O escritório virou palco. A reunião, um roteiro mal ensaiado. E o LinkedIn? Virou o novo Instagram corporativo onde todo mundo parece estar fazendo história, menos dentro da própria empresa.
Vivemos a era da performance profissional. Textões emocionantes tomam o lugar das planilhas bem-feitas. Frases de impacto substituem entregas reais. E, aos poucos, a embalagem está engolindo o conteúdo.
Já vi profissionais medianos virando referência, não por competência, mas por dominarem o jogo da narrativa. Gente que sabe usar o vocabulário da moda, que aplica storytelling em qualquer detalhe do dia, que transforma um atraso no café em “case de superação” e é ovacionada por uma plateia que confunde carisma com consistência.
Enquanto isso, os profissionais que realmente entregam resultado seguem nos bastidores. São aqueles que não têm tempo de montar carrossel no Canva porque estão salvando o projeto que ninguém quis assumir. Só que hoje, o palco não é deles. É de quem brilha no feed.
O resultado dessa inversão? Empresas promovendo quem brilha mais na timeline do que no relatório. Líderes que escrevem sobre coragem, mas travam diante de qualquer decisão impopular. Colaboradores que viralizam no post, mas somem da planilha de entregas.
O culto à imagem chegou ao mundo corporativo e está se tornando norma. Hoje, a pessoa que sabe transformar um perrengue corriqueiro em “manifesto de liderança vulnerável” tem mais visibilidade do que quem resolve crises silenciosamente. O LinkedIn virou palco de coach corporativo disfarçado de colaborador do mês.
Não é sobre rejeitar a comunicação, pois ela é essencial. Saber se posicionar é uma habilidade valiosa. O problema é quando o marketing pessoal substitui a competência técnica e emocional. Quando a pose toma o lugar da entrega. Quando a estética supera a ética. Quando a narrativa é mais bem construída que o próprio projeto.
E aqui vai um alerta: não é quem performa que merece o aplauso, é quem sustenta. A pergunta que precisa ser feita nas empresas, nos times e nos RHs é simples: quando o brilho do engajamento passar, o que vai sobrar? Quem vai segurar o resultado quando a cortina fechar?
Porque sim, o profissional do futuro precisa comunicar. Mas ele também precisa executar. Inspirar, sim, sempre, mas com base. Com profundidade. Com prática. O perigo está em aplaudir demais quem aprendeu a parecer. E esquecer quem, no silêncio, faz acontecer.
E há outro perfil que a performance protege: o colaborador que vive em trânsito interno. Que está sempre andando apressado, entrando e saindo de reuniões, com ares de urgência, mas que, na prática, não entrega. Sem KPIs, sem métricas, sem medição real, esse perfil se mantém intocável. Ocupa espaço com narrativa de utilidade e ninguém ousa questionar.
Empresas que não colocarem um filtro de realidade sobre essa nova estética corporativa vão pagar caro. Caro em produtividade, em cultura, em resultado. Porque a estagnação, quando vem maquiada de inovação, é ainda mais perigosa.
Curtida não paga fornecedor. Carrossel motivacional não segura cliente. Texto bonito não fecha contrato. O que paga o boleto é entrega. O que sustenta um time é resultado e o que garante crescimento é verdade.
Na era da vitrine, o desafio é simples: sair do feed e voltar para a essência. Ser menos postável e mais indispensável.
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