Barry Eugene Wilmore, 62, e Sunita Williams, 59, os astronautas americanos cuja missão na Estação Espacial Internacional (ISS) passou de 8 para 286 dias, estão se recuperando depois de regressarem à Terra em março.
“Neste momento, estamos apenas saindo da fase de reabilitação do nosso retorno”, disse Wilmore, 62, à Reuters na última quarta-feira (28). “A gravidade é terrível por um período, e esse período varia para diferentes pessoas, mas no fim você supera os problemas de equilíbrio.”
Wilmore e Williams tiveram que readaptar seus músculos, senso de equilíbrio e outros aspectos básicos da vida na Terra em um período de 45 dias, padrão para astronautas que retornam de missões espaciais de longa duração.
A dupla passou pelo menos duas horas por dia com oficiais de força e recondicionamento de astronautas dentro da unidade médica da Nasa. Além disso, há uma carga de trabalho crescente com o programa Starliner da Boeing, a unidade da estação espacial da Nasa em Houston e pesquisadores da agência.
“Tem sido um pouco turbulento”, afirmou Williams. “Porque também temos obrigações com todas as pessoas com quem trabalhamos.”
Williams disse que alguns dos efeitos colaterais pós-voo espacial demoraram mais para desaparecer e ela se sentiu cansada nos estágios finais de recuperação, enquanto dezenas de músculos diversos se reativavam. Isso dificultou que ela acordasse tão cedo pela manhã como gosta, até pouco mais de uma semana atrás.
“Agora, estou acordada às 4h da manhã e penso: Estou de volta!”
Wilmore já tinha alguns problemas nas costas e no pescoço antes de ir para o espaço, o que dificultava que virasse a cabeça completamente para o lado. Mas, segundo ele, tudo isso desapareceu no espaço, onde “você não tem nenhum estresse no corpo”.
Quando retornou à Terra em março, a dor no pescoço reapareceu.
“Ainda estávamos flutuando na cápsula no oceano, e meu pescoço começou a doer, enquanto ainda nem tínhamos sido retirados”, lembrou ele, rindo.
O corpo humano, que evoluiu ao longo de milhões de anos na gravidade da superfície terrestre, não foi feito para voos espaciais.
A ausência de gravidade desencadeia uma série de efeitos físicos ao longo do tempo, como atrofia muscular ou alterações cardiovasculares que podem causar uma reação em cadeia de outras mudanças na saúde. O confinamento em um espaço pequeno e a maior radiação solar no espaço, sem a proteção da atmosfera da Terra, têm outros efeitos.
Próximos passos da Starliner
Os astronautas viajaram para a ISS em junho do ano passado, no primeiro voo tripulado da Starliner. Inicialmente, a previsão era de que ficariam oito dias na estação espacial.
No entanto, problemas no sistema de propulsão da Starliner levaram a Nasa a decidir trazer a cápsula vazia de volta à Terra —esse retorno se deu em setembro do ano passado. Com isso, Wilmore e Williams foram incorporados à tripulação de longa duração na ISS.
A Boeing, que assumiu US$ 2 bilhões em encargos no desenvolvimento do Starliner, aguarda um sinal verde da Nasa para lançar um novo voo da nave, mas desta vez sem tripulação. A empresa gastou US$ 410 milhões com uma missão semelhante sem tripulação em 2022 após uma falha de teste em 2019.
Refazer o voo da Starliner sem tripulação “parece ser a coisa lógica a fazer”, disse Williams, fazendo comparações com a SpaceX, de Elon Musk, e as cápsulas russas que realizaram missões sem tripulação antes de colocar humanos a bordo.
“Acho que esse é o caminho correto”, afirmou Williams, que está “esperando que a Boeing e a Nasa decidam ir pelo mesmo caminho” em breve.
Os resultados dos testes da Starliner devem determinar se a nave espacial pode transportar humanos em seu próximo voo, de acordo com representantes da Nasa.