Feliz Ano Novo para quem, cara-pálida?
Com base só nos dados acumulados até novembro, o programa Copernicus da União Europeia declarou 2024 como o ano mais quente já registrado na Terra. Para cumular, foi o primeiro com temperatura 1,5ºC acima de tempos pré-industriais.
E 2025 arrisca ser pior. Ou, pelo menos, confirmar que o planeta segue em marcha acelerada para descumprir a meta do Acordo de Paris (2015) de manter nesse limiar o aquecimento global. Não é catastrofismo, só realismo.
Dezenas de milhares de militantes, diplomatas e lobistas que afluem todos os anos aos convescotes COP não se cansam de perorar que não é hora de pessimismo, de rendição à modorra da negociação internacional, de desistir de catar caraminguás de carbono a fim de evitar o que for possível —”cada tonelada de CO2 evitado conta”, blablablá.
Deu, pessoal. Está na cara que três décadas de tratativas resultaram em nada, ou pouco demais. E que não será possível resolver tudo na COP30 comandada em Belém por um governo tão ambíguo quanto o de Lula em políticas climáticas.
Quem duvidar que preste atenção no fascínio do Planalto com a margem equatorial da amazônia (com perdão por retomar o tema do petróleo, no que já se parece com uma obsessão). Há boas razões para predizer que, além de incompatível com Paris, a exploração das novas jazidas no fundo do mar dará prejuízo.
Como alertou no jornal O Globo Cristiano Vilardo, analista ambiental do Ibama, a margem equatorial difere do pré-sal: geologia menos conhecida, maior distância de centros de refino e consumo, riscos ambientais e operacionais etc.
Shigueo Watanabe Jr. e Alexandre Gaspari, do boletim ClimaInfo, voltaram à carga no diário Valor Econômico estimando que a exploração dos campos pode ser inviável climática e economicamente. A estatal Empresa de Planejamento Energético (EPE) reagiu aos artigos, mas a resposta não convenceu.
EPE e Petrobras estimam que a extração na margem equatorial começaria após 2030 e atingiria pico de 300 mil barris diários 14 anos depois. Ou seja, perto da década de 2050 em que emissões de carbono teriam de ser eliminadas para atingir o objetivo de Paris —na prática, extinguir a queima de carvão, petróleo e gás.
Dito de outra maneira, essa seria a “transição para além dos combustíveis fósseis” de que falava em 2023 a declaração final da COP28 em Dubai (Emirados Árabes). Não deixa de ser sintomático que a expressão tenha desaparecido do comunicado saído da COP29 em Baku, Azerbaijão, outra autocracia petroleira.
Qual é a chance de um governo como o do PT, atolado na miragem da margem equatorial e inebriado com a perspectiva de integrar a Opep, liderar em Belém movimento para não só reviver uma transição energética digna do nome, mas também obter compromissos de países ricos com o financiamento dessa revolução tectônica na economia mundial?
Nula, concluiria análise retrospectiva não edulcorada ou voluntarista do que se alcançou até aqui. As emissões mundiais de carbono não diminuíram, ao contrário, assim como a concentração de CO2 na atmosfera.
Faltam só 25 anos para garantir alguma probabilidade de cumprir Paris, realizando avanços hercúleos que 29 COPs não foram capazes nem de esboçar.
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