A enorme paixão e talento de uma pequena produtora indie resultam numa bela homenagem aos melhores JRPGs clássicos, mesmo que na sua essência seja desprovido de originalidade, o sistema de combate empolga e a execução cinematográfica é brilhante.
Clair Obscur: Expedition 33 é mais um exemplo da energia que a paixão pode despertar entre alunos fascinados pelos melhores trabalhos exibidos pelos professores que estão na origem das mais memoráveis obras que nos marcam. Desenvolvido por uma pequena equipa, é um perfeito reflexo de uma era na qual pequenas produtoras conseguem ir muito além do que seria de esperar.
Desenvolvido pela francesa Sandfall Interactive, produtora que merece parabéns por mostrar que, além de paixão, conseguiu aprender bem as lições e interpretar os pilares dos JRPGs que tanto adora, Expedition 33 corre perigosamente o risco de mergulhar no outro lado da moeda. Apesar de não manchar o talento da produtora, Expedition 33 é uma experiência um pouco confusa, quase esquizofrénica, no sentido em que assume uma identidade fragmentada ao tentar copiar tanta coisa já feita.
Num momento, parece que a narrativa inspirada por Final Fantasy 10 deseja introduzir nuances de Xenoblade Chronicles, a banda sonora tenta ser Nier para no momento seguinte ser Final Fantasy, enquanto o sistema de combate nos relembra o melhor da série da Square Enix com algumas mecânicas extra. No entanto, este era o seu propósito, homenagear estas obras e mostrar o seu impacto.
Identidade francesa numa obra de tom japonês
Com uma maravilhosa banda sonora que parece ter sido feita pelos maiores mestres japoneses, Expedition 33 é um JRPG maioritariamente linear, que surpreende pela sua execução cinematográfica na qual as maiores obras japonesas recebem um toque tão francês. A estética Unreal Engine 5 permite mostrar impressionantes cenários decadentes, com muita arquitetura a remeter-nos para a Bela Época, mas num contexto de forte fantasia depressiva.
Em Expedition 33, a humanidade vive à beira da extinção pois uma entidade chamada Artífice escreve todos os anos um número e todas as pessoas com essa idade morrem. Todos os anos, é preparada uma expedição a partir da cidade de Lumiere para tentar travar a Artífice. No papel de Gustave, vais liderar a expedição para tentar travá-la definitivamente.
O tom de fatalidade, dramático e cinematográfico começa logo nos primeiros momentos do jogo, fortes e intensos, num jogo obcecado pela morte. Quem parte na expedição sabe que é praticamente uma sentença de morte, mas quem fica também sabe que está a adiar o inevitável.
Este é o ponto de partida para uma narrativa que tenta criar impacto com a sua carga dramática, que convence com os seus personagens realistas e o constante sofrimento no qual mergulham. Além disso, a chegada ao continente é igualmente intensa e dramática, com mistérios constantes e inesperados acontecimentos. No entanto, é fácil sentir que a narrativa se arrasta e é forçado o adiamento da revelação das principais informações. Apesar disso, existem inúmeros momentos marcantes.
Um sistema de combate espetacular
O que definitivamente marca a experiência, mais do que a sua qualidade gráfica ou sonora (que torna difícil acreditar que foi produzido por uma equipa com menos de 40 pessoas), é o sistema de combate, mecânicas de suporte e o quão dinâmica é esta jogabilidade. Expedition 33 é um jogo extremamente linear que alguns até podem acabar em 20 horas, mas com mapa mundo com locais e bosses opcionais para descobrir, com uma boa quantidade de segredos.
Expedition 33 apresenta-te um sistema de combate por turnos, com uma jogabilidade e mecânicas que te fazem pensar em jogos como Final Fantasy 10, entre outros com personagens de estética adulta e realista, mas com uma incrível dinâmica graças aos QTEs para ataque ou defesa. É aqui que Expedition 33 realmente brilha e onde está a sua principal força.
Encontrar e equipar os melhores buffs, desbloquear habilidades que maximizam a build que pretendes para cada um dos personagens é importante, mas dominar os QTEs é o segredo de Expedition 33. No momento do ataque, tens de pressionar o botão no momento certo para maximizar o dano ou efeito da magia, mas a defender tens de ser ainda mais rigoroso.
Quase como se fosse uma mistura entre Final Fantasy e Sekiro, Expedition 33 exige constante atenção para desviar ou amparar um golpe no momento perfeito, o que até pode permitir um contra-ataque devastador. Além de extremamente gratificante, é essencial para sobreviver. Mesmo sentindo que existe uma tentativa de o tornar mais difícil do que devia ser para aumentar artificialmente o número de horas de jogo, a verdade é que se torna gratificante amparar os jogos para depois efetuar o contra-ataque.
O maior gosto em jogar Expedition 33 não foi a execução cinematográfica ou a banda sonora, nem sequer a qualidade gráfica, foi a força do seu sistema de combate e o quão divertido é, mesmo a sentir frequentemente que acertei nos timings, mas o jogo disse que não. Incentiva-te a querer melhorar, a aprender os movimentos e combos dos bosses, transportando a experiência para um tom que seria de esperar num Soulslike e não num JRPG similar a Final Fantasy.
Conclusão
Clair Obscur: Expedition 33 é um inegável primeiro forte esforço de uma pequena equipa movida por uma grande paixão. Mesmo sem originalidade, chega a incomodar que a maioria da atenção direcione inevitavelmente para tentar perceber qual o JRPG que estão a copiar a cada momento, é um jogo divertido, e com um sistema de combate empolgante. O ritmo da narrativa poderá incomodar, as personagens não são propriamente memoráveis, mas há aqui uma romântica e trágica história para acompanhar.
Prós: | Contras: |
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