Em um mundo em que a solidão é epidêmica e a ansiedade, a regra, é preciso estar atento a novos tipos de relação que aparecem. A tendência mais recente vem da China. Trata-se de um novo tipo de amizade que por lá está sendo chamado de DaZi (搭子). O termo significa algo como “companheiro”.
Na prática, a expressão se refere a amizades por interesse ou conveniência. Pessoas que se conhecem —na maioria das vezes pela internet— para realizar alguma atividade específica juntas. Por exemplo, ir ao cinema, à academia ou a um restaurante.
Após a atividade ser realizada, não há nenhum compromisso de se falar novamente nem de manter contato. A ideia é criar um vínculo social temporário, mas sem ter qualquer envolvimento emocional ou responsabilidade posterior.
Como disse um jovem entrevistado pela Radii Media: “a relação é movida por interesse, uma vez que o interesse é realizado, não há qualquer vínculo. As relações DaZi são baseadas em uma necessidade temporária. Uma vez que ela é satisfeita, a relação pode terminar”.
É como se fosse o fenômeno do “date” contemporâneo nas relações amorosas —mediado por aplicativos— levado ao campo das amizades. Após o encontro, as pessoas sentem-se confortáveis para fazer “ghosting” e simplesmente desaparecer sem falar nada.
As mídias sociais chinesas têm sido tomadas pelo termo DaShi. São pessoas à procura dos seus “companheiros por interesse”, seja em posts individuais ou em grupos destinados a facilitar encontros assim.
A plataforma social chinesa Soul chegou a publicar uma pesquisa sobre o fenômeno. As conclusões são interessantes. Quanto mais jovens as pessoas, maior a propensão de ter relações no estilo DaZi.
O fenômeno é forte especialmente entre quem nasceu a partir do ano 2000. Nesse segmento, 90% das pessoas conhecem o termo “DaZi” e 20% praticam esse tipo de encontro. Dentre quem faz DaZi, 48% têm 2 ou 3 companheiros simultâneos para atividades diferentes.
70% valorizam justamente a ausência de rótulos como a principal característica da relação. Dentre os interesses mais populares está ir a um restaurante (49,4%), ir a um show, festival ou cinema (43,7%) e praticar atividades esportivas (27,4%).
Uma das hipóteses para a popularidade desse tipo de relação na Geração Z seria que seus praticantes valorizam conexões sociais com limites claros. A ideia é se proteger de qualquer questão emocional, ficando só com a parte superficial da relação.
É claro que problemas também surgem. Muita gente reclama do caráter descartável e do eventual sumiço das pessoas sem qualquer justificativa. Isso acaba tendo sim repercussões sociais e emocionais. Há postagens reclamando que a total falta de vínculos da experiência faz com que as pessoas se sintam ainda mais vazias, ou tratadas como se fossem objetos.
Vale lembrar que a Ásia é hoje um grande laboratório sobre o convívio urbano contemporâneo. O DaZi – tal como o 4B – é só mais um tipo de sociabilidade que está sendo falada por lá primeiro e que depois acaba aparecendo por aqui também.
READER
Já era – Laços sociais fortes
Já é – fluidez e aleatoriedade nos relacionamentos amorosos
Já vem – fluidez e aleatoriedade nas relações de amizade
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