No primeiro dia de julgamento dos réus acusados de matar a menina Sophia de Jesus Ocampo, a mãe dela, Stephanie de Jesus da Silva, 26, negou envolvimento no crime, alegando que viveu um relacionamento abusivo e que não sabia que a filha era agredida pelo padrasto, Christian Campoçano Leitheim, 27.
Sophia morreu aos 2 anos e 7 meses de idade, em fevereiro do ano passado, em Campo Grande (MS). Segundo a denúncia do Ministério Público, a menina já estava morta quando foi levada ao posto de saúde pela mãe. A criança teria morrido quatro horas antes. No atendimento, foram encontrados hematomas no corpo da menina.
No atestado de óbito consta que ela sofreu trauma raquimedular na nuca e hemotórax bilateral (acúmulo de sangue entre pulmão e parede toráxica). Outro exame mostrou ruptura cicatrizada no hímen, sinal de violência sexual.
“Não fui eu, foi o Christian. Eu não teria coragem de fazer crueldade com a minha filha”, disse Stephanie, durante depoimento prestado nesta quarta-feira (4), no júri popular realizado no Fórum de Campo Grande.
A mãe é acusada de homicídio doloso por omissão, e o ex-companheiro por homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel e praticado contra menor de 14 anos, além de estupro de vulnerável.
A defesa de Leitheim, no entanto, alega que ele dormiu praticamente durante todo o dia da morte de Sophia e que só soube que a criança passou mal ao ser avisado por Stephanie.
O depoimento da mãe de Sophia foi o último do dia e durou 2h20. O advogado Alex Viana avisou que a cliente não iria responder perguntas da defesa de Leitheim, atendendo apenas aos questionamentos dele e da promotoria.
A linha adotada pela defesa é tentar demonstrar a fragilidade psicológica de Stephanie desde a infância, quando passou a morar com a avó, por conta da carga diária de trabalho da mãe e tendo pouco contato com o pai.
Depois, quando casou com Jean Carlos Ocampos, pai de Sophia, foi relatado sofrimento por traição e o alegado período em que teve que arcar com a criação da menina, sem apoio dele e a pouca ajuda financeira. Ocampos, no entanto, nega que tenha deixado de prestar apoio à filha.
Stephanie falou sobre o relacionamento com Christian Campoçano, o padrasto de Sophia. “No começo era bom, começou a mudar depois que fiquei grávida”, disse, referindo-se à gestação da filha deles, hoje, com 2 anos de idade.
Ela relatou ser vítima de agressões e xingamentos. “Ele me dava soco, bicuda e me enforcava”, descreveu. A ré disse também que ele sempre dava desculpas para as marcas roxas e mordidas no corpo da menina, como queda ou brincadeiras com o filho dele. “Nunca vi judiar da Sophia, já vi dando tapa, mas nada que fosse grave”.
Stephanie disse que queria se separar, mas tinha medo do que ele poderia fazer contra as filhas dela. “Ele dizia que ia fazer eu perder a Sophia e sumir com nossa filha”. Ela ainda disse que em julho de 2022, duas semanas após o nascimento da segunda filha, sofreu violência sexual. “Você sabia que isso era estupro?”, questionou a advogada Érika Ratto, que também faz parte da defesa dela. “Naquela época não”, respondeu.
Para comprovar a tendência a relacionamentos abusivos, a defesa pediu parecer técnico do psicólogo forense Felipe de Martino, que prestou depoimento durante o julgamento. No laudo, ele afirmou que Stephanie tem sintomas severos de depressão e ansiedade e apresenta distorções cognitivas típicas da chamada Síndrome de Estocolmo, processo pelo qual a vítima se identifica com o agressor.
O dia de julgamento foi encerrado à noite e será retomado nesta quinta-feira (5), com o depoimento de Leitheim e as alegações de defesa e promotoria. O juiz Aluizio Pereira dos Santos prevê que o julgamento será encerrado na noite desta quinta.