Dois clássicos de culto refeitos com enorme carinho para a era moderna. Experiências suis generis e com um adorável carisma, mas é visualmente fraco e o gameplay deste híbrido entre novela visual e jogo de puzzles merecia mais refinamento
Another Code: Recollection é a primeira aposta da Nintendo para a sua Switch em 2024 e a possibilidade de jogar dois clássicos de culto, em versões atualizadas e otimizadas, é mais uma bela amostra do potencial despertado pela enorme popularidade da consola híbrida.
Graças à Switch, a companhia sentiu-se motivada a recuperar diversas séries para expor uma enorme massa de novos clientes a essas experiências,d o que lhes permitiu alcançar novos níveis de sucesso para muitas delas. Recuperar jogos Nintendo de anteriores gerações foi um dos maiores atrativos que vi na Nintendo Switch e esta Another Code: Recollection é mais uma demonstração desses esforços.
Os jogos em si não vão propriamente conquistar prémios e permanecer na tua memória, mas são experiências bem diferentes do que esperas da Nintendo e apesar de atualmente existirem muitas propriedades que emulam o que aqui é feito, como Life is Strange, jogar Another Code: Recollection fez-me sentir que parte deste fenómeno nasceu com a ajuda da Nintendo.
Another Code: Recollection traz para a Switch os jogos Another Code: Two Memories (Nintendo DS, 2005) e Another Code: R – A Journey into Lost Memories (Nintendo Wii, 2009) em versões remakes. Isto significa que tens versões totalmente refeitas desses clássicos de culto, cuja disponibilidade altamente limitada dos originais torna ainda mais intrigante estas novas versões.
Another Code: Recollection apresenta-te dois jogos cujo gameplay é uma mistura de novela visual com dramas juvenis (alguma ficção científica à mistura) e quebra-cabeças que apesar de simples, são engenhosos e conquistam a tua atenção. Algo a ter em conta é que os jogos foram refeitos do zero pela Arc System Works. Isto inclui adicionar vozes, mudar a perspetiva do primeiro jogo, adicionar novas cenas, mudar algumas e até simplificar algumas secções para melhorar a compreensão da narrativa.
Ao ajustar estes dois jogos para a Nintendo Switch de forma que preserva ao máximo as especificidades relacionadas com os sistemas originais (a DS tinha um segundo ecrã para interagir e a Wii um controlo por movimentos), a Arc System Works e a Nintendo conseguiram o objetivo de transportar de forma eficaz os dois jogos. Mesmo com gráficos humildes, o gameplay está otimizado e não sentes qualquer atrito com os controlos na navegação ou a resolver puzzles.
O jogo da DS surge na Switch com uma nova perspetiva na terceira pessoa e o refinamento é universal. É o mesmo jogo, com os mesmos puzzles, mas muito bem adaptados à Nintendo Switch e esta história sobre desbloquear por completo o acesso às nossas memórias é intrigante. Ashley Mizuki Robbins descobre de forma surpreendente que o seu pai está vivo e está numa ilha à sua espera. Quando lá chega, os mistérios acumulam-se e terás de ajudar a solucionar diversos quebra-cabeças até chegar à verdade em torno de tudo o que se passou com os seus pais.
Pelo caminho conhecerá personagens surpreendentes, desbloqueará as suas memórias sobre a tragédia da sua infância e descobrirá toda a verdade em torno desta inesperada descoberta em torno do seu pai. Another Code dura cerca de 5 horas e os puzzles são divertidos. O jogo está desenhado para uma portátil, isso significa um jogo de pequena escala, cujo design te leva de forma gradual e natural a percorrer toda a mansão.
A dada altura quase parece um Resident Evil para crianças, com muito mistério numa mansão, a sensação de que algo não está bem, de uma tragédia iminente, e a vontade de escapar todo o mistério, mas sem zombies. Desprovido de incentivos a explorar pois terás de passar por todas as divisões como parte da história, Another Code é um jogo com muitos momentos doces e trágicos, com temáticas que cativam, mesmo que exista muita execução questionável e outros momentos patetas.
Another Code R expande todos os conceitos e designs do original, é ainda mais pateta, o mapa é expandido de forma considerável, mas também passas por todos de forma gradual e também és frequentemente limitado na tentativa de explorar fora do percurso traçado para aquele capítulo (só podes ir à maioria dos locais no momento em que o jogo te deixa) e mantém os locais divididos por loadings (das piores facetas do jogo), mas admito que dei por mim a perdoar todas as fragilidades para desfrutar do bom.
Existem imensas cenas de novela visual que te vão deixar a questionar a sua existência no jogo, na segunda parte, em particular, terás imensos momentos nos quais sentes que não se está a passar nada relacionado com a narrativa principal (o que torna caricato quando os protagonistas estão em constante pressa e depois passam imenso tempo a não fazer nada), mas há imenso charme e carisma nestas adoráveis aventuras de Ashley.
Algo que deves ter em conta é que a qualidade gráfica não vai surpreender, pelo menos pela positiva. Os jogos foram refeitos do zero com um novo motor gráfico, o que ajuda a manter uma forte consistência estética, e a mudança de perspetiva no primeiro também o melhora imenso, mas prepara-te para constantes texturas básicas, cenas com gráficos datados e a sensação de um projeto de baixo orçamento. Ao longo das 13 horas de demorei a terminar Another Code: Recollection, vi imensas cenas bonitas, cujas texturas quebravam a imersão.
Ao apostar em remakes completos para os dois jogos, a Nintendo assegura que Another Code: Recollection surgem totalmente otimizados e livres de muitos dos problemas existentes nas versões originais. Poderás sentir que a dificuldade foi muito reduzida neste esforço para remover muito do atrito existente nas versões originais, muito dele relacionado com os métodos específicos de controlo alternativo de cada uma das consolas originais, mas o resultado é um jogo muito mais divertido que cumpre muito melhor o seu propósito de experiência híbrida entre novela visual e quebra-cabeças.
Prós: | Contras: |
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