Chimpanzés habitam vários ambientes na África, desde densas florestas tropicais até áreas mais abertas de bosques e savanas. E esses primos próximos de nossa espécie desenvolveram adaptações genéticas aos seus habitats, incluindo a patógenos como a malária, de acordo com um novo estudo.
Pesquisadores examinaram dados genéticos de 388 chimpanzés selvagens em 18 países, documentando adaptações impulsionadas pela natureza de seu habitat e revelando uma diversidade genética moldada por condições locais.
Ambientes florestais, mais do que habitats abertos, estão repletos de patógenos como a malária, doença parasitária transmitida por mosquitos. O estudo descobriu que os chimpanzés que habitam florestas têm mudanças em genes associados à resistência a doenças.
“Em chimpanzés da floresta, identificamos assinaturas de adaptação a patógenos, com o sinal mais forte sendo para malária”, disse a geneticista evolutiva Aida Andrés, da University College London, que liderou o estudo publicado nesta sexta (10) na revista Science. “Identificamos assinaturas de adaptação em dois genes que são conhecidos por mediar resistência e adaptação à malária em humanos. Isso pode representar um sinal potencial de adaptação paralela ao parasita da malária nas duas espécies.”
“Esse é um estudo evolutivo, então não foi estabelecido se a variação genética nesses dois genes realmente confere resistência à malária na natureza. Isso terá que ser investigado em estudos futuros. Por outro lado, não encontramos evidências de adaptação genética à malária em chimpanzés da savana arborizada, talvez porque ambientes florestais estejam associados a uma pressão mais forte de malária”, explicou Andrés.
A malária continua sendo uma ameaça mortal para os humanos. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a doença causou 597 mil mortes em todo o mundo em 2023.
Chimpanzés e os bonobos, que são intimamente relacionados, são as espécies geneticamente mais próximas dos humanos, compartilhando cerca de 98,8% do nosso DNA. As linhagens evolutivas humanas e dos chimpanzés se separaram há cerca de 6,9 milhões a 9 milhões de anos, de acordo com pesquisas publicadas em 2023.
“Se, como propomos, os mecanismos adaptativos para o mesmo agente infeccioso são provavelmente semelhantes entre as espécies, identificar assinaturas de adaptação genética nos macacos pode nos ajudar a identificar adaptações genéticas potencialmente desconhecidas em populações humanas”, disse a geneticista.
Os pesquisadores basearam suas descobertas em material genético extraído de fezes de chimpanzés coletadas em toda a África equatorial. Os 52 locais de coleta abrangeram a República Centro-Africana, Camarões, Congo, República Democrática do Congo, Guiné Equatorial, Gabão, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Costa do Marfim, Libéria, Mali, Nigéria, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Tanzânia e Uganda.
Os chimpanzés são considerados ameaçados de extinção devido à destruição do habitat, à caça ilegal e a doenças infecciosas. A população total na natureza é estimada em cerca de 170 mil a 300 mil, de acordo com a WWF.
As descobertas do estudo têm implicações para a conservação da espécie, sugerindo que mudanças no clima e no uso da terra em sua área resultarão em efeitos distintos em diferentes populações de chimpanzés.
“Enquanto a degradação da floresta tropical é talvez um perigo principalmente para os chimpanzés da floresta, as mudanças no habitat que podem aumentar a pressão da malária são talvez um perigo sobretudo para as populações de chimpanzés da savana”, afirmou Andrés.
“O estudo sugere que devemos visar conservar a considerável diversidade genética dos chimpanzés, incluindo sua diversidade genética adaptativa”, continuou a pesquisadora. “Isso é tanto para conservar as populações existentes quanto para preservar o potencial adaptativo da espécie —para que tenham mais probabilidade de se adaptar às próximas mudanças de habitat devido, por exemplo, às mudanças climáticas.”