As pequenas empresas brasileiras têm grande potencial para inovar e levar soluções sustentáveis para o mercado nacional e global. Mas, para que possam explorar todas as oportunidades disponíveis, precisam de apoio e fomento.
O tema foi discutido nesta quinta (7) durante o seminário Inovação na Indústria, realizado pela Folha, com patrocínio Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), no auditório do jornal, em São Paulo.
“Inovação envolve risco. Você está desenvolvendo algo novo, então a chance de dar errado é muito grande”, diz Igor Nazareth, diretor de Inovação e Relações Institucionais da Embrapii. “O empresário, sozinho, não tem condições de investir em algo que pode dar errado.”
Assim, o diretor ressalta a importância de existirem instituições que possam compartilhar esse risco com o empreendedor, dividindo os custos e dando o suporte necessário para que ele desenvolva a sua tecnologia. No caso dos projetos apoiados pela Embrapii, ele afirma que micro e pequenos empresários pagam entre 10% e 20% do valor investido, enquanto o restante é financiado com recursos não reembolsáveis da entidade e do Sebrae.
Segundo Nazareth, 60% das 1.900 companhias que já contaram com a ajuda da Embrapii são micro e pequenas empresas. Para apresentar o seu projeto, basta o empreendedor procurar uma das 93 unidades da rede, ele orienta.
Foi o que fez, em 2022, Thamires Pontes, fundadora e CEO da startup de biomateriais Phycolabs, que desenvolve fibras têxteis a partir de algas marinhas para substituir tecidos tradicionais. “Agora, estamos indo para 2025 e, muito em breve, a gente vai estar vestindo vocês com algas marinhas“, diz.
Ela explica que os insumos para a produção das peças são retirados da costa brasileira. “A gente está falando da biomassa com maior taxa de crescimento do planeta, ela pode crescer de 6% a 8% por dia. Então, a gente, no contexto da sustentabilidade, tem uma matéria-prima completamente regenerativa.”
A partir da biomassa das algas, a empresa prepara uma formulação e, então, consegue utilizar o mesmo maquinário empregado na produção têxtil convencional. “O próximo passo é que a nossa tecnologia seja escalável e entre na indústria”, afirma.
Paulo Coutinho, pesquisador chefe do Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos, ressalta a necessidade de desenvolver a bioeconomia no país. “É um ponto em que o Brasil tem relevância e que pode realmente assumir um destaque mundial, muito mais do que ele já é hoje.”
Entre os exemplos de empresas da área que trabalham com apoio do instituto, ele cita uma que busca fabricar couro a partir da andiroba (planta amazônica) e outra, da casca da manga. O pesquisador menciona também uma parceria entre companhias com o objetivo de produzir biodefensivos para pragas do milho e da soja a partir de micro-organismos e algas.
Coutinho reforça, no entanto, que é preciso investir mais em pesquisa para explorar todo o potencial brasileiro nesse setor. “A gente não conhece nada da biodiversidade. Pior ainda, a gente não está trabalhando para identificar oportunidades dentro da nossa biodiversidade.”
Fábio Krieger, gerente da unidade de competitividade do Sebrae, destaca que esse tipo de negócio, além de ajudar o meio ambiente, é viável financeiramente para o empresário. “Vai muito além de uma condição sustentável. Ele vai rodar nossa economia verde, que traz recurso e investimento positivo para o empreendedor.”
Ele afirma ser importante valorizar a biodiversidade e os nossos potenciais locais, mas sob a perspectiva de entregar um produto que possa atender às necessidades globais. “Esse é um diferencial que vai poder colocar de fato os produtos dele [do empresário] numa plataforma mundial, com possibilidades de ganho ainda maior.”
Segundo Krieger, para que os pequenos possam de fato inovar, eles precisam conseguir sair um pouco do dia a dia da operação para pensar na concepção estratégica da empresa. O especialista recomenda que o empreendedor reserve pelo menos uma hora por semana para refletir sobre o seu negócio e o setor em que está inserido.
Além disso, ele pontua a importância da colaboração e da atuação em rede. “A gente tem trabalhado muito dentro do conceito de conectar pequenos negócios a grandes negócios, e tem dado resultado extremamente bom”, diz.
“Essa conexão de aproximar e realizar essas pontes é extremamente importante. Então, o meu recado final aqui seria: colaborem, troquem cartões, vamos fazer essas conexões e busquem soluções também externas das suas empresas, busquem ajuda externa.”