Cientistas da Universidade da Califórnia afirmam ter descoberto uma nova cor, impossível de ser vista a olho nu. Batizada de “olo”, a coloração é um “azul esverdeado” de alta saturação.
A descoberta, publicada mês passado na revista americana Science, detalha que a “olo” foi percebida durante experimento em que células da retina foram estimuladas por lasers. No estudo, é apresentado um novo princípio para a exibição de cores, denominado de Oz.
Os participantes do estudo descrevem a cor como “azul-petróleo”, “verde”, “azul-esverdeado” e “verde, um pouco azul”. Todos destacam sua saturação, apontando que é maior do que a vista em cores observáveis a olho nu.

Como a nova cor foi descoberta?
O experimento é realizado direcionando luz a células oculares, chamadas de células cone – sensitivas a ondas de comprimento médio (cones M). Tudo isso, sem estimular as células sensitivas com ondas de curto ou longo comprimento.
O fato é que a estimulação de apenas um dos três tipos de cones fotorreceptores do olho é algo que não ocorre no cotidiano. Afinal, comumente, todas as células são instigadas pela luz de forma simultânea.
Qual foi a importância da retina do olho humano no estudo?
O olho humano possui células fotorreceptoras localizadas na retina, responsáveis pela captação da luz. Uma delas (as células cones), permite a percepção das cores e é sensível às luzes vermelha, verde e azul.
Desse modo, o experimento fez com que lasers fossem usados para isolar a estimulação dos cones M (sensíveis à luz verde), sem ativar os cones S (azul) ou L (vermelho). Esse tipo de estímulo seletivo gerou uma experiência visual incomum: a percepção de “olo”. Algo que até então, era inédito para os humanos.
A pesquisa destaca ainda que a nova descoberta vai “além da gama de cores bem conhecida e limitada da visão humana natural“.
Seria a “Olo” a cor mais rara do mundo?
Até o momento, somente cinco pessoas conseguiram visualizar a olo, incluindo, Ren Ng, professor da Universidade da Califórnia, um dos autores do estudo, que declarou:
“Digamos que você passe a vida inteira vendo apenas rosa, rosa bebê, um rosa pastel. E então, um dia você vai trabalhar e alguém está usando uma camisa com o rosa bebê mais intenso que você já viu, e eles dizem que é uma cor nova e nós a chamamos de vermelho“.
Professor da UFRJ destaca experimento
A Gazeta do Povo conversou com Bruss Lima, professor adjunto no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ, e pesquisador do IDOR Ciência Pioneira. Ele destacou que a “descoberta” é, na verdade, uma nova percepção do ser humano sobre algo, até então, jamais visto.
“A cor é uma percepção nossa, uma construção do nosso sistema visual. As cores, fisicamente, são comprimentos de onda da luz e já existem e estão em todos os cantos e já foram todas ‘descobertas’. Então, é uma cor nova no sentido que ela gera uma percepção diferente em nós“, explica.
Bruss destaca que o estudo foi possível por “um enorme desenvolvimento tecnológico tanto dos estudos sobre o sistema visual quanto pelas inovações tecnológica dos lasers. Ambos andam juntos“.
Ele também nos explica que a conclusão dos cientistas da Universidade da Califórnia “nos permite um novo método para estudar o sistema visual e da percepção de cores“.
Ele ainda salienta que “é impossível dissociar ciência de tecnologia. Toda ciência é um avanço tecnológico de alguma forma. Agora, o que esse estudo mostra é que a ciência está cada vez mais multidisciplinar. Pessoas de diferentes (cientistas da visão e de lasers) áreas começam a trabalhar juntas para realizar estudos inéditos“.
Chagas Filho vê como positivo o interesse da comunidade “não científica” sobre a descoberta da Olo. “Essa pesquisa cativou o público. E nós estamos interessados que o público se interesse por ciência, principalmente, porque é esse público que ultimamente decide se o governo vai ou dar dinheiro para as universidades, para os centros de pesquisa. Se cativa o grande público, pra mim já é uma coisa muito valiosa.”