As preguiças-gigantes surgiram na América do Sul dezenas de milhões de anos atrás, mais tarde se espalhando até o norte do Canadá. Enquanto seus parentes modernos habitam árvores e têm o tamanho de um cachorro, as gigantes também ocupavam terras e litorais, mas chegavam a ter o tamanho de elefantes.
Sabemos, com base em peles preservadas, que algumas delas apresentavam muitos pelos. Mas será que outras preguiças evoluíram para serem quase sem pelos?
Uma pesquisa publicada no início deste ano no Journal of Mammalian Evolution oferece novas perspectivas sobre como essas preguiças extintas, e que também viveram no que hoje é o território brasileiro, poderiam ter parecido e quão peludas eram.
Desenvolver uma imagem mais precisa das preguiças-gigantes não é simples. Seus habitats variavam de climas tropicais a frios nas Américas. Eles tinham uma variedade de tamanhos. Os megatérios, conhecidos como Eremotherium e Megatherium, estavam entre os maiores mamíferos terrestres de sua época.
A equipe começou determinando a temperatura corporal das preguiças. Eles empregaram uma análise que dois autores envolvidos no estudo, Robert Eagle e Aradhna Tripati da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles), utilizaram em trabalhos anteriores com amostras de dentes fossilizados.
Usando três dentes de megatérios e dois de preguiças relativamente menores, eles mediram a abundância de certos isótopos dentro dos minerais nos dentes dos animais, segundo Eagle.
“Isótopos são transformadores para poder iluminar a temperatura corporal de espécies extintas”, disse Tripati.
Eles descobriram que as preguiças-gigantes apresentavam uma temperatura corporal central de 29 a 32 graus Celsius, mais baixa do que a da maioria dos grandes mamíferos terrestres de hoje.
Randon Flores, outro coautor do estudo e estudante de doutorado na UCLA, afirmou que a baixa temperatura corporal “nos permite fazer inferências sobre coisas como taxa metabólica”, e a partir disso, “podemos fazer comparações” entre a fisiologia das preguiças menores de hoje e seus parentes extintos.
Modelos computadorizados criados por paleoartistas foram usados para estimar a área de superfície e o volume corporal dos megaterídeos e das espécies um pouco menores, Mylodon e Nothrotheriops.
Análises adicionais permitiram à equipe ajustar fatores como velocidade do vento, umidade e quantidade de luz solar em vários habitats. O objetivo, segundo Michael Deak, autor principal do artigo, era determinar “uma zona de conforto térmico” para cada espécie, na qual o animal não está nem muito quente nem muito frio.
O Megatherium produziu os resultados mais surpreendentes. Independentemente do ambiente, cada modelo indicou uma preferência por aquilo que Deak descreveu como “um pelo bastante espesso, denso e peludo”. Modelá-lo com pelos esparsos semelhantes aos de elefante, continuou ele, indicava que o animal “estaria constantemente estressado pelo frio”.
O Eremotherium, que era ligeiramente maior que o Megatherium, foi a única preguiça cuja cobertura de pelos poderia ter mudado dependendo do seu habitat —sem pelo menos um centímetro de pelo denso, ele teria passado muito frio nas montanhas dos Andes e em alguns habitats do norte. Mas, em climas tropicais, pelos esparsos poderiam ter sido suficientes. A equipe sugere que o Eremotherium pode ter tido uma cobertura de pelos variada dependendo da região ou pode ter trocado de pelo durante as estações mais quentes.
Os menores Mylodon e Nothrotheriops precisariam de 1 a 5 centímetros de pelo denso o ano todo, uma quantidade que corresponde ao pelo mumificado desses animais. Mas mesmo com pelo grosso, os autores observam que essas espécies habitavam áreas na América do Sul onde não teria sido suficiente para combater o frio. Isso se alinha com evidências fósseis sugerindo que as espécies se abrigavam em cavernas, ou até hibernavam.
O estilo de vida da preguiça moderna, segundo Michael Butcher, um dos autores do estudo e professor na Universidade Estadual de Youngstown, “é construído em torno da conservação de energia”. Então, ainda segundo ele, faz sentido que as preguiças-gigantes estivessem fazendo algo semelhante, mesmo “em tamanhos corporais muito maiores”.
Mariana Di Giacomo, que atua no Museu Peabody de Yale e não esteve envolvida na pesquisa, elogiou os modelos da pesquisa. Mas, para ela, a equipe deveria ter recorrido a uma amostra maior e analisado dentes de regiões mais frias e mais ao sul na Argentina ou no Chile.
“Acho que eles poderiam ter dito as coisas com muito mais autoridade se houvesse mais dados”, afirmou Di Giacomo.
O paleontólogo Greg McDonald, que também não esteve envolvido na pesquisa, disse que os resultados do artigo foram alcançados sintetizando muitas informações de várias fontes “para ver como elas se encaixavam”.
“Os dados de isótopos são realmente uma base sólida”, afirmou ele. Obter os mesmos resultados de fontes díspares nos modelos indica que essa é “provavelmente uma explicação válida subjacente” sobre a quantidade de pelo das preguiças-gigantes.