A Mancha Verde, torcida organizada do Palmeiras envolvida em confusão neste domingo (27), é rompida com a diretoria do clube, ameaçou a atual presidente —que tem medida protetiva— e já foi proibida de frequentar estádios em São Paulo, mudando de nome para continuar.
O histórico de violência da organizada vem desde sua fundação, em 1983. Pouco mais de uma década depois, em 1995, o grupo foi impedido pela Justiça paulista de frequentar jogos de futebol após uma briga com a torcida Independente, do São Paulo, na qual morreu um tricolor.
Dois anos depois, ex-integrantes da Mancha Verde se reorganizaram e fundaram a Mancha Alviverde. O novo nome não pegou, a identidade do grupo tampouco mudou, e as brigas com rivais seguiram ocorrendo.
Em 2013, numa viagem à Argentina, o elenco alviverde foi atacado por membros da Mancha no aeroporto de Buenos Aires. No dia seguinte, Paulo Nobre, então presidente do Palmeiras, anunciou o fim de relações institucionais com a organizada.
A ruptura fez com que a organizada perdesse facilidades na compra de ingressos. O mandatário seguinte a Nobre, Maurício Galiotte, seguiu afastado da torcida.
Depois chegou Leila Pereira, atual presidente. A Mancha a apoiou durante sua campanha à chefia do Palmeiras, e até 2022, a Crefisa, empresa de Leila, patrocinava os desfiles da escola de samba da organizada no Carnaval.
Mas tudo mudou logo no início do mandato. Leila decidiu cortar vínculos e pediu a devolução de R$ 200 mil dados à Mancha para que seus integrantes acompanhassem o Mundial de Clubes em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Daí, a torcida iniciou uma onde de protestos contra a presidente. Tudo era questionado, da falta de reforços no clube ao avião comprado por uma empresa de Leila Pereira para o time do Palmeiras viajar.
A situação ficou ainda mais tensa em 2023. Durante uma live promovida pela Mancha, ameaças foram endereçadas à gestora, que procurou a Justiça de São Paulo.
O juiz Fabrício Reali Zia determinou então que o presidente da organizada, Jorge Luis Sampaio Santos, e os vice-presidentes Thiago Melo, o Pato Roko, e Felipe de Mattos, o Fezinho, estão proibidos de terem contato pessoal ou virtual com Leila Pereira. Também precisam manter uma distância de 300 metros da presidente.
Emboscada em São Paulo
Um ônibus da Máfia Azul, torcida do Cruzeiro, foi interceptado pela Mancha Verde por volta das 5h deste domingo, na altura do km 65 da rodovia Fernão Dias, em Mairiporã, na região metropolitana de São Paulo.
O ataque seria um revide a um confronto entre eles em setembro de 2022, na mesma rodovia, mas em solo mineiro. Naquela ocasião, entre os agredidos estava o atual presidente da Mancha, Jorge Luis.
A ação deste domingo terminou com vários feridos e um morto, José Victor Miranda, 30. Natural de Sete Lagoas (MG), ele era motoboy, pai de um menino de sete anos e “um cara do bem”, segundo sua prima, Camila Vieira, 36.
Em nota, a direção da Mancha nega a autoria da emboscada, culpando um grupo isolado.
“Com mais de 45 mil associados, nossa torcida não pode ser responsabilizada por ações isoladas de cerca de 50 torcedores, que desrespeitam os princípios de respeito e paz que promovemos e defendemos.”
Os cruzeirenses voltavam de um jogo contra o Athletico Paranaense em Curitiba. O Palmeiras havia jogado contra o Fortaleza na capital paulista.
Renan Bohus, advogado dos torcedores do clube mineiro, disse que eles estavam dormindo no momento em que foram atacados.
“Os torcedores rivais jogaram pregos na via e, quando o ônibus parou, eles arremessaram coquetel molotov, rojão, várias bombas. Invadiram o ônibus com pedaços de pau e agrediram as pessoas.”
Segundo a PRF (Polícia Rodoviária Federal), os policiais encontraram no local do confronto, espalhados pelo chão, objetos usados para furar pneus, conhecidos como miguelitos, além de fogos de artifícios e bombas caseiras.
Um dos ônibus usados pelos cruzeirenses foi incendiado. Um segundo, depredado. Imagens que circulam nas redes sociais mostram o ônibus em chamas. Os vídeos também registraram o momento em que torcedores mesmo feridos são agredidos.