Após cinco anos de uma disputa que começou com a participação de 300 equipes de cientistas de 70 países, a competição XPRIZE Rainforest celebra seus vencedores e suas importantes contribuições científicas ao mundo. O Brasil subiu ao pódio.
As pesquisas da disputa estavam focadas em florestas tropicais na América Latina, África e Ásia. Os melhores trabalhos foram anunciados no último dia 15, durante a programação do G20 Social, no Rio de Janeiro.
O “Brazilian Team”, como foi intitulado, ficou na terceira colocação, atrás de duas equipes dos Estados Unidos. O grupo brasileiro era o único do hemisfério sul na fase final da disputa.
O prêmio de US$ 500 mil conquistado na competição, segundo a equipe, será revertido em pesquisas para a conservação da biodiversidade na amazônia e na mata atlântica.
A equipe brasileira foi coordenada pelo professor da USP (Universidade de São Paulo) Vinicius Souza. As frentes de trabalham eram: robótica, sensoriamento remoto, bioacústica, DNA, biodiversidade e insights.
A força-tarefa da ciência reuniu mais de 100 cientistas com conhecimentos multidisciplinares, como biólogos, engenheiros, economistas, informatas e advogados. O grupo era composto de brasileiros, em sua maioria, e colaboradores de outros dez países.
O time criou equipamentos e tecnologias envolvendo inteligência artificial, drones, arranjos de sensores, robótica terrestre e coletores para obter amostras de plantas, animais, DNA, imagens e sons para uma avaliação da biodiversidade de forma eficiente, sustentável e de baixo custo.
Na última etapa da competição, em julho deste ano, os times finalistas tiveram a tarefa de mapear a biodiversidade presente em 100 hectares de floresta amazônica, na comunidade do Tumbira, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro (AM).
Nesse desafio, os pesquisadores tinham de fazer o mapeamento de forma remota, ou seja, sem a presença humana. Os dados deveriam ser coletados em 24 horas, com as informações pertinentes à biodiversidade relatadas nas 48 horas seguintes.
Ao todo, o Brazilian Team documentou 418 “taxa” –termo em latim que pode se referir a diferentes níveis de classificação, como filo, ordem, família ou gênero, por exemplo.
Desse total, 266 foram identificados até o nível de espécie, três das quais sendo possivelmente novas para a ciência. Também foram registradas interações complexas entre espécies e identificadas aquelas que oferecem serviços ecossistêmicos valiosos para a bioeconomia da floresta.
Para os pesquisadores brasileiros, além de colaborarem para preservação de espécies, os estudos também protegem um patrimônio biotecnológico que pode valer bilhões. Cada espécie pode trazer a cura de doenças ou soluções para problemas que ainda são desconhecidos pela ciência.
Team Brazilian
O grupo de robótica desenvolveu equipamentos customizados, inovadores e de baixo custo para registrar a biodiversidade da floresta de forma eficiente, inclusive em áreas de difícil acesso. O time pretende capacitar membros das comunidades locais para que possam se apropriar dessas tecnologias no futuro.
A equipe de robótica também projetou uma centrífuga de tubos portátil para o processamento de material genético em campo, já em processo de patente.
Mais de 1000 espécies amazônicas, entre animais e vegetais, tiveram seu DNA sequenciado antes do final da competição, para ajudar nas identificações das espécies durante a etapa final da competição. Nenhuma dessas espécies havia sido sequenciada anteriormente.
O grupo de genética desenvolveu uma série de protocolos de laboratório e análises bioinformáticas para obter sequências de DNA, em campo, do maior número de espécies e no menor tempo possível.
O grupo de sensoriamento remoto atuou no desenvolvimento de metodologias inovadoras para quantificar o carbono e a biomassa de florestas, além de mensurar a biodiversidade —tudo integrado em uma plataforma digital, que recebe os dados, processa e gera relatórios na nuvem.
O grupo de bioacústica, em parceria com o de robótica, desenvolveu soluções para a coleta de gravações de áudio no dossel da floresta, em clareiras e até em ambientes aquáticos. Foram elaborados protocolos e softwares que utilizam inteligência artificial para a detecção, classificação e identificação automatizada de vocalizações de diferentes espécies.
Para organizar as informações de biodiversidade, o grupo de insights criou uma plataforma que coleta e categoriza dados sobre os usos das espécies e os serviços ecossistêmicos que oferecem —da alimentação e madeira aos serviços de captura de carbono e ecoturismo.
A plataforma é um banco de dados protótipo com uma lista de 4.996 espécies de flora e 6.290 de fauna da amazônia brasileira.