O mistério sobre a presença do sentido do olfato entre as aranhas está começando a ser resolvido: ao que parece, elas sentem cheiros com as patas. Pelo menos se forem aranhas do sexo masculino, e se o odor em questão for um “perfume” emitido pelas fêmeas para atrair parceiros.
As conclusões vêm do estudo de uma espécie do Velho Mundo, a Argiope bruennichi, também conhecida como aranha-vespa, que ocorre principalmente em algumas regiões da Europa e da Ásia. A julgar pela anatomia dos “narizes” seletivos que ela carrega nas patinhas, porém, a mesma capacidade parece estar presente em diversos outros grupos de aranhas, ainda que não em todos, de acordo com estudo publicado no último dia 6 no periódico científico PNAS.
Por estranho que pareça, o olfato, assim como outros sentidos, costuma estar baseado em estruturas bastante diversificadas dependendo do grupo de animais, e não tem necessariamente relação com a parte do corpo que inala o ar, como acontece com os vertebrados terrestres.
Entre os insetos, grupo mais bem estudado dos artrópodes (agrupamento mais amplo ao qual as aranhas também pertencem), é comum que a detecção de cheiros, assim como o paladar, esteja associada a minúsculas protuberâncias em seu exoesqueleto ou “casca”, chamados sensilas.
As sensilas contam com poros pelos quais as moléculas de odor podem entrar e ativar neurônios (células nervosas). Esses neurônios, por sua vez, transmitem a informação sobre a presença de determinado cheiro para o cérebro do bicho.
Acontece que nada do tipo havia sido caracterizado no caso das aranhas, embora sensilas com função similar ao paladar já tivessem sido identificadas na ponta das patas da aranha-vespa e de outras espécies –justamente a região desses apêndices com mais probabilidade de tocar presas e outros objetos.
No novo estudo, liderado por Carsten Müller, Hong-Lei Wang e Gabriele Uhl, todos da Universidade de Greifswald, na Alemanha, a equipe de pesquisadores analisa em detalhes o funcionamento de outro tipo de sensila da Argiope bruennichi.
Tais sensilas também estão presentes nas patas, mas relativamente longe da ponta dos apêndices, o que excluiria a estimulação dos neurônios das delas pelo contato direto, como acontece com o paladar (ou mesmo o tato). Sua morfologia tem diferenças consideráveis em relação à das “sensilas do paladar”.
Outro detalhe interessante é que esse tipo de detector só aparece em machos adultos, estando ausente nas fêmeas e nas aranhas imaturas do sexo masculino.
Uma série de experimentos explicou o porquê disso: os machos maduros da espécie conseguem “farejar” à distância os feromônios das fêmeas, ou seja, moléculas sinalizadoras emitidas para atrair parceiros pelo aroma.
Tudo indica que as sensilas do paladar, presentes na ponta das patas, conseguem realizar a mesma tarefa, desde que os feromônios das fêmeas estejam presentes nas teias delas. Mas há um incentivo importante para os machos conseguirem detectar as parceiras à distância.
Acontece que as fêmeas da espécie, que são três vezes maiores que os machos, costumam praticar canibalismo sexual, podendo devorar os parceiros incautos. Assim, vale a pena saberem a que distância estão das parceiras e se vale a pena se arriscar numa cópula que pode acabar com a morte deles.
Seja como for, o que outros experimentos demonstraram é que um dos neurônios do tipo diferente de sensila são estimulados facilmente pelos feromônios femininos, em diferentes concentrações. Mas há também outros três neurônios associados à mesma sensila, que não parecem ser ativados. É uma nova lacuna no conhecimento sobre o sistema sensorial dos bichos, que deve ser estudado futuramente pelos pesquisadores.
Uma ampla varredura em vários grupos de aranhas mostrou que estruturas similares são comuns, embora estejam longe de ocorrer em todas as espécies.