Sem licitação, sem consulta pública, e, principalmente, sem noção, o prefeito Ricardo Nunes resolveu “alugar” o largo da Batata para a Pepsico do Brasil. A empresa rebatizaria o espaço, em cartazes e outras mídias, como “Largo da Batata Ruffles”. É verdade este bilhete. Aqui a matéria. Felizmente, após reações estarrecidas da população, a prefeitura voltou atrás —ao menos por ora.
Sei que alguns leitores me acham um stalinista. Afinal, hoje em dia, aqueles que se opõem a um golpe de Estado são vistos por muitos como parte de uma trama comunista que insiste em restringir a liberdade de homicidas e tiranos usando essa ferramenta opressiva chamada Constituição. Apesar de fazer parte da malta supracitada, não me oponho a parcerias público privadas nem a privatizações de certas empresas. O problema é que, como tudo no Brasil, as relações entre Estado e empresas viram uma festa do caqui. Quem entra com a grana pode tudo e não deve nada. (Saudações, Enel). Ceder um marco paulistano pra uma marca de batata frita e rebatizá-lo com seu nome é humilhante, é degradante. A empresa deveria ficar envergonhada com a violação.
Como, porém, só me engajo em lutas perdidas e imagino que em breve São Paulo inteira estará à venda, indico aqui algumas boas oportunidades de negócios. Para a prefeitura se desculpar com a Pepsico do Brasil, meu amigo Chico Mattoso sugere vender à empresa o bairro do Tatuapé: “TatuaPepsi”. Chico, que, como toda pessoa normal, prefere Coca, também sugeriu a “Mooca-Cola”. E o Itaim Bibi poderia assumir de vez sua vocação farialimer tornando-se o “Itaú Bibi”. (Esta última ideia é minha, não do Chico, exijo uma porcentagem da negociação).
Caso o Bradesco fique enciumado com o “Itaú Bibi”, tenho uma ideia bem mais abrangente, com penetração em inúmeros bairros da cidade. Por que não chamarmos todas as escolas municipais de “Bradescolas Municipais?”.
Voltando à seara dos refrigerantes e deixando claro aqui meu patriotismo, não seria bom se todo gringo que desembarcasse em São Paulo já ouvisse, de dentro do avião, “Bem-vindos ao aeroporto de Guaranarulhos”? O Cebolão, claro, viraria “Cebolitos”. E por que nos restringirmos a São Paulo, perdendo a grande chance de ganhar dinheiro com os belíssimos crepúsculos no “ArpoaDoritos”?
Ricardo Nu— olha aí a oportunidade, Nubank —nes deve se achar um visionário, mas Raul Seixas já tinha cantado a bola lá atrás, em 1980, em parceria com Cláudio Roberto Azeredo. “A solução pro nosso povo eu vou dar/ Negócio bom assim ninguém nunca viu/ Tá tudo pronto aqui é só vir pegar/ A solução é alugar o Brasil/ Nós não vamos pagar nada/ Nós não vamos pagar nada/ É tudo free/ Tá na hora agora é free/ Vamo embora/ Dar lugar pros gringo entrar/ Pois esse imóvel está pra alugaaaaaaaaaar!”.
Raulzito, aliás, se vivo fosse, poderia fazer uns caraminguás como “RaulCheetos”. O maluco beleza se foi, mas Martinho da Vila tá vivaço e meu amigo Gustavo Mayrink deixa aí a dica (pois é, hoje o grupo de zap tava animado): “Martini da Vila”. Sei que não tenho nem de longe a visibilidade desses dois grandes músicos brasileiros, mas meu nome aparece todo domingo aí em cima, no jornal mais lido do país e em alguns créditos da Globo. Por uma módica quantia eu aceitaria, de bom grado, passar a assinar “Antonio Água Prata”. Ou, sendo mais ambicioso, se o Milei, consultando o fantasma de seu cachorro, receber latidos favoráveis, por que não me vender pro Mercosul como “Antonio Rio da Prata”? Ficam aí as propostas. Ou, dependiendo del patrocinador, las propuestas.
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