Uma experiência marcada por momentos contrastantes, principalmente pela desconexão entre a narrativa e a capacidade de envolver emocionalmente o jogador. A qualidade dos momentos cinematográficos é um dos principais pontos negativos, que afecta de forma significativa a imersão e a ligação à história.
Avatar: Frontiers of Pandora representa a mais recente investida da Ubisoft no género de jogos de mundo aberto, território familiar para esta editora que já deixou a sua marca com séries emblemáticas como Far Cry e Assassin’s Creed. Esta nova aposta é o reflexo da experiência consolidada, adquirida ao longo de anos de desenvolvimento de títulos reconhecidos. Ao obter a licença oficial de Avatar, a Ubisoft teve a oportunidade de aplicar todo este conhecimento num universo exuberante e cativante.
Com uma equipa de produção especializada, a Ubisoft está habituada a lidar com projetos deste calibre. O contexto de Avatar oferece um terreno fértil para explorar e expandir, com a oportunidade de criar um vasto mundo repleto de narrativas complexas e visuais deslumbrantes. A sua experiência no desenvolvimento de jogos de mundo aberto alinha-se bem com as exigências deste tipo de projeto, o que lhes permitiu explorar o potencial do universo Avatar.
Narrativa despida de surpresas
No entanto, a saturação e a falta de novidade têm sido problemas crescentes nas franquias estabelecidas, o que tem levado a um enfraquecimento do interesse por estes títulos. Os lançamentos frequentes resultam muitas vezes em fórmulas gastas e numa falta de genuína inovação. Esta procura de segurança e familiaridade pode limitar a ousadia e a criatividade, deixando de lado o potencial para algo verdadeiramente novo. Embora Avatar: Frontiers of Pandora possa ser afetado por esta dinâmica, ainda consegue surpreender ao aplicar habilmente conceitos familiares a este incrível universo de Pandora, e oferecer um vislumbre de frescura dentro das restrições do que é familiar.
Encarnando o papel de um Na’vi, a ação decorre dentro da cronologia dos filmes, embora explore um continente diferente do apresentado no cinema. A colaboração de Disney, Lightstorm e a equipa de produção permitiu um acesso privilegiado aos bastidores dos filmes e aos seus materiais, o que possibilitou a criação da narrativa e do vasto mundo de Pandora. Este apoio fundamental contribuiu para a riqueza dos pormenores apresentados, dando azo a uma experiência intensa no universo criado por James Cameron.
Trata-se de uma narrativa de aventura, heroísmo, conflito e superação, mas vou evitar pormenores, uma vez que cada elemento tornar-se-ia num spoiler para aqueles que estão prestes a jogar e preferem manter a surpresa. A parte inicial da história é familiar e desilude na sua estrutura. Temos, claro, um vilão clássico com um ódio explícito aos Na’vi, onde é que já se viu isso? Estava à espera de mais, sobretudo em das cinemáticas, algo na linha dos filmes ou mesmo das de Far Cry, mas a opção foi apresentar tudo em tempo real, através do motor de jogo. Esta escolha, dada a magnitude do mundo de Pandora e a qualidade dos filmes, pareceu-me um pouco deslocada desde o início.
Sempre que procuro mergulhar de alma e coração numa narrativa, é essencial que o estúdio me persuada de tal objetivo. Para isso, são necessários excertos em vídeo que despertem emoções genuínas, mas, infelizmente, a experiência foi marcada por situações de embaraço. Diálogos vazios e expressões faciais desprovidas de emoção deixaram-me profundamente desiludido. Esta falta de ligação emocional prejudicou a minha imersão ao ponto de, após as primeiras horas de jogo, ter perdido o interesse em continuar. Um exemplo disto é a missão que introduz o Ikran, um momento que deveria ser icónico e emocionalmente poderoso, mas que, comparado com o que vimos no primeiro filme, foi apresentado de uma forma extremamente pobre e estéril, o que me levou a sentir-me incomodado com a falta de qualidade na apresentação de um momento tão marcante.
