Com 352.356 moradores, Campo Grande, na zona oeste carioca, se manteve como o bairro mais populoso do Rio de Janeiro em 2022. Se fosse uma cidade, seria a 77ª maior do Brasil em número de habitantes. Também na zona oeste, Camorim, Itanhangá e Recreio dos Bandeirantes tiveram os maiores crescimentos relativos de população.
As informações são de mais um recorte do Censo Demográfico de 2022, divulgado nesta quinta-feira (14). O bairro, que teve 328.370 habitantes mapeados em 2010, teve um acréscimo de 7,3% de residentes. O segundo bairro carioca mais populoso é Santa Cruz, também na zona oeste, com 239.130 habitantes, e o terceiro, Jacarepaguá, com 217.462.
Considerando apenas os municípios fluminenses, Campo Grande seria o nono mais populoso, e seu número de residentes equivale à soma da população das 193 menores cidades do país.
Camorim, Itanhangá e Recreio tiveram, respectivamente, crescimento populacional relativo de 257,2%, 78,4% e 70,8%. Já o crescimento absoluto de residentes foi no bairro de Jacarepaguá, também na zona oeste, com 60.136 pessoas a mais em 2022, ante 2010. O Recreio está em segundo lugar, com 58.197, e Guaratiba, em terceiro, teve 49.839 a mais mapeados.
O bairro carioca com a maior proporção de idosos, considerando a soma dos habitantes com mais de 60 anos, é o Leblon (35,3%). Méier (34,6%) e Paquetá (33,6%). Já a maior concentração de jovens, considerando a faixa etária de 18 a 29 anos, está em Gericinó, na zona oeste, onde fica o Complexo Penitenciário de Gericinó (49%). A segunda maior fica no bairro da Rocinha (23,2%), onde vivem os 70 mil moradores da maior favela do Brasil.
Enquanto Gericinó, por causa da população de presos, tem 90% de sua população masculina, o bairro com a maior proporção feminina é o Flamengo, na zona sul, com 57,4% da população residente composta por mulheres.
Os números divulgados pelo IBGE fazem parte de um cenário em que a zona oeste é a única da cidade a mostrar, no conjunto de seus bairros, crescimento populacional. A saturação em locais como o centro, a Tijuca, na zona norte, e Copacabana, na zona sul —os três com redução de moradores—, já é um fenômeno consolidado na cidade, seja pelo aspecto demográfico, seja pelo alto custo de moradia nestes locais.
As grandes dimensões da zona oeste, tanto em tamanho quanto em número de habitantes, remontam ao passado agrícola de regiões como Campo Grande —que abrigou produções de cana, gado e laranja— e Santa Cruz e, em períodos mais recentes, da atividade industrial em Bangu, segundo a professora Marcela Padilha, 45, do Instituto de Geografia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
A região passou por um processo que ela chama de urbanização em saltos. “A ocupação começou pelo centro da cidade, foi para a periferia do centro, Tijuca, São Cristóvão e Maracanã, e depois se encaminhou à zona sul. Na zona oeste, isso foi feito ao longo do século 20 seguindo a linha férrea.”
O crescimento foi o suficiente para o então governador do estado da Guanabara, Negrão de Lima, elevar o bairro a município em 1968, diz a pesquisadora. Com a extinção do estado, no entanto, a lei foi revogada. Ainda, o bairro conta com o Parque Estadual da Pedra Branca, floresta urbana que se estende por 125 km², quase oitenta vezes a área do paulistano Ibirapuera.
Assim, esses saltos de população de uma região para outra, em torno de estações de trem e da fábrica de tecidos Bangu, no caso do bairro homônimo da zona oeste, por exemplo, nem sempre foram acompanhados por infraestrutura.
“Quando eu era criança, morei em Inhoaíba, um sub-bairro de Campo Grande, e andávamos por um quilômetro e meio até a estação de trem. Passávamos por um terreno gigante abandonado, onde ficavam laranjais. E eu vi começar o processo de favelização da famosa favela do Barbante”, diz Marcela.
A professora também aponta que muitos desses contingentes sofreram processos de remoção, por exemplo, durante o governo Carlos Lacerda (1960-1965), como é o caso dos grupos que primeiro chegaram à Cidade de Deus, na zona oeste. “Foram retirando as pessoas da zona sul e jogando em outras áreas e não deram nenhum tipo de assistência a elas.”