Em 2030, segundo estimativas, 1,2 bilhão de mulheres, ou quase 1/4 do planeta, terá passado pela menopausa. O aumento global da expectativa de vida significa que, num futuro próximo, muitas estaremos vivendo um terço de nossas vidas como pós-menopáusicas.
Um terço, gente. Não o resto, mas parte substancial de nossas vidas.
O que me faz lembrar da minha tia de 81 anos, atualmente passando pela 8509ª quimioterapia e pelo quarto câncer, mas com o apetite muito bem, obrigada, compartilhando fotos de deliciosos pratos japoneses que prepara depois das sessões para “se recuperar”. Quando perguntei como foi a menopausa para ela, me respondeu:
“Vixe, Su! Faz taaanto tempo que eu nem lembro!”
Celebridades tão diversas como Michelle Obama, Luana Piovani, Angélica, Naomi Watts (que acaba de lançar livro contando sua experiência com a menopausa precoce aos 36 anos, ainda inédito no Brasil), Oprah Winfrey, Fernanda Lima (autora do podcast Zen Vergonha), Halle Berry, Julia Louis-Dreyfus (com o brilhante podcast Wiser Than Me, que virou inspiração para o Se ela não sabe, quem sabe?, da Tati Bernardi) e inúmeras mais têm falado abertamente sobre suas experiências com a peri e a pós-menopausa.
A revista Forbes estima que o mercado para mulheres 45+ seja de 600 bilhões de dólares.
Clico num post sobre menopausa e saltam logo outros 50 com:
memes sobre calorões
dica de médica influencer
receita anti-inflamatória
explicação científica
Ou trecho de programa de tevê com mulheres exaltando o empoderamento pessoal na menopausa, o f##da-se liberador do envelhecimento folicular.
Em suma: a menopa (sim, somos íntimas) tá na boca do povo, rapidamente saindo do armário, on fire, com purpurina e reposição hormonal na testa, na mira da economia e das marcas de cremes pra rugas, e esse protagonismo é mais do que ótimo, é necessário.
Mas, aí, esbarro também numa grande sensação paradoxal.
Imersa na minha experiência íntima de menopáusica precoce, entre a vagina seca, a névoa mental e uma microdepressão, um pensamento disruptivo brilha no escuro, relâmpago, quase mal-estar: ao mesmo tempo,
A MENOPAUSA NÃO EXISTE.
Não existe: porque ainda é invisível e invisibilizada em muitos contextos. Quase 70% das brasileiras entrevistadas em uma grande pesquisa de 2022 (Essity) ainda consideram que a menopausa é um tabu, e mais da metade prefere não falar sobre o tema.
Não existe: porque não é uma Patologia ou Disfunção com nome e sobrenome, dessas que a gente entrega em papelzinho no RH (embora este tema comece a estar em pauta em alguns países, lado a lado com a licença menstrual);
Não existe: porque a surpreendente maioria das mulheres 40+ do meu círculo até há pouco sequer tinha ouvido falar na perimenopausa, o verdadeiro início da transformação;
Não existe: porque muitas ainda sofrem em silêncio, numa etapa vital épica em que podem coincidir crises, desafios profissionais, filhos, divórcios e outras fontes de estresse (ou redenção) colossal;
Não existe: na Pubmed, uma das maiores fontes de estudos científicos do planeta, há mais de 1 milhão de estudos sobre gravidez, 98 mil que citam menopausa e pouco menos de 6.500 sobre perimenopausa (embora esses números estejam aumentando exponencialmente desde os anos 1990);
Não existe: porque existem tantas menopas quanto tantas somos.
Continua…
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