Don Pettit, o astronauta ativo mais velho da Nasa, voltou à Terra em 20 de abril deste ano, dia em que completou 70 anos. Ele concluiu sua quarta viagem ao espaço, somando 220 dias na Estação Espacial Internacional (ISS).
Como outros membros da tripulação na estação espacial, Pettit conduziu experimentos, conversou com estudantes e se exercitou por horas para manter sua saúde e evitar a perda de densidade óssea. Mas o trabalho mais impressionante que realizou em órbita foi com a fotografia.
A maioria das pessoas nunca terá a chance de ir ao espaço. “Eu poderia tentar dar a elas um vislumbre por meio das minhas imagens”, disse Pettit durante uma entrevista coletiva concedida algumas semanas após seu retorno.
O astronauta observou que fotógrafos sempre querem ter uma câmera em mãos. “Eu poderia olhar pela janela e simplesmente apreciar a vista”, afirmou ele. “Mas, quando estava olhando pela janela, apenas apreciando a vista, era algo como: ‘Uau, um meteoro. Caramba, tem um clarão ali. Oh, olha aquilo, um vulcão entrando em erupção’. E eu: ‘OK, cadê minha câmera? Preciso registrar isso.’”
Às vezes, ele montava cinco câmeras de uma só vez no módulo da cúpula da estação espacial, onde sete janelas proporcionam vistas panorâmicas do espaço e da Terra.
A fotografia espacial é frequentemente muito parecida com a noturna. As estrelas são fracas, e exposições que duram segundos ou minutos são necessárias para captar fótons suficientes. Porém, em órbita nada fica parado. A estação espacial está circulando a Terra a 8 quilômetros por segundo, e a Terra também está girando.
Às vezes, Pettit aproveitava o movimento para criar —luzes abaixo se transformando em linhas brilhantes, enquanto as estrelas acima traçavam arcos no céu.
“Acho que estas são uma mistura de ciência e arte“, escreveu Pettit na plataforma social X.
Outras vezes, a câmera era montada em um “rastreador sideral orbital”, um dispositivo caseiro que Pettit levou da Terra e que girava lentamente para compensar o movimento da estação espacial, de modo que a lente permanecesse apontada para um local específico no céu.
O rastreador permitiu uma exposição de dez segundos para capturar uma imagem cristalina da Via Láctea acima de um oceano Pacífico nublado pouco antes do nascer do Sol. O brilho azul-púrpura emerge da dispersão da luz solar pelo nitrogênio na atmosfera terrestre.
Em abril, Pettit gravou um vídeo das pulsações rítmicas etéreas das auroras —a luz brilhante emitida quando moléculas na atmosfera são bombardeadas por partículas de alta energia do Sol.
Às vezes, as luzes coloridas eram produzidas por atividades humanas, não por fenômenos cósmicos. As faixas verdes em uma imagem têm quase a mesma cor das auroras, mas são as luzes usadas por barcos de pesca na Tailândia para atrair lulas.
Com sua câmera apontada para a Terra, Pettit registrou relâmpagos na atmosfera superior acima da bacia amazônica na América do Sul. Para o vídeo, o tempo foi estendido para 33 segundos a partir de aproximadamente 6 segundos, revelando mais estrutura nos flashes.
Pettit também aproveitou oportunidades para capturar as idas e vindas de naves espaciais da Terra —incluindo um lançamento de teste de um foguete Starship, do Texas, em novembro e a acoplagem de uma nave Dragon, também da SpaceX, transportando carga para a estação espacial em dezembro.
Durante seu tempo livre, Pettit também criou experimentos científicos divertidos. Um deles mostrou gotas de água eletricamente carregadas dançando ao redor de uma agulha de tricô de Teflon. “Quero fazer coisas no espaço que só podem ser feitas no espaço”, disse ele. “E me preocuparei em pôr em dia programas de TV e coisas do tipo depois que eu voltar.”
Em outro experimento, ele injetou corante usado em alimentos em uma esfera de água, criando um glóbulo que se assemelhava um pouco a Júpiter, ou a uma bola de gude muito bonita.
Pettit também dissolveu um comprimido antiácido dentro de uma esfera de água. Sem a gravidade para fazer as bolhas subirem e escaparem facilmente da água, os padrões são completamente diferentes no espaço.
Além disso, congelou finas lâminas de gelo de água. “O que você faria com tal freezer no espaço?”, escreveu ele no X. “Decidi cultivar finas lâminas de gelo de água por nenhuma outra razão além de estar no espaço e poder fazer isso.”
Fotografar as lâminas de gelo por meio de filtros polarizadores revelou padrões cristalinos intrincados.
Pettit é o astronauta atual mais velho da Nasa, mas não é a pessoa mais velha a ir para a órbita. Esse posto cabe a John Glenn, que foi o primeiro astronauta americano a circundar a Terra em 1962 e depois voou novamente em 1998 no ônibus espacial Discovery aos 77 anos.
Ele nem mesmo é a pessoa mais velha a ficar algum tempo na estação espacial. Um astronauta privado, Larry Connor, tinha 72 anos quando passou duas semanas lá em 2022 como parte de uma missão operada pela Axiom Space, de Houston.
“Tenho apenas 70 anos, então ainda tenho mais alguns bons anos pela frente”, disse Pettit durante a entrevista coletiva. “Eu poderia fazer mais um ou dois voos antes de estar pronto para pendurar meus bocais de foguete.”