclusão foi que sim, a combinação é mais eficiente.
“Do mesmo jeito que existe uma junta médica, existe uma tendência de que a gente tenha uma junta de IAs”, diz ele.
O médico explica que nenhuma ferramenta tem 100% de acurácia, por isso, é importante não só a combinação entre elas mas também o olhar atento do especialista.
“A gente consegue discutir com a máquina, ela ajuda, mas o médico continua sendo o mediador. Ainda não chegamos no momento de soltar a máquina sozinha para ela tomar uma decisão”, diz Giselle Guedes Netto de Mello, médica radiologista de diagnóstico por imagem do Fleury.
Segundo Aragão, o tipo de erro que o humano comete não é o mesmo da IA. Por exemplo, às vezes a ferramenta não reconhece um tumor que tenha uma apresentação atípica, um formato diferente, por exemplo.
“Às vezes é até um tumor grande, mas que ela viu pouco e deixa passar. Nós, humanos, olhamos e perguntamos: ‘como é que pode a máquina errar um caso desse?”
Já os humanos podem cometer erros na interpretação de mamografias quando há lesões muito pequenas, escondidas em cantos. “Por isso a união entre máquina e humano é a melhor combinação.”
A literatura científica mostra que quando a análise é feita só pelo olho humano, a taxa de acurácia vai de 65% a 90%, dependendo da experiência do médico (se é um recém-formado ou não) e do perfil da paciente.
“Depende do tipo da mama que ela tem. Se for muito densa e heterogênea, atrapalha muito”, explica Gisele Mello.
Segundo ela, em serviços onde há muitos profissionais recém-formados e/ou um fluxo de atendimento muito intenso, o uso de IAs pode tornar o trabalho mais eficiente.
As ferramentas de IA testadas pelo Fleury utilizam algoritmos para identificar e classificar áreas suspeitas de câncer de mama em mamografias digitais, a partir de uma análise detalhada das imagens, que estimam a probabilidade de lesões malignas com base em uma pontuação quantitativa e de mapas de calor que identificam as áreas suspeitas.
Gisele Mello explica que as ferramentas já estão sendo sendo utilizadas no Fleury em uma fase de aprendizado. “A gente estabeleceu fluxos: se a máquina aponta uma anormalidade, as coisas são encaminhadas de uma forma, se ela não aponta mas se o especialista acha que tem, continua a investigação.”
Também está em discussão decisões como colocar essas informações geradas por IA no relatório do paciente. “Não é só ligar na tomada e soltar um software. Tem toda a questão de como o serviço vai se comportar, como serão os fluxos, como será quando homem e máquina decidirem”, diz Aragão.
De acordo com Mello, no Fleury já é executada a dupla leitura dos exames, quando um médico inicialmente olha e lauda o exame e o outro confere. “A máquina agora fará a terceira leitura. Não vamos nos desfazer de nenhuma mão de obra. Vamos continuar precisando de todo mundo para coisas mais nobres, atendendo melhor, olhando para a história clínica do paciente.”
Para Aragão, é fundamental que os serviços de saúde realizem testes de IAs, utilizando seus próprios dados, antes de incorporar ferramentas na rotina clínica. “Na prática, a interação da equipe com a ferramenta, a gente só vai descobrir depois, quando usá-la.”
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