Jogabilidade acaba por conquistar
No decorrer da aventura, acabei por ser gradualmente conquistado, especialmente pela beleza dos cenários e as ligações entre os vários clãs. Há uma autenticidade palpável na ligação com Pandora, visível em cada ação dos Na’vi e na sua interação com a biosfera do planeta. O cuidado com os costumes é evidente, seja nas músicas, nos rituais ou, acima de tudo, no profundo respeito pela natureza.
Gostaria de salientar que o que salva Avatar: Frontiers of Pandora é, sem dúvida, Pandora em si, a sua biosfera exuberante e as mecânicas de jogo bem implementadas. Os visuais deslumbrantes e a jogabilidade conseguem evitar que seja um desaire completo. As missões são vazias e desprovidas de paixão, muitas delas não têm um propósito claro, com objetivos simplistas e pouco apelativos. Só me lembro de três missões principais, o que é pouco para uma experiência de jogo deste género. O padrão repete-se: derrotar inimigos aqui, verificar uma estação ali, destruir uma base noutro local para reduzir a poluição em Pandora. É uma fórmula já vista noutros jogos, transportada para este novo cenário, cuja execução acaba por se tornar aborrecida.
É importante abordar a questão dos inimigos humanos, que, em termos de variedade, são limitados, o que é compreensível. Encontramos mechs, soldados e helicópteros, elementos muito semelhantes aos dos filmes. Curiosamente, não há veículos de quatro rodas em circulação, que parecem estar todos estranhamente sem gasolina. Mas voltando aos inimigos, a lógica é algo estranha. Os mechs, por exemplo, causam menos danos do que os soldados com as suas simples metralhadoras. É uma situação esquisita, em que os confrontos com os mechs são desafiantes, mas um único soldado pode derreter a nossa energia num piscar de olhos ao avistar-nos. Algo parece estar desequilibrado nesta dinâmica, isso é certo.
A recriação de Pandora é extremamente bem conseguida, com todo o encanto que poderíamos esperar. À medida que atravessamos o território a pé, embrenhados na vegetação luxuriante, somos brindados com momentos de pura beleza – uma encantadora mistura de cores e luz. A diversidade de ambientes é assinalável, com biomas distintos, cada um com a sua própria vegetação e vida selvagem. Os gráficos de Avatar: Frontiers of Pandora são, sem dúvida, um dos pontos mais fortes do jogo. No entanto, a qualidade visual sofre uma queda abrupta quando voamos pelos céus com o nosso Ikran. Nestes momentos, a qualidade não corresponde ao deslumbramento experimentado no solo, cumprindo apenas com os requisitos mínimos esperados.
A esplendorosa beleza de Pandora
Os biomas em Avatar: Frontiers of Pandora apresentam uma grande biodiversidade, com uma variedade exuberante de vegetação, cada uma com o seu próprio propósito. Embora algumas plantas possam ser nocivas, a maioria é útil, pois permite a criação de armas e buffs sob a forma de comida. Neste aspeto, a equipa de produção merece elogios; a organização económica é equilibrada, sem problemas aparentes. Torna-se necessário estudar cuidadosamente as armas, os fatos e as respetivas modificações. Em níveis de dificuldade mais elevados, é crucial compreender as nuances dos confrontos e selecionar armas, vestimentas e modificações específicas para lidar com as especificidades de cada desafio.
O arsenal em Avatar: Frontiers of Pandora é diversificado, com ênfase nas armas dos Na’vi, que incluem arcos e uma variante de lançadores. Para além disso, existem armas de fogo humanas, como uma caçadeira e uma metralhadora, bem como gadgets úteis. Esta fusão de armas oferece uma gama interessante de opções para enfrentar os obstáculos e, quando se dominam todos os pormenores, a respetiva utilização torna-se numa experiência agradável.
