Apesar das sacolas, o mês de dezembro carece de presente. É o mês do “entre”: em que se vive do passado e para o futuro. Nessa ponte que liga o antes e depois, não se contrata mais, não se começam novos projetos, não se assumem novos compromissos. O que foi feito até novembro, está feito; o que não, é automaticamente jogado para o próximo ano, como se dezembro fosse apenas um cenário de festas, o hífen da conjunção novembro-janeiro, o mês reservado apenas às retrospectivas e previsões.
Novembro dá o primeiro alerta. As luzes de Natal – que entram em ação cada ano mais cedo – anunciam a aproximação do “game over”. É o primeiro gatilho da Síndrome do Fim do Ano. As pessoas são tomadas pelo “efeito Zeigarnik”, que as leva a se focarem nas tarefas não cumpridas.
No modo multitarefa em que vivemos, esse efeito vem amplificado, porque cada atividade nova que começamos, interrompe o fluxo da anterior. O resultado é uma dívida enorme de pendências. As pessoas correm para todas as direções, afobadas e confusas, sem saber se para fugir do ano que está terminando ou para tentar chegar mais cedo ao ano que se aproxima. Correm pela vida, divididos entre a esperança do futuro e o cansaço do passado.
O tempo é precioso, mas é escorregadio. Projetar o futuro pode ser tão convincente, que nos faz esquecer do presente.
Dezembro é o último capítulo do livro, pode ser o pedaço mais interessante. É fim de festa, a parte mais íntima, em que só fica quem estiver se divertindo. Encerrar o expediente antes da hora é fechar o livro sem saborear as últimas páginas da história.
O ano ainda não terminou, quando 2025 chegar você pode sentir falta do que deixou de fazer nesse finalzinho do ano. Faltam poucos dias, mas muita coisa ainda pode acontecer.
Você pode sentir a alegria de abrir um exame de gravidez positivo – ou o alívio de um resultado negativo. Pode encontrar um ex na fila do supermercado e despejar todo o seu amor represado – ou todo o seu ódio
repesado. Pode encontrar no bolso de um casaco o dinheiro que você nem lembrava mais que tinha perdido – ou perder dinheiro na bolsa (de valores) para nunca mais esquecer de ter perdido. Pode descobrir um novo sabor, um novo medo, um novo prazer, uma nova alegria, uma nova alergia. Pode dar o primeiro beijo em uma boca nova – ou o último beijo em uma boca antiga. Pode até se tornar famoso do dia para a noite por fazer algo relevante – ou algo muito estúpido.
Ainda dá tempo para se matricular na academia, se apaixonar por uma música nova, atualizar sua playlist, ver os primeiros passos do filho, aprender um passo de dança, inventar um prato novo. Dá tempo, também, de fazer diferente: dormir até mais tarde, manter a calma quando a vontade é de xingar, ir ao banheiro sem celular, segurar a língua antes de soltar uma fofoca, arriscar um novo corte de cabelo. Você pode se arrepender, mas terá tentado. Se tiver muita sorte, você pode até ser o ganhador da Mega-sena da Virada, só não espere isso sem jogar.
Os últimos dias do ano podem transformar o seu 2025, depende do que você deixar entrar e, principalmente, do que deixar sair. Ainda dá tempo para treinar generosidade, é com pouco que se muda muito. Um sorriso, uma conversa, uma visita, um obrigado, um elogio podem valer milhões.
A virada pode acontecer em qualquer esquina, não precisa esperar a virada do ano.
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