A ampla oferta de serviços de streaming tem gerado fadiga no consumidor brasileiro, que se vê obrigado a assinar mais de uma plataforma para ter acesso aos principais lançamentos da música e do cinema.
Segundo estudo da Simon-Kucher, empresa global de consultoria de gestão, que ouviu 997 brasileiros entre abril e maio deste ano, 34% dos entrevistados têm a intenção de cancelar pelo menos uma assinatura de streaming em 2025. O número cresceu em relação a 2023, quando eram 28% os que pretendiam deixar de ser assinantes.
“Chega o final do mês, em que você tem que pagar serviço de streaming, serviço de notícia, as pessoas começam a se cansar disso e passam a procurar o que está de graça”, afirma Leonardo De Marchi, professor de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Por isso o YouTube sempre figura como um grande competidor das empresas de streaming, segundo o docente. Marcas consolidadas há mais tempo, porém, tendem a não sofrer grandes impactos.
“As pessoas estão deixando de pagar algumas coisas ou ficam um tempo sem pagar nada e depois buscam [um streaming] quando tem uma série ou um grande filme lançado”, acrescenta o docente.
Isso ajuda a explicar por que empresas como Netflix e Spotify mantêm a sua liderança, como mostra a pesquisa O Melhor da Internet, realizada pelo Datafolha, que ouviu 1.500 pessoas de 18 anos ou mais entre os dias 23 de outubro e 6 de novembro deste ano.
Streaming para filmes e séries – Netflix
Antes baseado em assinaturas, o modelo de negócios da Netflix agora inclui publicidade como importante frente de faturamento. Segundo a empresa, tem dado certo: mais da metade das assinaturas mais recentes são do plano com anúncios, o que corresponde a 70 milhões de usuários mensais ativos ao redor do mundo.
O novo serviço é oferecido a R$ 20,90 mensais no Brasil e substitui a versão básica, que custava R$ 25,90. Lançado há dois anos, o plano está presente em outros 11 países (Alemanha, Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Japão, México e Reino Unido). Pela assinatura mais barata sem anúncios, a empresa cobra R$ 44,90 mensais.
Para Bianca Rosenberg, vice-presidente de marketing da empresa na América Latina, seu sucesso está principalmente relacionado ao tempo que os usuários passam no streaming. Entre os assinantes do plano com anúncios, mais de 70% assistem aos conteúdos da companhia por mais de 10 horas por mês.
O sistema de recomendação da Netflix também contribui para o modelo. “É um argumento de venda da plataforma para os anunciantes a capacidade que ela tem de identificar certos perfis de consumo e direcionar a eles conteúdos e anúncios”, afirma Maíra Bianchini, doutora em comunicação e cultura contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisadora do mercado audiovisual.
O novo modelo, assim como a política que proíbe o compartilhamento de senhas instaurada em maio de 2023, não parece ter impactado a popularidade da empresa entre os brasileiros. Pelo segundo ano consecutivo, a Netflix foi apontada como melhor streaming de séries e filmes na pesquisa Datafolha, com os mesmos 67% de menções.
Segundo a porta-voz, o compartilhamento de contas é um desafio para a empresa porque prejudica a “capacidade de expandir os negócios”. Até agora, segundo Rosenberg, tem havido boa aceitação do recurso de assinante extra, que permite que o titular de um plano convide pessoas de fora de sua residência para acessar o streaming.
Atualmente, a Netflix proíbe o uso regular da plataforma em localizações distintas à definida como a principal por cada assinante. Ou seja, o titular e seus familiares podem acessar uma única conta apenas se morarem na mesma casa.
A força de marca se deve também ao grande volume de produções originais e novidades na plataforma, sempre vinculadas a um marketing efetivo, explica Bianchini. “Aqui no Brasil, ela se associa a agências de publicidade locais muito habilidosas em dialogar, com humor, com o público brasileiro.”
Netflix
67% das menções
Fundação
1997; no Brasil, está desde 2011
Sede
Califórnia; no Brasil, em São Paulo
Usuários
283 milhões
Canais digitais
site, app e redes sociais
Streaming para ouvir música – Spotify
Mais do que apenas disponibilizar um extenso catálogo de álbuns e lançamentos, oferecer os melhores recursos de recomendação de músicas é determinante para o sucesso dos serviços de streaming de áudio.
É esse um dos fatores que explicam, segundo Leonardo De Marchi, da UFRJ, a dianteira do Spotify entre os usuários.
“O verdadeiro negócio dessas empresas não é a distribuição de música, mas o desenvolvimento de inteligência artificial. O Spotify conseguiu desenvolver um sistema de captação e processamento de dados de usuários que interessa a todo o mercado”, diz ele, que é especialista em indústria da música.
A marca foi apontada como o melhor streaming para ouvir música na pesquisa O Melhor da Internet, com 61% das menções.
Exemplos do sistema de sugestões da plataforma são as playlists personalizadas para cada usuário, como as Descobertas da Semana, que incluem lançamentos recentes, e as Daily Mix, que reúnem músicas relacionadas aos artistas já ouvidos. Todas as seleções são feitas com base no histórico de cada conta.
Outro recurso tecnológico ainda em teste no Spotify são as playlists criadas por IA generativa. Lançada neste ano em versão beta nos Estados Unidos, Canadá, Irlanda e Nova Zelândia, a ferramenta permite que os usuários instruam a IA a produzir playlists a partir de um prompt enviado pelo chat, como “uma lista de músicas românticas para um encontro” ou “músicas pop animadas para minhas férias de verão na Europa“.
De acordo com a empresa, a precisão do resultado depende do nível de especificidade do comando enviado, e as playlists de maior sucesso costumam incluir misturas de gêneros, artistas e décadas.
O formato pronto oferecido pela plataforma faz sucesso em meio a duas tendências de consumo, segundo De Marchi: a de escutar música como uma atividade secundária, que acompanha a realização de tarefas ou momentos de deslocamento, e a de usuários conhecerem cada vez menos os nomes das músicas de que gostam.
Spotify
61% das menções
Fundação
2008; no Brasil, está desde 2014
Sede
Estocolmo (Suécia); no Brasil, São Paulo
Usuários
640 milhões de usuários ativos no mundo; 250 milhões de assinantes
Canais digitais
site, app e redes sociais