Características como faro apurado e alta resistência física são marcas da importância de animais que prestam serviço ao setor público. Eles acabam por formar vínculo próximo com servidores e passam por uma série de treinamentos para assumir uma função, com habilidades que permitem ampliar a eficácia do trabalho humano.
Um dos mais conhecidos bichos profissionais são os cães de faro, que apoiam órgãos como a polícia e a Receita Federal na busca por pessoas, drogas e, recentemente, até dinheiro.
Na Receita, os cachorros passam por um centro de treinamento em Vitória, no Espírito Santo, onde Marcia Daniele, analista tributária do órgão, é uma das instrutoras. Segundo Marcia, o faro dos cães os ajuda a identificar os entorpecentes, independentemente de quais sejam.
“Quando fiz o curso, nosso treinador falou que, enquanto o ser humano sente cheiro de churrasco, o cachorro já sabe se é picanha, costela ou linguiça, se está bem ou mal passado. Por isso que colocar café [para disfarçar o cheiro da droga em uma mala] não adianta de nada.”
Eles passam por um treinamento que dura, em média, seis meses, segundo a instrutora. Ao fim, são enviados a uma unidade da Receita, onde são designados a um condutor específico, que passa por treinamento para assumir a função.
A cada ano, o órgão tributário adquire novos cães, que têm características físicas diferentes dos animais de estimação. Isso porque pets costumam passar por seleção artificial para serem mais facilmente adquiridos por humanos. Já no caso dos cães de faro, a raça é pouquíssimo modificada, para manter traços que ajudam na caça e na locomoção.
Os cães da Receita precisam ser possessivos e gostar de brincar de bola, uma vez que a busca pelo entorpecente simula um jogo: se o cachorro identifica o odor da droga, ele deita ou senta como forma de sinalizar ao condutor. Depois, recebe a bolinha, que é um estímulo para o bicho trabalhar.
Os animais têm um ciclo de trabalho parecido com o dos servidores, segundo a analista. Costumam entrar de férias junto com o condutor e podem se aposentar quando chegam aos oito anos. Depois, são, em geral, adotados pelo próprio condutor.
Além de farejadores, cachorros são conhecidos por terem um bom desempenho na guarda em alguns órgãos públicos. Mas não é o caso do Complexo Penitenciário do Estado, em Santa Catarina: lá, eles foram substituídos por gansos, usados para impedir a fuga de presos.
As aves ficam numa área verde entre o muro externo do presídio de segurança máxima e a grade interna, que cerca o local onde ficam os detentos. Por serem muito territorialistas, os gansos emitem sons altos se alguém invade o espaço, o que auxilia no trabalho dos agentes, de acordo com Marcos Coronetti, policial penal que atua no presídio.
“O cão se torna fiel a quem o alimenta, e quem fazia isso eram os presos que trabalhavam na unidade. Já o ganso não se importa com quem dá a comida: ele odeia todos [agentes e detentos] da mesma maneira”, brinca.
A ideia de inserir as aves no presídio partiu de um servidor que criava o bicho em uma fazenda. Por saber que o ganso é um animal territorialista, sugeriu isso ao gestor, que acatou a proposta.
Segundo o major, os gansos nem precisaram passar por treinamento: só foram colocados ali e estavam preparados para o serviço. Além da área verde para circular, eles contam também com pequenos lagos, onde tomam banho e bebem água.
Para o major, os gansos são mais eficientes do que sensores de movimento por emitirem alertas apenas quando a proximidade com o território é mais evidente. O sensor, por outro lado, pode ser ativado com barulhos pouco significantes.
Outro animal cujo trabalho é bem reconhecido no setor público é o cavalo, que apoia principalmente o trabalho das forças de seguranças. De acordo com Flavio Vargas, major que atua com a polícia montada na Brigada Militar do Rio Grande do Sul, esses animais ajudam na ação preventiva, principalmente de grandes eventos, como jogos de futebol e Carnaval.
A vantagem é que os animais tornam os policiais mais visíveis em uma multidão e permitem que os agentes vejam até pontos mais distantes, explica o major.
“O cavalo também é eficaz no controle pela imponência do porte. A maioria das pessoas tem um certo receio de se aproximar”, diz.
Antes de assumirem uma função, os cavalos da brigada são domados para que seja possível colocar neles sela, montaria e freio. Depois, passam por treinamento para lidar com multidões e com o trote nas ruas.
Policiais também precisam passar por um curso para trabalharem com os equinos, em que aprendem desde como montar e formas de observar o comportamento deles e até os cuidados básicos, como a limpeza do pelo. Depois, o agente é designado a um cavalo, assim como ocorre entre os cães da Receita Federal.
Animais são usados ainda para apoiar outros serviços, como na saúde. No Instituto Butantan, por exemplo, serpentes são mantidas para produção de soro antiofídico, usado contra envenenamento.
Já em aeroportos, aves de rapina, como gaviões e falcões, são usadas para evitar a colisão entre as aeronaves e outros animais.
Essas espécies de pássaros afugentam outras que podem representar riscos para os aviões. A técnica é adotada em diferentes aeroportos, como o Galeão (RJ), o de Confins (MG) e o do Recife.