As empresas americanas Blue Origin e Virgin Galactic, que hoje oferecem voos espaciais suborbitais de turismo, em breve terão concorrência do outro lado do mundo. A empresa chinesa Deep Blue Aerospace anunciou na última quarta-feira (23) que passará a realizar seus próprios voos turísticos a partir de 2027.
A companhia está longe de ser uma fantasia de PowerPoint. Entre seus produtos está o foguete Nebula-1, atualmente em desenvolvimento, e que traz a característica essencial para a competitividade com suas concorrentes americanas: a reutilização.
Em setembro, a Deep Blue fez um teste de decolagem e pouso vertical do Nebula-1, que chegou muito perto de ter sucesso completo. A descida controlada, com retropropulsão, levou o veículo exatamente ao ponto de descida, mas então o desligamento súbito dos motores deixou que o foguete caísse com muita força sobre a plataforma, o que ocasionou uma explosão.
Para 2025, a empresa espera demonstrar o pouso e a recuperação desse estágio do Nebula-1 para reuso, além de associá-lo a um segundo estágio para realizar lançamentos orbitais, com capacidade para a colocação de até duas toneladas em órbita terrestre baixa. Também está prevista a recuperação do primeiro estágio para reuso.
Em 2026, a ideia é trocar o segundo estágio por uma cápsula, similar à do veículo New Shepard, da americana Blue Origin, e com ela realizar voos suborbitais –nada é colocado para dar voltas em torno da Terra, missão que exige energia muito maior, mas o veículo faz uma breve visita ao espaço antes de retornar ao chão.
Elevando-se a uma altitude de 100 a 150 km (cruzando portanto o limite arbitrário entre a atmosfera e o espaço, a chamada linha de Kármán), ele ofertará a seus seis passageiros cerca de cinco minutos de imponderabilidade –a sensação de ausência de peso que marca os voos espaciais.
Caso tudo isso dê certo, os voos comerciais devem começar em 2027, e o preço da passagem anunciado é de US$ 210 mil. A concorrente Blue Origin não divulga seus preços, mas informações não oficiais dão conta de que cada assento sai hoje por volta de US$ 1 milhão. O primeiro passageiro pago da empresa venceu um leilão pelo assombroso valor de US$ 28 milhões.
Vale lembrar que esses preços são ditados não pelos custos da operação, mas pelo virtual monopólio sobre o mercado, sombreado apenas pela fraca competição da Virgin Galactic, que segue claudicante em sua operação comercial e cobra entre US$ 800 mil e US$ 450 mil por passageiro. Com uma competição robusta, todo mundo vai ter de repensar sua política de preços –para baixo.
E não custa lembrar que a China parece ser o único país realmente levando a sério a revolução que a reutilização de foguetes proporciona. A Deep Blue também está desenvolvendo o Nebula-2, foguete que poderia competir com o Falcon 9, da SpaceX, e ela é apenas uma das várias startups chinesas trabalhando em lançadores reutilizáveis.
Há planos no cardápio do programa espacial chinês para veículos que possam competir tanto com a família Falcon como com o poderoso Starship. A China está atrás no desenvolvimento, é verdade, mas em questão de alguns anos poderá acabar com a atual hegemonia da SpaceX no envio de cargas úteis ao espaço. Europeus, russos e japoneses, tradicionais players no mercado de lançamentos, seguem adormecidos diante da revolução que se avizinha.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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