O advogado Paulo Amador da Cunha Bueno, que lidera a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), criticou o relatório da Polícia Federal que indiciou o ex-mandatário no inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe.
Cunha Bueno apontou que o documento é uma “narrativa contaminada pelo viés político” e afirmou que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), não pode ser o responsável pelo caso. Ele disse considerar “absurda” a acusação contra Bolsonaro.
“Ao longo das 884 laudas do relatório da Polícia Federal, o que se tem é uma enorme narrativa, cujos pontos não se conectam por nenhum elemento de prova haurido ao longo de meses de investigação, o que só ratifica que se trata de uma narrativa, contaminada pelo viés político”, afirmou Cunha Bueno em entrevista ao Estadão divulgada nesta terça-feira (3).
No último dia 21, a PF indiciou o ex-presidente e outras 36 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Segundo a investigação, a suposta trama também previa o assassinato do presidente Lula (PT), do vice Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes.
O advogado argumenta que Moraes deveria ser afastado do caso por aparecer nos autos como “suposta vítima de uma trama”, sendo assim, não poderia “figurar ao mesmo tempo como investigador e posteriormente julgador”. Cunha Bueno voltou a citar a “inimizade” entre o ministro e o ex-mandatário.
“É pública e notória a inimizade capital entre o ministro e o presidente Bolsonaro que, inclusive, chegou a protocolizar no Senado um pedido de impeachment contra o ministro, ainda no curso de seu mandato”, disse o advogado ao Estadão.
Bolsonaro e o PL questionaram o resultado das eleições de 2022, por isso o partido foi multado em R$ 22,9 milhões por “litigância de má-fé” à época. O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, foi um dos indiciados na investigação da PF. O advogado defendeu que “não há nada de ilegal em questionar-se ou investigar a higidez de um sistema de votação”.
Questiona se Bolsonaro teme ser preso, ele apontou que se o processo não for contaminado por questões políticas, isso não deve acontecer. “Em havendo um processo que não se contamine pelo lamentável binômio da politização da justiça e da judicialização da política, não haveria porque o receio. A defesa tem muita tranquilidade em seus fundamentos jurídicos em relação a todos os casos”, afirmou.
“O presidente nunca articulou, preparou ou mesmo cogitou qualquer ação golpista de quebra da ordem democrática. As únicas discussões que houve após as eleições foram estritamente jurídicas”, enfatizou Cunha Bueno.
A defesa de Bolsonaro voltou a pedir o afastamento de Moraes da relatoria do caso nesta segunda-feira (2). O relatório da PF está sob análise da Procuradoria-Geral da República (PGR). O órgão pode pedir mais diligências dentro da investigação e, posteriormente, decidir se denuncia ou não os envolvidos à Corte.