Nesta terça-feira (7), federações de naturismo de todo o mundo resolveram dar voz à revolta contra a censura dos peitos e bundas de seus adeptos pelas redes sociais e publicaram nas plataformas da Meta, simultaneamente, uma carta aberta pedindo ao dono da casa, Mark Zuckerberg, mais critérios para separar alhos de bugalhos, ou, no caso, as imagens do nudismo tradicional da pornografia. A carta é assinada por 40 federações de naturismo de todo o mundo.
Movimento que circula pelo planeta desde o final do século 19, o naturismo chegou ao Brasil ainda nos anos 1930, e teve como um de seus nomes de destaque a atriz e feminista Dora Vivacqua, mais conhecida como Luz del Fuego, que fundou o primeiro Clube Naturista Brasileiro, no Rio de Janeiro, em 1954. Embora mais disseminado na Europa, e em especial na Alemanha, estima-se que, na América Latina, estejam de alguma forma ligados ao movimento ao menos 100 mil praticantes —que em tempos de algoritmos paranoicos estão enfrentando o que Paula Silveira, presidente da Federação Brasileira de Naturismo chama de “uma verdadeira caça às bruxas”.
O naturismo vem se ressentindo de ser frequentemente jogado (e julgado) no mesmo balaio do mercado de vídeos e fotos voltadas para o mercado adulto, com ou sem sexo explícito. Como os algoritmos insistem em remover indiscriminadamente até imagens de quadros consagrados como “A origem do mundo”, do francês Gustave Coubert, exposto no Museu d’Orsay, em Paris, os naturistas, na prática, se sentem —e com razão— prejudicados na divulgação de seus eventos e princípios, que incluem trilhas e caminhadas em praias agrestes e áreas privadas, cujas programações podem ser conferidas nos links da Federação Nacional de Naturismo, em https://www.fbrn.org.br.
O caso é que até praias que tradicionalmente recebem naturistas, como a do Pinho, em Santa Catarina, que sempre se considerou pioneira no país do naturismo regulamentado, estão sendo alvo de patrulhamento por parte de moradores e frequentadores que veem na nudez uma expressão de pouca vergonha e imoralidade.
No último dia 27 de dezembro, por exemplo, uma turista que havia tirado suas roupas foi alertada por banhistas que estavam no local de que a nudez agora está proibida —o que não é verdade, pelo menos até que a Câmara Municipal de Balneário Camboriú aprove um projeto de lei complementar nº 10/2022, do vereador Anderson Santos (Podemos-SC), que passeia por lá há mais de três anos, e prevê justamente enxotar os muito pelados do pedaço. Mas, enquanto a burca não vinga, os banhistas de bem da região resolveram levar o banimento a cabo a por conta própria. No estado mais bolsonarista do país, os maus bofes não chegam a surpreender, convenhamos. Mas irritam.
“Com tantas barbaridades que vemos nessas mídias”, desabafa Paula, “como cenas de sexo em locais públicos como aconteceu no réveillon do Rio de Janeiro, eles têm que vir atrás de postagens nossas que estavam no ar desde 2019 sem incomodar ninguém”.
Não custa lembrar que o verdadeiro naturismo tem regras rígidas de comportamento que não têm nada a ver com os movimentos liberais e swingueiros que aproveitam as moitas de seus espaços públicos e têm levado cada vez mais os praticantes a optarem por eventos fechados aonde possam levar naturistas e suas famílias. É a velha história: uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa beeem diferente.
E você, caro leitor, como se sente chegando cada vez mais perto da Idade Média?
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