A Obsidian entregou um action RPG com fraca componente técnica, no qual não faz nada de exatamente novo ou épico, mas a sua jogabilidade de combate é empolgante e a história interessante o suficiente para entregar um jogo divertido.
Avowed chega mais de 5 anos após o anterior grande épico da Obsidian Entertainment, The Outer Worlds, o primeiro produzido como parte da Microsoft Gaming. Apesar de decorrer no mundo de Pillars of Eternity, Avowed é um action RPG na primeira pessoa (podes jogá-lo na terceira pessoa), que está mais próximo de Outer Worlds, mas num ambiente de fantasia medieval. Basicamente, tenta apresentar ao mundo um novo The Elder Scrolls enquanto a Bethesda não o faz.
Avowed está longe de ser um épico como os títulos da Bethesda, mas é muito divertido, mesmo com todos os erros e “jank” que a própria Obsidian já disse que devias esperar deste seu esforço. Para muitos, isto é parte do charme, é algo esperado e que faz parte do ADN da Obsidian, mas a verdade é que empurra-o para longe do estatuto de um épico. Não exibe, pelo menos nas consolas, um nível de qualidade que esperas de um AAA da maior editora da atualidade na indústria dos videojogos, mas não há como negar que é divertido e faz muita coisa bem feita.
Como um action RPG de fantasia medieval, pensado para ser jogado na primeira pessoa, Avowed é sem dúvida uma bela forma de passar o tempo enquanto não recebemos um novo The Elder Scrolls, relembrando os tempos que passamos a jogar Oblivion ou até Skyrim. Mesmo muito distante da epicidade desses títulos, é como um primo afastado, que vibra com muito do que trouxe sucesso para esses esforços.
Narrativa interessante na qual tens impacto no decorrer dos eventos
Avowed ostenta o ADN da Obsidian em todos os seus elementos, algo perceptível na forma como podes ter impacto no mundo e na narrativa principal. Suficientemente intrigante para te manter atento, a narrativa central parece ter como base questões políticas, sociais, ecológicas e climáticas, mas num ambiente de fantasia. Em Avowed, és enviado pelo Imperador para descobrir o que se passa nas Living Lands, uma região que foi invadida, mas enfrenta um perigo pior, uma corrosão que transforma pessoas e animais numa espécie de zombies violentos.
A corrosão de fauna e flora em locais exóticos aponta-te para questões bem pertinentes na vida real, mesmo que este seja um jogo de fantasia medieval, mas existe suficiente trama política e social bem ao estilo do que esperas em jogos com reis, imperadores, exércitos invasores e constantes questões sobre o que é realmente certo e errado. Algo que realmente é satisfatório é perceber que as tuas escolhas têm impacto em partes da narrativa principal e missões secundárias.
Avowed está estruturado em 4 áreas diferentes, cada uma de escala média nas quais tens várias missões principais, secundárias e caçadas. A necessidade de obter armas e equipamento de raridade superior é o principal incentivo a divagar da linha principal, mas Avowed é o tipo de jogo que te incentiva a explorar todos os cantos, pois os recursos e dinheiro chegam a conta gotas. Isto também te permite sentir alguns dos efeitos das tuas escolhas.
Eu optei por escolher sempre a vida quando tal me fosse questionado, sempre que fiquei perante a decisão de matar alguém ou deixar viver, deixei viver. A Obsidian desenhou Avowed para que sintas o impacto da tua escolha e encontrarás algumas personagens em áreas futuras ou participarás em diálogos nos quais isso é comentado. O impacto na narrativa principal também se faz sentir através da ramificação de diálogos, se és bem visto por algumas personagens ou até para ganhar algumas habilidades. É claramente um jogo Obsidian e os seus fãs sabem o que esperar.
Combate muito divertido e sem restrições
Um dos elementos mais divertidos, aquele que realmente te conquista e faz jogar até ao fim, é a jogabilidade de combate. Avowed é um jogo com um bom nível de desafio, envolto numa enorme acessibilidade e simplicidade na forma como a Obsidian desconstrói o que pareciam ser padrões nos RPGs de ação, especialmente entre estúdios ocidentais.
Avowed não te coloca restrições como associar armas a uma classe específica, nem sequer feitiços. Podes escolher entre 3 classes diferentes, podes criar uma personagem focada no uso de magia ou na força dos seus golpes com espadas, sabendo que poderás usar feitiços ao mesmo tempo que tens uma arma equipada. Podes usar pistolas e livro de feitiços, até podes aprender feitiços para usar quando quiseres, mesmo sem livro ou varinha, para criar uma build bem ao teu gosto.
Os momentos a combater foram os mais divertidos nesta experiência com Avowed, especialmente após aprender a dominar o básico. As várias boss fights exigem bons reflexos, tal como as caçadas, mas podes criar uma personagem multifacetada que se adapta ao teu estilo de jogo. Podes usar uma espada ou livro de feitiços e escudo para travar os golpes adversários, mas também podes usar a magia que invoca um escudo protetor que te ajuda a reduzir o dano sofrido. Além disso, tens 4 aliados com os seus feitiços e habilidades que podes ativar e melhorar para formar uma equipa cujas capacidades vão ao encontro do teu estilo de jogo.
