No último dia 20, Cecilia Sala voltaria a Roma, depois de 8 dias de apuração em Teerã, no Irã. Não embarcou. Telefonou para a mãe, avisando que havia sido detida na prisão de Evin, onde estão dissidentes políticos.
Com 29 anos, Cecilia trabalha para o jornal italiano Il Foglio e para o canal Chora Media, onde apresenta o podcast Stories. Ao narrar a vida das pessoas, famosas ou desconhecidas, apresenta contextos, crises e boas notícias de diferentes lugares.
O episódio 685, publicado em 18 de dezembro, chama-se “Ela Riu Tanto que Tiraram seu Instagram – Comédia de Teerã”. Em dez minutos, conta a história de Zeinab Musavi, comediante iraniana que perdeu 750 mil seguidores –e também o emprego– quando, em meio a uma onda de protestos, a República do Irã declarou a Meta uma organização hostil e fechou suas plataformas no país.
Os 12 minutos do episódio 684 são com Hossein Kanaani, um dos fundadores do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, que, por 45 anos, contribuiu com a criação de grupos armados em todo o Oriente Médio, do Hezbollah ao Hamas.
O episódio 683, “Uma Conversa Sobre o Patriarcado em Teerã”, apresenta Diba, estudante de economia de 21 anos, com cabelos curtos e vermelhos, falando sobre a nova lei do hijab e da castidade, suspensa no último dia 18.
No perfil do Instagram de Cecilia há retratos de pessoas entrevistadas por ela, imagens de bombardeios, vídeos de comentários sobre o Irã, e também Palestina, Ucrânia, Geórgia, Egito, Sudão. Em 2023, publicou o livro “L´incendio: Reportage su una Generazione tra Iran, Ucrania e Afghanistan” (O Incêndio: Reportagem sobre uma Geração entre o Irã, a Ucrânia e o Afeganistão, em tradução livre).
O Irã ainda não reconheceu a prisão de Cecilia, apesar de ela já ter sido visitada pela embaixadora italiana na solitária. Cresce nas redes uma campanha por sua liberdade, com as hashtags #FreeCecilia e #FreeCeciliaSala.
Seus empregadores aderiram à campanha e têm contado a história da jornalista. A Press Freedom Center, com sede em Washington, emitiu uma declaração: “A prisão de Cecilia Sala é um lembrete assustador dos riscos que jornalistas enfrentam na busca pela verdade”. A organização RSF (Repórteres Sem Fronteiras) também condenou a prisão.
Cecilia Sala não está na lista de 26 jornalistas detidos pelo Irã, reportada no Balanço 2024 dos jornalistas mortos, presos, feitos reféns e desaparecidos no mundo, da RSF, porque ele compreende o período de 1º de janeiro a 1º de dezembro de 2024.
O relatório chama a atenção para a prisão de Narges Mohammadi, que recebeu o Nobel da Paz em 2023 e teve sua pena de prisão prorrogada novamente em 2024, em retaliação a seus escritos e ativismo na prisão de Evin. “Sua saúde se deteriorou muito durante a detenção, com temores de um câncer ósseo e problemas arteriais preocupantes”, registra o balanço. Antes de Cecilia, outros 7 jornalistas haviam sido detidos no Irã neste ano.
De acordo com o balanço, há uma intensificação dos ataques em todo o mundo. São pelo menos 550 jornalistas no cárcere, 7% a mais que em 2023. Gaza foi o lugar mais perigoso do mundo para jornalistas: 145 foram mortos pelo exército israelense desde outubro de 2023 —ao menos 35 assassinados por serem jornalistas.
Jornalismo não é crime. E mesmo que fosse, pena de morte é violação aos direitos humanos. #FreeCecilia #FreeCeciliaSala.
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