Os portugueses foram às urnas neste domingo (18) para as eleições gerais, convocadas pela terceira vez nos últimos três anos. Em março, o primeiro-ministro Luís Montenegro se viu em meio a uma crise após a oposição apontar um possível conflito de interesses envolvendo a empresa de consultoria que ele havia fundado em 2021.
Em uma tentativa de dar continuidade ao governo, ele propôs a votação de uma moção de confiança, da qual saiu derrotado, fato que resultou na convocação antecipada das eleições gerais, que deveriam ocorrer apenas em 2028.
Em meio à instabilidade, os partidos se articularam para que um governo de maioria pudesse ser formado. No entanto, pesquisa publicada pela Universidade Católica de Lisboa na quinta-feira (15) indicava que a coligação de centro-direita Aliança Democrática (AD) liderava com 34%, insuficiente para formar maioria parlamentar. Na sequência, o Partido Socialista (PS), de centro-esquerda, apareceu com 26%, seguido pelo Chega, partido de extrema direita com 19%.
Nos mais de 100 mil grupos públicos de Whatsapp e Telegram monitorados em tempo real pela Palver, observou-se a articulação da extrema direita brasileira em torno do Chega e de seu líder, André Ventura, que concorre ao cargo de primeiro-ministro.
Nos grupos observados, tanto brasileiros quanto portugueses, houve uma forte comoção após Ventura ser hospitalizado. Durante um comício na última terça-feira (13), ele bebeu um copo de água e, enquanto iniciava seu discurso, sentiu-se mal e precisou receber atendimento.
Nos grupos de mensageria, uma onda de desinformação se espalhou, principalmente nos grupos bolsonaristas, afirmando que Ventura havia sido envenenado e que precisava de muita oração. O episódio fez com que o líder da extrema direita portuguesa se tornasse ainda mais popular entre os bolsonaristas. Na quinta-feira (15), Ventura foi hospitalizado novamente após se sentir mal no meio de uma passeata, sendo diagnosticado com espasmo esofágico.
Entre as principais pautas do Chega está a questão migratória. Vocalizado pela liderança de André Ventura, o partido defende medidas anti-imigração e faz críticas duras ao número de imigrantes no país e, principalmente, ao pagamento de benefícios sociais.
No monitoramento da Palver, um dos vídeos que viralizou nos grupos portugueses sobre o tema traz uma mulher atacando com ofensas e xingamentos a imprensa portuguesa, que, segundo a autora do vídeo, estaria comparando erroneamente os imigrantes em Portugal com os emigrantes portugueses que vivem no exterior.
Os brasileiros representam uma grande parcela dos imigrantes em Portugal e foram pauta da visita de Lula ao país em fevereiro deste ano, principalmente em decorrência de casos de xenofobia.
No mês passado, uma explosão de memes tratando Portugal como extensão territorial do Brasil tomou conta das redes sociais, irritando os portugueses. Em meio ao turbilhão de mensagens, o país europeu recebeu apelidos como “Guiana Brasileira”, “Pernambuco de pé” e “Rio Grande de Fora”.
A articulação da extrema direita global chama atenção pela convergência de estratégias: ataques sistemáticos à imprensa, defesa do nacionalismo, críticas à globalização e à Agenda 2030. Também se destaca a semelhança nos métodos de comunicação digital e no uso calculado da mídia tradicional para ampliar alcance e engajamento.
No entanto, é interessante observar que, tanto na campanha de André Ventura, quanto na de Donald Trump, nos Estados Unidos, não há um elemento novo, mas uma repetição da mesma fórmula, o que pode ser um prelúdio do que podemos esperar nas eleições presidenciais de 2026 no Brasil.
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