Uma área de cerca de 600 mil metros quadrados perto da praia mais preservada de Balneário Camboriú (a 85 km de Florianópolis), em Santa Catarina, foi arrematada em um leilão por uma empresa local, a Biopark Gestão Sustentável.
Os terrenos em questão ficam próximos da praia de Taquarinhas, um refúgio natural deserto em meio aos arranha-céus que se proliferam pela cidade.
O leilão foi finalizado em novembro pela Caixa Econômica Federal, detentora da área, e é criticado por uma parte da comunidade local. A Caixa não respondeu aos questionamentos da Folha até a publicação deste texto.
O empresário Marcos Gracher, dono da Biopark, afirma que respeita as opiniões contrárias ao leilão e que está aberto a sugestões para o uso dos terrenos. “Eu não comprei a praia. Comprei alguns terrenos. A praia continua sendo pública”, diz.
Segundo o empresário, ainda não está definido o que será feito no espaço arrematado, mas uma ideia em estudo é a instalação de um parque de conservação ou observação de aves. Ele pretende viajar em 2025 para conhecer iniciativas do tipo.
Gracher cita como possível inspiração o Parque das Aves, que fica perto das Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR). O empreendimento paranaense se apresenta como um espaço focado na conservação de animais da mata atlântica.
“Não tenho pressa em fazer o parque. A ideia é que seja de qualidade. Não vai sair nada por enquanto. Nem tomei posse ainda”, diz o empresário.
A preservação da praia de Taquarinhas é associada ao fato de que a região integra a APA (Área de Proteção Ambiental) Costa Brava. A classificação restringe atividades no local.
“Qualquer projeto para a área deve atender exclusivamente finalidades ambientais”, declara a Prefeitura de Balneário Camboriú.
Entre as finalidades citadas pelo município estão educação ambiental, pesquisa científica e turismo ecológico.
“Esses projetos precisam obrigatoriamente ser submetidos a audiência pública e aprovados pelo Conselho Gestor da APA, garantindo que estejam alinhados à legislação vigente e aos princípios da preservação ambiental. O uso direto dos recursos naturais e a ocupação humana permanente na área são proibidos”, afirma a prefeitura.
Gracher diz que a área adquirida possui vegetação nativa e é composta em boa parte por morros. “O parque teria de ser desenvolvido em uma área assim. Não se pode botar um parque de aves no centro da cidade, com barulho, carro e tal. Os pássaros estariam estressados. Precisam de uma área na natureza.”
O tema chegou até a Alesc (Assembleia Legislativa de Santa Catarina). Na terça (10), a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável promoveu uma reunião com parlamentares e representantes locais.
O presidente da comissão, deputado Marquito (PSOL), disse que a venda em Taquarinhas causou surpresa.
“Taquarinhas não precisa de intervenção, porque já é um parque natural completo. Sua biodiversidade e beleza não demandam grandes estruturas, mas sim preservação integral e respeito às leis ambientais”, disse o parlamentar em postagem nas redes sociais.
“Transformar essa área em um empreendimento turístico pode beneficiar poucos à custa de um patrimônio ambiental que é de todos”, acrescentou.
Conforme a publicação, uma audiência pública será realizada no próximo ano para ouvir a população de Balneário Camboriú.
A Biopark foi criada em outubro. Gracher é um empresário local do ramo de academias e também atua no mercado imobiliário. Ele se apresenta como uma pessoa que gosta de aves e natureza.
“Não vai ser a instalação de um parque de aves que vai degradar a área, até porque vai usar uma área ínfima. Respeito a opinião das pessoas contrárias, mas entendo que dá para integrar iniciativa privada e preservação”, afirma.
Na visão da Prefeitura de Balneário Camboriú, o leilão não coloca em risco a preservação ambiental da praia de Taquarinhas, porque o local está protegido por “legislações ambientais rigorosas”.
“Esses instrumentos garantem que qualquer intervenção no local seja limitada a atividades voltadas à preservação ambiental e submetida a controle público e institucional”, diz o município.
A prefeitura também afirma que está comprometida com a proteção e o respeito às normas ambientais.
“É importante reforçar que a faixa de areia da praia de Taquarinhas é um bem público, de acesso livre a todos, conforme determina a Constituição Federal.”