A Blue Origin, de Jeff Bezos, está pronta para o lançamento inaugural de seu gigantesco foguete New Glenn, marcado para o próximo domingo (12). O aguardado voo para a órbita terrestre estabelece um dos maiores desafios até agora para a dominação da indústria desfrutada pela SpaceX, de Elon Musk.
Com 98 metros de altura, o New Glenn tem sido o foco central da empresa desde o início de seu desenvolvimento, há uma década. O veículo representa um esforço de vários bilhões de dólares para satisfazer a demanda por lançamentos de constelações de satélites e conquistar participação de mercado do Falcon 9, da SpaceX.
Se bem-sucedido em sua estreia, o New Glenn poderá posteriormente começar a lançar a constelação de satélites de internet de banda larga da Amazon, Kuiper, que rivalizará com a rede Starlink, da SpaceX, acelerando a competição em outra frente.
A Blue Origin há anos lança e pousa seu foguete New Shepard muito menor e reutilizável na borda da atmosfera da Terra. A empresa ainda não enviou nada para a órbita nos 25 anos desde que Bezos fundou a empresa para ter “milhões de pessoas trabalhando e vivendo no espaço”.
Isso pode mudar, mas com novos foguetes o sucesso não é garantido.
O New Glenn está programado para ser lançado às 3h (de Brasília) de domingo a partir da plataforma de lançamento da empresa em Cabo Canaveral, na Flórida (Estados Unidos), enviando para a órbita seu primeiro satélite Blue Ring —uma espaçonave manobrável projetada para serviços de satélite e missões de segurança nacional no espaço.
Comparado com o Falcon 9 da SpaceX, o foguete mais ativo do mundo, o New Glenn é aproximadamente duas vezes mais poderoso, com um diâmetro de compartimento de carga duas vezes maior para acomodar lotes maiores de satélites. A Blue Origin não divulgou o preço de lançamento do foguete. O do Falcon 9 começa em cerca de US$ 62 milhões (R$ 378 milhões).
O New Glenn, no entanto, não seria tão poderoso quanto o Starship, veículo em desenvolvimento da SpaceX que Musk vê como crucial para expandir a presença da Starlink em órbita. Em seu próximo voo de teste, que pode ocorrer nesta segunda (13), o foguete tentará levar satélites fictícios ao espaço.
Há dezenas de lançamentos e centenas de milhões de dólares na agenda do New Glenn. A Blue Origin fechou acordos de múltiplos lançamentos com a OneWeb, da Eutelsat, a Telesat, do Canadá, e a AST SpaceMobile, empresa de dispositivos de satélites para celulares.
“O New Glenn encontrou um ponto que lhes permitiu obter mais clientes do que qualquer outra pessoa no momento”, disse Caleb Henry, analista de satélites e lançamentos da Quilty Analytics, sobre o potencial da empresa espacial em constelações de satélites.
O Falcon 9, da SpaceX, que iniciou a tendência de reutilização na indústria devido ao seu potencial de economia de custos, fez tentativas iniciais de pouso do primeiro estágio do foguete, retornando-o ao oceano durante o desenvolvimento há uma década, antes de tentar descer em balsas.
O primeiro estágio reutilizável do New Glenn fará sua primeira tentativa de pouso em uma balsa alguns minutos após o lançamento.
O desenvolvimento turbulento do New Glenn abrangeu três CEOs e, por vezes, desacelerou enquanto a Blue Origin assumia outros projetos ambiciosos, como a construção de um módulo de pouso lunar para a Nasa.
À medida que grande parte do mundo ocidental passou a depender da SpaceX para acessar o espaço, Bezos, no final de 2023, buscou sacudir o New Glenn para fora da paralisia de desenvolvimento, substituindo o CEO da Blue Origin por Dave Limp, um vice-presidente da unidade de dispositivos da Amazon, para acelerar as coisas.
Engenheiros da empresa sentiram a urgência vinda de cima, de acordo com vários funcionários. Segundo um deles, a empresa nunca esteve inteiramente focada em um projeto de forma tão agressiva como agora.
O New Glenn também competiria com o menos potente foguete Vulcan, da United Launch Alliance, uma joint venture da Boeing e Lockheed que está planejando uma variante mais forte do Vulcan no futuro.
O lançamento prevista para domingo também é um voo de certificação chave exigido pela Força Espacial dos EUA antes que o New Glenn possa lançar cargas de segurança nacional em missões que espera ganhar em uma competição de aquisição de vários bilhões de dólares prevista para ser concedida ainda neste ano.