A investigação do ataque que deixou dois mortos no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, aponta que os criminosos teriam recebido um sinal de dentro do saguão para saber o momento exato para agir.
“A ação levou sete segundos. Foi planejada, ensaiada e sincronizada com o sinal de alguém dentro do saguão”, disse a delegada Ivalda Aleixo, titular do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Imagens das câmeras de segurança do aeroporto mostram o Volkswagen Gol preto passando em frente à área de embarque três vezes antes de parar atrás de um ônibus da GCM (Guarda Civil Metropolitana). Ou seja, os criminosos deram voltas ao redor do estacionamento do aeroporto antes de aguardar pela saída de Antônio Vinícius Gritzbach, 38, o alvo do ataque.
O carro deu ré e se preparou para sair, avançando devagar até o momento em que conseguiriam pegar Gritzbach de frente, na calçada que separa as duas pistas na área de desembarque do Terminal 2.
“Quando recebe o sinal, vai bem devagar e passa pelo ônibus da GCM, e então consegue pegar o Vinícius”, disse Ivalda. Para confirmar que o carro deu voltas ao redor do estacionamento e sincronizou a ação com um sinal, a equipe do DHPP analisou imagens tanto da pista que dá acesso à área de desembarque e quanto da plataforma. “Alguém dá o sinal na saída do Vinícius.”
Nesse momento, Gritzbach estava atravessando o portão do Terminal 2 acompanhado da namorada, Maria Helena Antunes, e um policial militar que fazia sua escolta e estava armado.
A conclusão aponta para a participação de mais uma pessoa no ataque além dos criminosos no carro. A defesa de Gritzbach já especulou, por exemplo, que pudesse haver alguém o seguindo no voo ou que poderia haver algum tipo de geolocalização na caixa de joias que ele levava na bagagem.
Gritzbach recebeu a caixa, com joias avaliadas em R$ 1 milhão, durante a viagem a Maceió da qual retornava quando foi morto.
O ataque completou nesta sexta-feira (15) uma semana sem nenhum suspeito preso.
Policiais militares e civis foram afastados de suas funções, seja por cometer infração disciplinar ao integrar a escolta particular do empresário Antônio Vinícius Gritzbach, 38, que era o alvo do ataque, ou por terem sido delatados por ele.
Até esta sexta, a polícia dizia que não havia identificado os criminosos que executaram o crime. Nesta parte do inquérito, por enquanto a polícia já conseguiu encontrar o carro usado pelos assassinos e confirmar que armas apreendidas no veículo são as mesmas atingiram as vítimas. Além de Gritzbach, o motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, 41, também foi atingido e morto.
Delator do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de policiais, Gritzbach fez denúncias contra policiais civis à Corregedoria do órgão, e foi assassinado ao voltar de uma viagem ao Nordeste. Embora tivesse uma escolta particular formada por quatro policiais militares, apenas dois agentes, que não reagiram, estavam próximos dele no momento.
Em um acordo de delação premiada, ele acusou policiais civis de exigirem R$ 40 milhões em troca do encerramento do inquérito que investigava sua participação na morte de dois integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital)
Gritzbach era o principal suspeito de ser mandante do assassinato de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, em dezembro de 2021 na zona leste de São Paulo.
Como a Folha mostrou, na lista de policiais delatados pelo empresário estão integrantes do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) e 24º DP (Ponte Rasa), na zona leste. “Cujas condutas apuradas configuram, em tese, os crimes dos artigos 316 do Código Penal (concussão), artigo 317 do Código Penal (corrupção passiva), artigo 288 do Código Penal (associação criminosa), dentre outros”, diz trecho de documento da Promotoria.