O sistema de movimentação do personagem em Avatar: Frontiers of Pandora foi uma agradável surpresa ao longo da experiência, inicialmente não parecia muito intuitiva ou ágil, mas à medida que se adquirem habilidades e novas formas de interação, o ritmo e a diversão aumentam exponencialmente. O parkour em Pandora revela-se inesperadamente cativante, proporciona uma experiência dinâmica e envolvente na perspetiva em primeira pessoa. A inspiração em títulos como Far Cry é evidente, e isso funciona a seu favor, garante uma jogabilidade fluida.
As mecânicas de jogo em Avatar: Frontiers of Pandora centram-se no movimento ágil, seja a pé ou com o Ikran pelos céus. A parte que envolve o Direhorse, por outro lado, deixa muito a desejar e é quase irrelevante. Na verdade, não temos inovações surpreendentes, assemelha-se um pouco a títulos como Horizon da Guerrilla Games, com a necessidade da recolha de ingredientes específicos para o processo de fabricação. Caçar animais requer que se atinja pontos críticos que influenciam a qualidade do que se obtém, enquanto a recolha de plantas requer um certo cuidado com base na hora do dia e nas condições climatéricas. Esta combinação de exigências pode ser algo entediante, mas ao mesmo tempo acrescenta um toque extra aos mecanismos tradicionais, ao integrá-los na biodiversidade única que é a de Pandora.
Todas estas possibilidades de jogo são complementadas por habilidades divididas em dois parâmetros distintos. Por um lado, temos as habilidades ligadas à conexão dos Na’vis a Pandora, encontradas em locais específicos e muitas vezes escondidas, que exigem uma exploração minuciosa do terreno para as encontrar. Por outro lado, temos as habilidades consideradas comuns, desbloqueadas através de pontos adquiridos, que oferecem benefícios gerais ao personagem quando combinadas com armas e armaduras específicas.
Ao estilo típico da Ubisoft, Avatar: Frontiers of Pandora oferece uma série de atividades secundárias que complementam a narrativa principal. É uma caraterística comum nos jogos da editora e, neste contexto, é bem-vinda, tendo em conta a vastidão do mapa e a riqueza do ecossistema meticulosamente criado. No entanto, é dececionante ver a repetição excessiva destas missões, que muitas vezes se resumem a tarefas idênticas em diferentes partes do mapa. Libertar zonas da poluição, salvar animais ou destruir bases são exemplos recorrentes, o que se torna uma fórmula previsível e algo monótona.
Em termos de desempenho, especialmente na versão para PC, que foi a que joguei, Avatar: Frontiers of Pandora destaca-se pelo seu equilíbrio. Grande parte deste mérito deve-se às opções de redimensionamento de imagem oferecidas, como o DLSS da NVIDIA ou o FSR da AMD. Além disso, a presença da geração de fotogramas da AMD revelou-se importante, pois a latência é consideravelmente mínima. A qualidade da implementação desta tecnologia da AMD é digna de nota, e pode ser considerada uma das melhores neste contexto recente.
Tinha tudo o que precisava para brilhar
É um mundo deslumbrante, mas infelizmente a sua beleza é ofuscada por uma narrativa mal contada, cheia de missões banais e pouco inspiradas. Muitas vezes damos por nós a realizar tarefas sem compreender a sua relevância para o enredo, deixando-nos alheios aos acontecimentos. As cinemáticas, de qualidade duvidosa, também não dão um suporte coerente à história. Apesar destes obstáculos, uma vez aprendidas as mecânicas, Avatar proporciona uma experiência agradável e repleta de possibilidades no vasto mundo de Pandora.
Esta foi uma viagem cheia de altos e baixos enquanto explorava Avatar: Frontiers of Pandora. De início, a experiência mostrou-se desanimadora com uma entrada desconcertante, mas ao longo do percurso foi-se revelando divertida, tendo-me conquistado com a exuberância visual dos cenários, as mecânicas de jogo e a liberdade de movimentação pelo mapa. No entanto, a desilusão acabou por se fazer sentir na parte final, com um final mal construído, especialmente devido à fraca qualidade das cenas cinematográficas, algo que deveria estar a um nível mais elevado para uma franquia tão reputada.
Prós: | Contras: |
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