Sem alarde, e noticiando apenas depois do fato (como é costumeiro por lá), a China lançou na última quarta-feira (28) sua primeira missão robótica de retorno de amostras de um asteroide.
Impulsionada por um foguete Longa Marcha 3B lançado do Centro de Lançamento de Satélites de Xichang, no sul da China, a sonda Tianwen-2 já está a caminho do asteroide 469219 Kamo’oalewa, com que deve se encontrar daqui a pouco mais de um ano, em julho de 2026.
A Tianwen-2 é a segunda missão interplanetária chinesa, depois da Tianwen-1, combinação de orbitador, módulo de pouso e rover que chegou a Marte em 2021, tornando a China o segundo país do mundo a operar com sucesso uma missão na superfície do planeta vermelho, depois dos EUA.
A nova missão também tem a ousadia de ser uma espécie de duas em uma. Depois de passar sete meses analisando o pequeno asteroide, com diâmetro estimado entre 40 a 100 metros, e colher amostras de sua superfície (por três métodos diferentes), ela ejetará o material na direção da Terra em uma cápsula durante um rápido sobrevoo de nosso planeta, no fim de 2027, para depois partir em uma segunda jornada de seis anos até o cometa 311P/Pan-Starrs.
Com isso, os chineses empacotam em uma única missão os objetivos antes realizados por sondas como as japonesas Hayabusa e Hayabusa2 e a americana Osiris-Rex, que visitaram e colheram amostras de asteroides, e como a europeia Rosetta, que fez um estudo completo de um cometa, o 67P/Churyumov-Gerasimenko.
A iniciativa marca o esforço do programa daquele país em rapidamente ganhar experiência e atingir o estado da arte em missões espaciais complexas. O projeto não só permitirá a demonstração da capacidade de realizar manobras complexas no espaço (entrar em órbita de um asteroide, com sua débil gravidade, não é simples) como o de manter controle e funcionalidade em espaçonaves muito distantes da Terra, por longos períodos.
A Tianwen-2 só chegará em 2035 ao cometa 311P/Pan-Starrs, praticamente uma década após seu lançamento. E as operações ocorrerão a grande distância da Terra, uma vez que ele localizado numa órbita dentro do cinturão de objetos entre Marte e Júpiter.
Ambos são alvos científicos de grande interesse. O asteroide, desconfia-se que seja um antigo pedaço da Lua que foi ejetado para o espaço após um impacto. Já o cometa parece ser um alvo preferencial para o estudo da classe de objetos que parecem estar no meio do caminho entre serem de fato cometas (com maior conteúdo de gelo) e asteroides (objetos mais típicos do cinturão onde ele está inserido, predominantemente rochosos).
É mais um passo importante na expansão do programa chinês de ciência planetária, que já conta com outras duas missões em fase de desenvolvimento: a Tianwen-3, que deve ser lançada entre 2028 e 2029 e espera ser a primeira do mundo a trazer amostras de Marte, entre 2030 e 2031; e a Tianwen-4, primeira aventura robótica chinesa no território dos planetas gigantes, que deve partir em 2029 com uma espaçonave focada em estudar Júpiter e em particular sua lua Calisto, acompanhada por uma minissonda que fará um sobrevoo de Urano (planeta até hoje só visitado por uma sonda, a americana Voyager-2, em 1986).
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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