Astro Bot é plataformas 3D com charme e diversão que lembram o melhor que a Nintendo faz, numa experiência que presta uma alegre homenagem ao historial da PlayStation.
Astro Bot é um daqueles jogos que simplesmente te enche de alegria, que te dá prazer de jogar, sentir especial porque ainda jogas, mesmo numa idade na qual o teu círculo de amigos pensa que já não devia ser de jogar. A Team Asobi pegou na simplicidade que lhe valeu rasgados elogios em Playroom e usou-a como rampa de lançamento para um jogo de escala superior, que consegue emular o melhor da Nintendo nos jogos 3D de Super Mario, mas aqui numa espetacular homenagem ao rico histórico da PlayStation.
Ao longo das 9h que precisei para terminar os níveis principais de Astro Bot, senti uma enorme dose de diversão e alegria, descargas de dopamina que me fizeram sentir melhor, puro prazer em jogar. Frequentemente jogamos por vício ou hábito, mesmo sem sentir prazer é o passatempo que nos traz conforto, mesmo que nem sempre seja o melhor que devíamos estar a fazer. Astro Bot são os videojogos no seu ponto mais puro, única e exclusivamente focado em despoletar euforia e alegria em quem joga.
Foi uma experiência cuja simplicidade lhe permite ostentar glória, desprovida de tantas das artificialidades que prejudicam muitos dos atuais jogos, para mostrar que há espaço para tudo, desde os mais ambiciosos projetos em mundo aberto a doces aventuras de plataformas 3D. Este é, basicamente, o tipo de jogo pelo qual a PlayStation ficou conhecida e numa altura tão controversa para a marca, vem provar que ainda sabem fazer os jogos que a tornaram num colosso global.
Uma viagem pelo espaço e pelo tempo da PlayStation
Se jogaste Playroom, pensa em Astro Bot como uma experiência glorificada, com níveis maiores, mais engenhosos, com mais segredos, mais engenhocas e mecânicas que abrem portas a mais oportunidades gameplay divertidas. A japonesa Team Asobi revela perceber bem o funcionamento dos jogos de plataformas. Bastou ver o primeiro episódio nos bastidores de Astro Bot e escutar o principal designer a falar de como o mais importante num jogo de plataformas é o ritmo e fiquei logo convencido que este seria um jogo especial. Chegada a hora de o jogar, jamais esperaria ter da PlayStation uma experiência tão Nintendo. Quando os créditos começaram a rolar, apenas queria jogar mais e mais, a pensar que joguei uma espécie de Super Mario Odyssey 2 que a Nintendo teima em não me dar (porque provalmente tem algo igualmente brilhante para mostrar na sua próxima consola).
Muitas vezes fico estonteado com o trabalho da Nintendo nos jogos Super Mario. A aparente simplicidade de uma metódica postura que resulta em níveis nos quais o ritmo é incrivelmente importante, nos quais todo o design (incluindo imagem e som) são trabalhos em simbiose para engrandecer a tua experiência. A simplicidade não é uma “desistência”, não é seguir pela via mais fácil, é fruto de intenso trabalho e a arte da graciosidade que somente alguns designers conseguem demonstrar. Pela primeira vez, senti que alguém fora da Nintendo conseguiu igualar as suas equipas.
Astro Bot é um jogo de plataformas 3D, no qual o ritmo é fundamental para transmitir a sensação de alegria e te manter a jogar sem querer parar, uma vez que as coisas funcionam de forma a despertar em ti alegria. É fácil olhar para o jogo e perceber que a Team Asobi podia introduzir mecanismos para prolongar a duração, artificialidades que aumentam a dificuldade e te fazem passar mais tempo para acabar os níveis, mas a decisão foi outra, foi maximizar a tua diversão. Seja através de mudanças na perspetiva, segmentos que testam a tua percepção de profundidade 3D, uso de engenhocas ou a procura por segredos, este é um jogo que na sua essência, no seu coração, pertence à dourada época da PS2.
Nesta espetacular carta de amor ao mundo PlayStation, a Team Asobi coloca Astro Bot perdido num pequeno planeta, a partir do qual terá de entrar em 5 galáxias com diversos planetas (níveis) e um último que é o grande boss da área. Pelo meio, podes procurar por cometas que se quebram e dão lugar a níveis especiais (incluindo níveis opcionais absurdamente difíceis focados nas principais imagens da PlayStation). Tudo isto a bordo do seu Dualsense com a missão de salvar os amigos bots e recuperar a graciosidade da sua PS5, a sua nave.
As galáxias de Astro
Através de níveis cuja escala, tamanho e dificuldade crescem progressivamente, ajudarás Astro a salvar os bots perdidos após a nave sofrer um ataque a meio da viagem espacial. O hub central é o espaço onde os bots salvos ficam, onde tens a máquina das cápsulas, loja de roupas do Astro, local para tirar fotografia com animais e mudar a cor ao Dualsense, mas também é um espaço com imensos segredos para descobrir. Além disso, uma vez que muitos bots são figuras especiais do historial PlayStation e parceiras, tens mais de 200 momentos especiais de interação que te enviam numa viagem pelo tempo. Existem muitos convidados conhecidos, outros nem tanto, não vou falar nomes, mas desde Resident Evil a Persona, espera ver muitas caras conhecidas.
