SÃO PAULO (Reuters) – A CCR (BVMF:) Mobilidade espera alcançar melhores resultados em 2025 após fortes investimentos em frota em São Paulo, mas a forte desvalorização do real e a alta de juros devem impor novas pressões à companhia, afirmou o presidente da divisão de trens de passageiros e metrô do maior grupo de concessões de transporte do país, Marcio Hannas.
A companhia recebeu este mês o último trem novo de uma encomenda de 36 composições para as linhas 8 e 9 da região metropolitana de São Paulo, que somou investimento de 2,6 bilhões de reais. Com isso, a empresa pode concentrar a atenção na reforma do sistema elétrico, um trabalho que deve se estender até 2026.
“Dos 4 bilhões de reais de investimentos previstos no projeto (das linhas 8 e 9), 2,6 bilhões foram para trens”, disse Hannas. “Para o ano que vem, o capex será menor…Além disso, os trens novos têm custo menor, são mais eficientes em termos de consumo de energia”, disse o executivo, evitando fazer projeções específicas.
A CCR assumiu as linhas 8 e 9 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) em abril de 2021 e no ano passado o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, chegou a ameaçar romper contrato com a companhia por uma série de problemas na operação.
Hannas afirmou que, além dos problemas nas cadeias de fornecimento gerados no período pós-pandemia, que provocam atrasos nas entregas de novos trens e itens para manutenção de composições, a companhia teve falha de avaliação da condição desses ativos. “Vieram em nível mais degradado do que esperávamos”, afirmou.
Mas com a chegada dos novos trens, a companhia conseguiu elevar o nível da operação, que atualmente apresenta um patamar de desempenho de entre 85% e 88%, afirmou o executivo, ante abaixo de 50% no início da concessão.
Com os novos trens, a CCR Mobilidade vai concluir em fevereiro a devolução à CPTM da última das 34 composições que foram trocadas pelos novos equipamentos, disse Hannas, citando que a frota da empresa nas linhas será de 57 trens ao final do processo.
Apenas no terceiro trimestre deste ano, por exemplo, a CCR apurou um impacto em custo de construção de 220 milhões de reais gerado pelas linhas 8 e 9 diante da implantação dos novos trens, segundo o balanço da companhia, divulgado no final de outubro.
Ante a previsão de investimento de 4 bilhões nas duas linhas, após a entrega da última composição o restante dos recursos será aplicado “principalmente na parte de energia” até 2026, disse o executivo. Hannas citou como exemplo reformas de subestações e rede aérea que alimenta os trens com eletricidade.
“É um trabalho complexo, precisa desligar a energia para mexer e aí não podemos operar…Temos uma janela muito curta de apenas duas horas de manutenção” durante as madrugadas disse o executivo ao explicar o prazo.
Mas ao ser questionado sobre o impacto da desvalorização da moeda, Hannas afirmou sem detalhar que, como boa parte dos insumos metroferroviários é importada, “há, sim, um impacto de custo na manutenção porque as peças de reposição são importadas”.
Apesar disso, ele acrescentou que não espera “um impacto severo” nos negócios.
Além do próprio câmbio, a alta da Selic deve atingir a última linha do balanço da empresa em função dos financiamentos contratados pela empresa, disse o executivo.
Nos nove primeiros meses de 2024, a CCR Mobilidade apurou um resultado operacional medido pelo Ebitda ajustado de 1,56 bilhão de reais, um crescimento de quase 10% sobre um ano antes. A margem, porém, ficou perto da estabilidade, passando de 51,9% para 52,1%.
FUTURO
Para 2025, um dos principais alvos de interesse da CCR Mobilidade, a maior operadora privada de trens de passageiros da América Latina e sétima maior do mundo, é o leilão das linhas 11, 12 e 13 de trens metropolitanos de São Paulo, disse Hannas.
O projeto, que teve edital publicado pelo governo de São Paulo neste mês, envolve mais de 100 quilômetros de vias existentes e 14 bilhões de reais em investimentos. A entrega das propostas está prevista para 25 de março e o leilão para o dia 28 do mesmo mês.
“A decisão (de participar do leilão) ainda não foi tomada… Estamos estudando”, disse Hannas, citando ainda que no radar da companhia em trens metropolitanos de São Paulo está a eventual concessão das linhas 10 e 14, esta última que precisará ser construída.
A empresa também monitora eventual concessão da linha 3 do metrô do Rio de Janeiro ligando Niterói a São Gonçalo, disse o presidente da CCR Mobilidade.
“Tem tanta oportunidade nessa área no Brasil que não faz sentido esforço para irmos buscar fora do país”, disse Hannas ao ser questionado sobre eventuais focos da empresa no exterior. “No curto prazo, não temos intenção de ir para fora do Brasil.”
Como grupo, a CCR – que tem como principais acionistas os grupos Soares Penido, Mover, Itaúsa (BVMF:) e Votorantim – tem operações fora do Brasil em sua divisão de aeroportos, com terminais em Curaçao, Costa Rica e Equador.
Segundo o executivo, a CCR Mobilidade tem observado o avanço de uma série de tecnologias para possível implantação em suas operações no futuro, incluindo trens a hidrogênio, sistemas de sinalização sem fio, bilhetagem por reconhecimento facial, robôs para limpeza de vias férreas e estações e mesmo transporte em composições que se movem por dutos a vácuo (hiperloop).
“Tem economia de energia porque o trem está em levitação dentro do tubo e recupera a energia na frenagem…não tem trilhos…são benefícios de custos que são relevantes”, afirmou se referindo ao hiperloop.
(Por Alberto Alerigi Jr.)