Dezesseis pesquisadores de instituições brasileiras estão entre os cientistas com maior número de citações em periódicos, segundo lista divulgada no fim do mês passado pela plataforma Clarivate.
A relação da empresa, que oferece serviços voltados à análise de pesquisas acadêmicas e científicas, é feita anualmente desde 2014 e inclui os pesquisadores de todo o mundo que se destacaram nas áreas de ciências e ciências sociais.
O trabalho inclui o 1% dos cientistas mais citados globalmente em diversas subáreas, como agronomia, engenharia, farmácia e imunologias.
Para chegar à lista final, pesquisadores da empresa avaliam só artigos científicos que sigam as diretrizes de Indicadores Essenciais Científicos (ESI, na sigla em inglês), ou seja, que tenham sido publicados em periódicos indexados na plataforma Web of Science —a exemplo das tradicionais Nature e Science— e que tenham indicadores bibliométricos de impacto.
Nomes ambíguos são eliminados em uma primeira etapa da análise. Depois, os pesquisadores excluem artigos com mais de 30 autores ou cuja autoria seja de grupos de pesquisa ou instituições —o que tornaria difícil calcular a citação individual de cada autor. Outros critérios para exclusão são artigos que contenham dados que fraudam as políticas e éticas de publicação científica ou ligados a processos de má conduta.
A lista preliminar, comunicada em meados de setembro, passou ainda por uma etapa de verificação de identidade de cada autor e instituição, processo que levou cerca de um mês para ser concluído.
Neste ano, foram incluídas 6.886 autorias ou instituições, representando 6.636 indivíduos —alguns têm colaborações em diferentes áreas, por isso aparecem mais de uma vez.
Os Estado Unidos lideram com o maior número de pesquisadores entre os mais citados (2.507), seguidos por China (1.406), Reino Unido (563) e Alemanha (332).
O biólogo e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Mauro Galetti é um dos 16 cientistas de instituições brasileiras com maior número de citações. Ele é um dos coordenadores do CBioClima (Disseminação do Centro de Dinâmica da Biodiversidade e Mudanças Climáticas).
Para o docente, o fato de ser um dos poucos pesquisadores com pesquisa sobre biodiversidade incluídos na lista ressalta como a área ainda carece de mais visibilidade.
“Nas próximas décadas, essa discussão vai ser cada vez mais relevante, porque estamos vendo diariamente, com as ondas de calor, com a perda da biodiversidade. Acho também curioso que mesmo fora da academia temos tido também agora bastante destaque.”
Como o período analisado da lista é de 2013 a 2023, o biólogo lembra que atingir tal reconhecimento é como “correr uma maratona”, e não uma prova de cem metros.
Na lista, há oito pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) entre os mais citados —seis deles têm a universidade paulista como instituição primária, e dois, como secundária:
Ainda da região Sudeste, há quatro pesquisadores:
A lista também tem três pesquisadores do Rio Grande do Sul:
Para o físico José Marengo, do Cemaden, o fato de ter seu nome incluído na lista não exclui a cooperação de diversos outros pesquisadores do centro. “O reconhecimento veio para mim, mas, na verdade, tem um grupo de pesquisa por trás, então ele vem também para a instituição, para o governo federal [Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação], como também para a área de mudanças climáticas e desastres.”
O epidemiologista Victora, que figura desde 2018 na lista de mais citados, faz uma ressalva: a lista inclui publicações em revistas de alto impacto o que, de certa forma, pode significar um viés em relação a países de língua materna inglesa. “Em geral, tem menos brasileiros e menos cientistas [de países em desenvolvimento] nessa lista do que outras.”
A lista da Clarivate é constituída exclusivamente com base em citações bibliográficas e, portanto, é limitada em relação a outros fatores de relevância e mérito científico.
Há, também, uma concentração dos pesquisadores na região Sudeste, sobretudo do estado paulista, lembra Galetti. “A grande maioria são pesquisadores de São Paulo e quase todos, imagino, têm recursos da Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo]. Então, não quer dizer que outros estados não têm cientistas excelentes, só que eles não têm recursos para ir para campo ou comprar equipamentos, o que afeta a produtividade.”