“Os radiologistas estão muito confortáveis com cães, gatos, cavalos, vacas”, disse afirmou Michael Adkesson, presidente do Zoológico Brookfield em Chicago, nos Estados Unidos. Mas peça a eles para olhar para dentro de um rinoceronte-negro, de mil quilos, e eles podem rapidamente se ver em território desconhecido.
Em 2018, depois que um dos rinocerontes do zoológico desenvolveu problemas respiratórios difíceis de diagnosticar, Adkesson e seus colegas conseguiram fazer uma tomografia computadorizada da cabeça do animal —e então se viram perguntando como a cabeça de um rinoceronte deveria ser por dentro.
“Muitas vezes simplesmente não temos bons dados de referência disponíveis sobre animais de zoológico e vida selvagem”, afirmou ele.
Num esforço para resolver esse problema, Adkesson e seus colegas construíram o Banco de Dados de Radiologia de Zoológicos e Aquários, que foi revelado em agosto deste ano.
O banco de dados online, uma colaboração entre sete instituições zoológicas, contém mais de mil imagens de raios-X e tomografias computadorizadas de 50 espécies diferentes, incluindo o papa-léguas, o saguim-cabeça-de-algodão e a raia-tubarão. O objetivo é ter mais de 10 mil imagens de 500 espécies até 2026.
Muitas das imagens no banco de dados, que retratam animais saudáveis e foram revisadas por radiologistas certificados, foram produzidas no decorrer da prestação de cuidados de rotina para os habitantes do zoológico.
Mas não há nada de rotineiro em imagens de animais raros e exóticos, que podem exigir o deslocamento de rinocerontes anestesiados com carregadeiras frontais, persuadir girafas a apresentar suas patas e apoiar peixes em esponjas molhadas.
“Se você tem um balde e consegue manter uma arraia em um pequeno banho de água, você pode imaginar o balde inteiro com a arraia dentro”, disse Eric Hostnik, radiologista veterinário na Universidade Estadual de Ohio e o principal radiologista do projeto. “Você ainda obterá ótimas imagens.”
A equipe espera que os veterinários de zoológicos incorporem o banco de dados em sua prática diária, consultando as imagens de referência quando encontrarem algo estranho em uma tomografia computadorizada de uma cobra, ou se depararem com a dúvida sobre por que um pangolim parece abatido.
“Seu veterinário-geral pode abrir vários livros didáticos e procurar informações sobre gatos e cachorros”, disse Hostnik. “O mesmo não é tão verdadeiro para nossos veterinários de zoológicos.”
Também pode ser um recurso para biólogos de campo estudando populações vulneráveis na natureza, segundo Adkesson, ou até mesmo fornecer novas perspectivas sobre a biologia básica de espécies pouco estudadas.
E até para não especialistas as imagens expõem a surpreendente diversidade de corpos de animais que evoluíram na Terra.
As estrelas-do-mar não têm espinhas dorsais, enquanto as cobras são quase todas só espinha. O esqueleto de uma arraia é feito inteiramente de cartilagem. Tamanduás e pangolins, que engolem insetos com suas línguas compridas, estão entre os poucos mamíferos sem dentes —a língua de um pangolim, e o osso ao qual está presa, se estende pelo seu peito.
“A beleza de parte dessa anatomia é tão marcante”, afirmou Adkesson. Nem sempre é fácil para o público apreciar, ele acrescentou, “até começar a olhar para um esqueleto.”