Cada feitiço tem três patamares e ao desbloquear cada um, terás mais formas de personalizar o teu combate. Quando percebi que podia aprender os feitiços desejados, como o escudo, para usar sem livro, comecei a usar uma espada de duas mãos que queimava inimigos até metade da vida e depois os começava a congelar. Através do menu rápido usava o feitiço do escudo e combatia a desviar-me dos inimigos. Isto exige mais dos teus reflexos e tens de estar constantemente a avaliar a barra de vigor para não ficar sem fôlego, mas é muito divertido.
A personagem que tinha no final de Avowed era muito diferente da que tinha no início, foi mudando imenso ao longo do jogo, especialmente porque podes usar qualquer arma e adquirir qualquer habilidade de qualquer classe, o que torna Avowed muito divertido. Algo que tens de ter em conta é a raridade das armas, pois ao passar entre áreas o nível de poder dos inimigos sobe e tens de adquirir armas de raridade superior, mesmo que o seu poder seja inferior ao das que tens. Uma arma de raridade superior com dano inferior tira mais vida mais rapidamente a um inimigo dessa raridade. É algo ao qual deves ter muita atenção pois a XP que ganhas é pouca, subir de nível para adquirir mais habilidades é conquistado a pulso, e deves escolher entre vender armas ou equipamento para comprar outras de raridade superior ou evoluir a raridade das que tens com recursos que recolhes.
Tendo em conta que nas masmorras apanhas armas com perks muito bons, é recomendado melhorar a raridade dessas armas, o que também aumenta o poder, mas também podes comprar boas armaduras de raridade superior em algumas lojas.
Qualidade técnica que deixa a desejar
Ao longo das quase 40 horas necessárias para terminar Avowed pela primeira vez, com cerca de 80% do conteúdo opcional concluído, o trabalho da Obsidian deixou sempre a desejar em praticamente tudo o que está relacionado com a componente visual. As fracas animações, especialmente perceptível quando jogas na terceira pessoa ou nas conversas (até nas da linha narrativa principal), vão fazer-te questionar se estás a jogar um jogo de 2025 lançado pela maior editora da atualidade, mas é a qualidade da imagem que realmente desilude.
Jogado numa Xbox Series X, podes optar por três modos diferentes, mas nenhum deles é especialmente convincente, seja pelo nível de desempenho (especialmente importante se jogares na primeira pessoa) ou pela qualidade da imagem. O modo qualidade mostra-te como Avowed poderá ser jogado com boa qualidade gráfica, com uma imagem nítida e melhores texturas, mas o desempenho a 30fps não convence. Jogar o modo desempenho com alvo a 60fps numa Series X melhora imenso a jogabilidade, mas a qualidade de imagem sofre imenso. É um caso no qual ficas a desejar a qualidade gráfica do modo Qualidade com o desempenho do modo Desempenho.
A qualidade das texturas desce, por vezes existem momentos gráficos muito básicos e datados, mas o problema nem está aí, está na falta de nitidez da imagem e nos artefactos visuais que tornam difícil jogar Avowed durante muitas horas seguidas. Juntas a isto a qualidade fraca das animações e facilmente dás por ti a pensar que Avowed parece um jogo estranhamente datado na vertente técnica.
Além disso, existem ocasionais erros que podem testar a tua paciência. Não são abundantes, mas enfrentei erros ao redimir objetos após abater caçadas, o que me impediu de obter a recompensa, encontrei problemas ao iniciar diálogos e na masmorra final derrotei um mini-boss cujo loot desapareceu praticamente assim que apareceu. Tendo em conta que entre o loot estava o item que permite seguir para a área final da masmorra, passei mais de uma hora a explorar soluções para isto. Tive de viajar para outras partes da masmorra, percorrê-la várias vezes na esperança que o mini-boss voltasse, o que acabou por acontecer.
Por outro lado, a inteligência artificial em Avowed não é a melhor, sejam os teus aliados ou adversários. São frequentes os momentos em que os teus aliados não fazem nada, irritante em lutas mais difíceis, outras vezes os aliados e inimigos podem ficar lado a lado sem fazer nada, e existem limites para o espaço que os inimigos podem percorrer. Isto significa que, muitas vezes, temos aqueles momentos engraçados em que nos afastamos a uma certa distância do ponto onde o combate começa e eles deixam de nos perseguir, começam a recuar e param de atacar, o que nos permite atacar sem resposta. É quase uma batota, certamente propositada por parte da Obsidian, que podes explorar até com caçadas e alguns bosses.
Conclusão
Avowed é um jogo que te poderá fazer questionar se é verdade que foi produzido por um estúdio que pertence a uma das maiores editoras da atualidade. A qualidade de imagem é má, as animações pobres, o desempenho inconstante, e não faz nada de propriamente novo. No entanto, o sistema de combate sem restrições de classes, que te permite usar uma espada numa mão e um livro de feitiços noutra, a narrativa, o nível de desafio e a simplicidade do design no geral resultam a seu favor. Não é um jogo memorável, mas é um jogo que vais gostar de jogar. Por vezes, mesmo que dês por ti a revirar os olhos em vários momentos, basta o jogo divertir.
Prós: | Contras: |
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