A organização da COP30 em Belém, anunciada como um desígnio nacional, está atrasada, comprometendo a reputação do Brasil como líder climático. Dois cargos-chave, o de presidente (tema do meu último artigo) e o de Campeão de Alto Nível sobre Mudanças Climáticas, ainda não foram nomeados pelo governo.
Cada Campeão exerce um mandato de dois anos. Lidera uma estrutura com quase cem pessoas. O seu papel é construir parcerias com atores não estatais, alavancar recursos do setor privado e acelerar a ação climática. A incerteza tem gerado uma disputa acirrada e um ambiente tóxico entre os possíveis candidatos. É a principal conclusão dos contatos feitos pela coluna com 12 líderes do ecossistema brasileiro de clima.
A prioridade do governo deveria incidir na reforma da própria estrutura do Campeão, cada vez mais enfatuada e autocentrada. É uma máquina dentro da máquina. Para a liderar, o Planalto deveria evitar escolher um empresário brasileiro celebridade, entre aquela meia dúzia que geram consenso instantâneo no mundo da sustentabilidade. Seria um anti-histamínico, certamente, mas a maioria destes executivos medalhados dificilmente teria tempo para se dedicar cegamente ao cargo desviando-se das suas funções corporativas atuais. E todos eles são homens brancos.
Quando tocar o despertador do governo para este tema, há um número muito extenso de pessoas que têm sido cogitadas ou se candidatado ao cargo, com vários níveis de preparação. Poderá, por exemplo, optar por pessoas ligadas a setores como o agronegócio (Marcello Brito ou Eduardo Bastos), as energias renováveis (Elbia Gannoum) ou o financeiro (Denísio Liberato, diretor-presidente do BB Asset Management, seria um nome muito forte).
Há também vários reconhecidos especialistas em sustentabilidade oriundos do terceiro setor ou do setor privado como Natalie Unterstell, Patrícia Ellen da Silva, Marina Grossi, Maria Netto ou Marcelo Behar, ou diplomatas como Mauricio Lyrio, que realizou um trabalho laudatório no G20. Alguns membros do atual governo poderão também ser selecionados, como o assessor especial da Presidência da República, Frederico Assis ou Rodrigo Rollemberg, secretário de Economia Verde de Alckmin. Ou Mauro O’ de Almeida, ex-secretário de estado de Meio Ambiente do Pará. A líder indígena Txai Suruí e Janja, que tem um mestrado em Gestão Social e Sustentabilidade, estão sendo cotadas também.
Mas Janja seria uma escolha nepotista inapropriada para uma democracia. Carlos Nobre seria uma boa opção, se o governo mostrasse preferência por um acadêmico. Estas são as 16 pessoas citadas como “prováveis” pelos líderes do ecossistema brasileiro de clima, contatadas pela coluna nas últimas duas semanas, que incluíram membros do governo, empresários e investidores, gestores do terceiro setor e jornalistas especializados.
A tentação do governo será o de criar uma estrutura em rede, juntando vários destes nomes, encabeçada por um Campeão e com vários subcampeões temáticos e até regionais. É uma forma de decidir não decidindo, dificultando a coordenação dos esforços para usufruto ótico. Se for adiante com este modelo, a pessoa selecionada terá de ser verdadeiramente agregadora. Quem será?
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