Estas galáxias permitem aceder a planetas com diversas temáticas que mudam o gameplay, incluindo planetas com temáticas alusivas a jogos PlayStation. Ao derrotar o boss de cada galáxia, salvas Bots que na verdade são personagens PlayStation e te levam para um último nível da galáxia, no qual o gameplay é adaptado para recriar o jogo ao qual pertencem. O primeiro exemplo é Ape Escape. No nível especial final da primeira galáxia (deixo os melhores como surpresa) a missão principal é apanhar os macacos e o gameplay torna-se numa mistura entre Astro Bot e Ape Escape. Existem exemplos muito mais empolgantes nas galáxias seguintes que vão despertar imensa euforia em quem joga.
A experiência principal, os níveis principais, são relativamente simples. Alguns podem exigir mais do ritmo dos teus movimentos, da tua capacidade e velocidade para interpretar os visuais para reagir de acordo, mas na sua maioria este é um jogo no qual quem está habituado a jogar não terá qualquer problema. As lutas contra os bosses também servem a mesma filosofia. Foram desenhadas para a máxima diversão, com a dificuldade em segundo plano, mas ainda assim espera ver uma dificuldade crescente. As últimas lutas contra chefes podem exigir várias tentativas pois tens de calcular bem o timing dos teus movimentos, ações e inimigos.
É um bailado coreografado para maximizar o teu bom humor, onde os visuais, música, inimigos, animações, e basicamente todo o gameplay tem como principal função transmitir uma boa sensação, deixar-te contente por pegar no comando. Astro Bot é magnífico nessa missão, sempre que pegas no Dualsense para o jogar, vais sentir que tomaste uma boa decisão, algo que nem sempre acontece. Não com todos os jogos.
No entanto, devo alertar que apesar dos níveis principais mostrarem uma dificuldade que varia, mas no geral é relativamente acessível, existem níveis absolutamente diabólicos. Os 4 níveis relacionados com cada um dos botões principais da PlayStation (os tais descobertos ao chocar com cometas nas galáxias) permitem desbloquear Bots relacionados com o historial da PlayStation e todos eles estão entre o mais desafiante que a Team Asobi tem para ti.
Existem níveis especiais secretos como estes que são mais fáceis, os retro, mas estes são mesmo difíceis. São níveis relativamente pequenos, mas exigem imensa coordenação e ritmo de movimentos para os conseguires terminar com sucesso, com a mínima margem para erro. Terminar todos estes níveis, 16 níveis, vai exigir muito esforço e provavelmente muitas horas a bufar. Se conseguires, terás uma sensação similar à de derrotar um boss difícil num Soulslike dos bons. A Team Asobi diz que vai apoiar Astro Bot com a introdução de mais níveis e após o jogar, o desejo é que cheguem muitos mais níveis destes.
O Dualsense como portal para um novo universo
Com uma qualidade gráfica capaz de impressionar com relativa facilidade, o design visual de Astro Bot também é um embaixador fiel das ambições da Team Asobi, afinar ao máximo a filosofia de transmitir alegria a cada segundo que tens o comando na mão. Existem momentos gráficos esplendorosos em Astro Bot, mesmo que outros sejam muito simples. Existe uma forte sensação de dinamismo visual, com peças dos cenários em movimento de acordo com o teu progresso, alguns níveis impressionam com o quão interativos são, pela forma como mostram o impacto da tua passagem, mas isto é algo que já conheces de Playroom.
Como versão turbinada de Playroom, Astro Bot é uma adorável expansão de todos esses objetivos. É um jogo com uma enorme versatilidade visual, que num momento te mostra partes metálicas que brilham com texturas que parecem reais, para no planeta seguinte te mostrar neve ou água que conferem uma sensação de bem-estar e apelo visual que te faz sentir que estás dentro dos planetas. No entanto, parte dessa comunicação com o jogo também depende do Dualsense.
Se um nível na neve ou com chuva se sentem diferentes, se caminhar por uma textura metálica se sente diferente de caminhar na relva ou água, não é apenas pelo elemento visual, o comando que tens nas mãos também um papel fundamental nisso. Sim, é algo que já conheces de Playroom, mas como tudo em Astro Bot, a Team Asobi foi mais além.
Existem diversas engenhocas que Astro pode apanhar para o ajudar (desde luvas extensíveis, foguetes galinha a metal super resistente que cobre o seu corpo) o que ramifica o gameplay. Além de te motivar a adotar comportamentos diferentes para passar pelos níveis e procurar os segredos, também te mostram mecânicas que eventualmente estarão relacionadas com os níveis de boss, mas também mostram a versatilidade do Dualsense como interface de controlo. A vibração dinâmica é interessante, mas em Astro Bot diria que é a pressão dos gatilhos que mais impacto tem. Existem inúmeros momentos nos quais as engenhocas forçam variáveis níveis de pressão nos gatilhos, o que está constantemente a exigir de ti mudanças na força que exerces sobre o Dualsense.
Poderá soar como algo simples, básico, sem real interesse, mas a verdade é que resulta como mais uma camada que transmite a ideia que a Team Asobi geriu com cuidado todas as facetas do seu gameplay 3D. São pequenas grandes diferenças que juntas formam uma nova era dos jogos de plataformas 3D.
Conclusão
Astro Bot poderá ser apresentado como um projeto de menor escala da PlayStation Studios, mas é fácil jogá-lo e ficar com a sensação que será relembrado como um dos momentos de ouro da atual geração da companhia. A Team Asobi mostra novamente paixão e engenho, desprovida das ditas tendências que tanto ruído criam e prejudicam imensos projetos, para mostrar que os videojogos ainda podem ser precisamente aquilo que nos fez apaixonar por este meio interativo: diversão para colocar um sorriso na tua face ao final do dia.
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