A nova prefeita de Balneário Camboriú (SC), Juliana Pavan (PSD), disse que vai buscar soluções para os principais problemas da cidade através de parcerias com a administração da vizinha Camboriú. Não deve ter dificuldade: o município é governado por Leonel Pavan, pai de Juliana e ex-prefeito da famosa BC.
Juliana se refere, por exemplo, aos congestionamentos constantes do trânsito e da balneabilidade ruim na praia Central, cuja orla com seus altíssimos prédios de luxo é o símbolo da cidade do litoral norte de Santa Catarina. Embalada pelo hit “Descer para BC”, a cidade atraiu 1 milhão de pessoas no último Réveillon, segundo a prefeitura.
“Eu adoro a música, principalmente porque traduz exatamente o que a nossa cidade é: sol, mar, alegria e diversão”, diz, sobre a música da dupla Brenno & Matheus.
Alargada há três anos, a praia Central de Balneário apresentou leve melhora na qualidade da água de 2023 para 2024. Mas, dos 10 pontos analisados, 7 passaram de situação péssima para ruim, enquanto os demais continuaram com qualidade da água péssima, de acordo com dados do IMA (Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina), ligado ao governo estadual.
“As gestões anteriores de Camboriú cometeram crime ambiental com despejo de esgoto in natura no rio Camboriú, que abastece Balneário”, critica Juliana, que até o ano passado tinha assento na Câmara de Vereadores. “Cobrei muito enquanto vereadora e agora acabamos herdando esta situação negativa”, disse ela, em entrevista à Folha na última quinta-feira (9).
O esgoto da cidade vizinha, contudo, não leva a culpa sozinha. Embora Balneário Camboriú tenha 98% das casas ligadas à rede de esgoto, o tratamento não é considerado eficiente, o que também afeta a balneabilidade das praias.
A prefeita disse que uma primeira medida foi trocar a gestão da Emasa (Empresa Municipal de Água e Saneamento de Balneário Camboriú), responsável pelas estações de tratamento.
“A Emasa é superavitária, mas, nos últimos anos, não houve investimento”, disse ela.
Problemas na mobilidade, como o congestionamento habitual de carros nas ruas, também pedem uma solução regional, segundo ela.
Além de terminar obras que ela considera fundamentais para o trânsito local, como a da avenida Martin Luther e a da avenida Ecoparque, a prefeita quer ampliar o número de acessos entre Camboriú e Balneário Camboriú.
“Só existem três hoje”, disse ela, ao lembrar que, em média, quase 40 mil moradores de Camboriú seguem diariamente para Balneário, a trabalho.
A gestora acrescenta que, além das obras viárias, a ideia é pensar em um transporte público intermunicipal, facilitando o deslocamento dos trabalhadores.
Em Balneário, o usuário do transporte público não paga tarifa, mas há reclamações sobre a baixa quantidade de veículos e de linhas oferecidas. A prefeita afirmou que, dentro de 90 dias, a ideia é fazer uma nova licitação, prevendo ampliação da rede, “para atender toda a cidade”.
Juliana também disse que a tarifa “continuará zero” para o usuário, mas antecipou que vai estudar alternativas para reduzir o valor do subsídio ao transporte. Mencionou a possibilidade de exploração de publicidade nos veículos e pontos de ônibus.
Outra medida que ela considera urgente é a questão da população em situação de rua. Ela afirmou que o governo anterior não apresentou um levantamento sobre quantas pessoas estão vivendo nas ruas e que pretende adotar algo semelhante ao que foi feito em Chapecó (SC).
“Existe um trabalho surpreendente de abordagem social e recuperação em Chapecó, o programa Mão Amiga, que é uma integração com forças de segurança, saúde, Ministério Público”, disse ela.
O programa em Chapecó, contudo, prevê internação involuntária de dependentes químicos que vivem nas ruas, o que é fortemente criticado por entidades e defensorias públicas, que apontam “higienização social” e violação à Constituição Federal.
A Folha questionou se a prefeita adotaria a internação involuntária em Balneário. “Vamos ver ainda o que pode e o que não pode [legalmente], mas certamente teremos uma política pública mais assertiva”, respondeu.
“O que não pode é fechar os olhos e dizer que não tem solução. O poder público precisa fazer a sua parte”, continuou.
Embora Juliana seja do grupo de oposição ao prefeito anterior —Fabrício Oliveira (PL), que não conseguiu fazer seu sucessor—, ela se apresenta como alguém também do campo político da direita.
Sozinho, o PL elegeu a maior bancada da Câmara, com seis vereadores de um total de 19 assentos. O mais votado foi Jair Renan (PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Já a coligação de Juliana, formada por oito partidos, abocanhou sete cadeiras. “Vamos trabalhar com respeito e sem imposição. A bandeira de Balneário Camboriú deve estar acima de tudo”, disse ela.