Com a chegada de políticos da extrema-direita que fazem sucesso nas redes sociais e opositores mais atuantes, a próxima legislatura da Câmara Municipal de São Paulo deverá caminhar para embates ideológicos ainda mais polarizados no próximo quadriênio (2025 a 2028).
Aposta do PL de Jair Bolsonaro e amigo do deputado federal Nikolas Ferreira, o vereador eleito com mais votos na capital paulista, Lucas Pavanato (PL) promete uma “bancada de direita barulhenta em pautas ideológicas relacionadas a gênero, educação, infância”.
Do outro lado, o petista João Ananias vislumbra uma “oposição, pelo menos, mais combatente” com a chegada dos colegas de partido Dheison e Nabil Bonduki, assim como a cicloativista Renata Falzoni (PSB).
“Teremos vereadores mais comprometidos com alguns temas importantes para a cidade como a mobilidade, meio-ambiente e a questão urbanística”, afirma Nabil, em alusão a si próprio e também a Renata e Marina Bragante (Rede) que defendem as bandeiras de mobilidade e meio-ambiente.
A mudança em 20 das 55 cadeiras de vereadores também tende a dificultar os planos do prefeito Ricardo Nunes (MDB) a partir de janeiro. Na atual gestão, o Nunes se gaba por ter conseguido aprovar todos os seus projetos de lei enviados ao Legislativo.
A principal baixa nesta seara será a ausência de Milton Leite (União Brasil), que como presidente da Casa desde 2021 manobrou os colegas em decisões favoráveis ao Executivo. Tido pelos seus pares como manda-chuva da política paulistana, Leite assumiu o cargo de vereador em 1997 e preferiu não concorrer ao pleito deste ano.
Já o vereador Ricardo Teixeira (União Brasil), escolhido entre seus colegas de partidos e com o aval de Nunes para suceder Leite na presidência, terá sua habilidade de articulação colocado à prova.
Conforme o acordado entre os vereadores do União, Teixeira deverá ficar na presidência somente em 2025. Haverá um rodízio para que os demais vereadores da sigla ocupem a presidência ao longo dos quatro anos.
Nos bastidores, Leite, que é vice-presidente do União Brasil, articulou para emplacar o seu apadrinhado, Silvão na presidência. Um gesto visto como tentativa de Leite para manter sua influência na administração municipal.
“O União decidiu [o nome de Teixeira] por unanimidade. O Silvão e o Silvinho entenderam por bem que precisam passar, pelo menos, um ano pelo plenário”, disse Milton Leite. “O Ricardo [Teixeira] é o mais experiente, aquela cadeira é pesada. O importante é o convívio”, prosseguiu o presidente da Casa.
Nunes ainda contará com a maioria em sua base, sendo que 36 dos 55 vereadores eleitos são de partidos da coligação do prefeito —são sete vereadores do MDB, do União Brasil e PL; seis do Podemos, quatro do PP, três do PSD e dois do Republicanos.
Para boa parte dos projetos de lei, basta contar com o apoio de maioria absoluta (28 dos 55 vereadores). No entanto para os casos que exigem maioria qualificada, como a reforma da Previdência municipal e a revisão do Plano Diretor, são necessários 37 votos, o equivalente a dois terços da Casa.
Ainda há uma incógnita a relação entre Nunes e os vereadores de partidos da sua base, mas que acenaram ou até declararam apoio ao candidato pelo PRTB, Pablo Marçal, na eleição deste ano.
É o caso, por exemplo, de Adrilles Jorge (União Brasil), Janaina Paschoal (PP), Rubinho Nunes (União Brasil), Sargento Nantes (PP) e Zoe Martínez (PL).
Nunes se refere com frequência aos apoiadores de Marçal como “traidores”. Aos mais próximos, Nunes costuma dizer que mantém diálogo com seus opositores, mas evita o contato com quem o traiu.
O PP chegou a indicar Nantes para ocupar uma das secretarias municipais, mas o prefeito já rejeitou a possibilidade.
Vereadores mais experientes apostam que há dúvidas quanto o comprometimento aos projetos do Executivo entre os novos colegas de base, como os influenciadores bolsonaristas Lucas Pavanato (PL), Sargento Nantes (PP) e Zoe Martínez, assim como o veterinário Murillo Lima e a ex-deputada Janaína Paschoal (PP).
“Vou ajudar o Nunes no que for bom para a cidade, mas em hipótese nenhuma vou votar, por exemplo, em privilégios [à classe política] que aumentam o gasto público”, afirma Pavanato.
“Há tempos políticos se vendem por emendas. Deixei claro que quero ajudar, mas sempre vou respeitar meu compromisso com quem me elegeu, porque votou em um soldado”, diz.
Janaína Paschoal também promete independência em meio aos acordos de bancadas. “Se eu me convencer de que o projeto do governo é ruim, vou votar contra. [Com relação aos acordos entre partido e governo] Vou te confessar, eu tenho dúvida se nasci para política.”
A oposição, formada por PT, PSOL, PSB e Rede, contará com um vereador a mais, sendo 17 no total. As bancadas do PSB, PSOL e do PT continuam, respectivamente, com dois, seis e oito representantes.
A novidade é a chegada de Marina Bragante, a primeira vereadora do Rede Sustentabilidade no Legislativo Paulistano e que lidera a Bancada do Clima.
“Não dá para continuar assim, em meio a tantas tragédias, a Câmara não tem nenhum projeto bombando sobre a adaptação às emergências climáticas”, afirma Marina.
O PSOL, apesar da perda da vereadora Elaine Mineiro, terá a ativista Amanda Paschoal, a quinta mais votada na capital. Ambientalista e educadora popular, Amanda é travesti e se identifica como ativista LGBTQIA+.
Dono da maior bancada na capital, o PT tem o histórico de conduzir uma oposição branda ao prefeito. Para os próximos quatro anos, há uma perspectiva que a sigla renove o seu ânimo com Nabil e Dheison.
Outra aposta entre os petistas é que, com a saída de Milton Leite, Alessandro Guedes e Senival Moura, simpáticos a Leite, cumpram com o papel de opositores ao governo. “O Ricardo Nunes não vai ter a vida mansa que tem hoje”, diz Ananias.
A nova composição também mais diversa e contará com mais mulheres e negros em comparação a que iniciou em 2021. Pretos e pardos cresceram de 22% para 29%, também abaixo dos 44% da população do município.
As vereadoras passaram de 13 para 20 cadeiras (36%), mais do que triplicando sua representação na Casa em relação a 12 anos atrás, porém, ainda longe da sua proporção na cidade, de 53%.
Entre elas está a estreante Ana Carolina Oliveira (Podemos), mãe de Isabella Nardoni, que angariou 129.563 votos, atrás apenas de Pavanato (PL). Ana Carolina, com 1,7 milhão de seguidores nas redes sociais, tem entre suas pautas proteção a crianças, mulheres e outros grupos vulneráveis.