Funcionários do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) prometem cruzar os braços nesta quarta-feira (30) em protesto contra o que chamam de desmonte do órgão ligado ao Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária).
A paralisação deverá envolver unidades de sete estados, inclusive São Paulo, e do Distrito Federal.
O Inmet, que completa 115 anos no próximo dia 17, é o serviço oficial de meteorologia do Brasil. Suas informações subsidiam diversas políticas públicas, como a Política Nacional de Mudança do Clima, e servem de alerta para órgãos de prevenção a tragédias, como a Defesa Civil.
Recentemente, a Condsef (Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal) enviou um documento ao ministério e ao Palácio do Planalto alertando sobre a paralisação de diversos serviços por causa de orçamento enxuto, entre eles monitoramento meteorológico e atendimento ao público e aos veículos de comunicação.
Na carta, a entidade afirma que o instituto tem o menor orçamento anual de sua história e que o valor é cerca de 25% do necessário para o correto funcionamento.
O orçamento, de acordo com a confederação, que era de R$ 29,1 milhões em 2020, caiu para R$ 11,5 milhões no primeiro semestre deste ano.
“Para os mais diversos setores da sociedade, a demanda é crescente por informações meteorológicas e climatológicas de qualidade, bem como por previsões e alertas antecipados de tempo severo —estes se tornando mais e mais frequentes com as mudanças climáticas. Para suprir tal demanda há que se ter uma estrutura, corpo técnico, investimentos e celeridade compatíveis a um serviço meteorológico de soberania nacional”, diz trecho do documento.
Segundo Ismael José César, diretor da confederação, a situação do Inmet “é dramática”. “Está faltando tudo, desde pessoal a estrutura”, diz ele, que fez carreira no instituto.
Em nota, o governo Lula (PT) afirma que, para tornar o Inmet mais eficiente, o ministério tem trabalhado na reestruturação do instituto e na “construção do planejamento estratégico da instituição”.
Sem citar cortes, a pasta diz que está implementando medidas de ampliação do escopo de atuação do Inmet e de melhora da qualidade de serviços e do quadro de servidores.
A falta de profissionais no serviço público de meteorologia foi mostrada pela Folha há quase um ano. Em dezembro de 2023, o Inmet contava conta com apenas 27 meteorologistas para prever e alertar estados e municípios sobre os reflexos das mudanças climáticas em curso.
A unidade do Inmet que cuida dos serviços de meteorologia nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul conta apenas com quatro servidores de carreira e oito terceirizados —eram dez, mas dois foram desligados nesta terça-feira (29).
A previsão é que em 2025 sejam contratados 80 servidores de nível superior concursados, sendo que 40 vagas são para meteorologistas. “Mas é insuficiente para retomar os quadros do instituto”, afirma César, da Condsef.
No documento enviado ao governo, a confederação alerta para o fechamento de estações meteorológicas centenárias reconhecias pela OMM (Organização Meteorológica Mundial) como observatórios climáticos do planeta.
Também relata que estações estão em situação de abandono. “Por falta de servidor para fazer a coleta de dados, estações manuais estão inócuas”, afirma o diretor da confederação.
O governo diz que a compra de 98 novas estações meteorológicas via crédito extraordinário, no valor de R$ 25 milhões, está em processo de finalização.
Em nota, o ministério cita ainda a aquisição, instalação e manutenção de 220 estações meteorológicas automáticas e da sala de monitoramento do clima, no valor de R$ 49 milhões.
No documento enviado ao Mapa, a confederação diz que é “notório o desconhecimento quanto à importância e finalidades distintas das estações convencionais e automáticas”.
“A gestão vem promovendo o fechamento intransigente das estações convencionais, sob a alegação de modernização ou de ‘digitalizar’ a instituição.”
Ainda na nota enviada à reportagem, o ministério ressalta compromisso em manter a operacionalidade necessária para a evolução institucional, técnica e de infraestrutura, “garantindo a continuidade das atividades, atendendo de maneira mais eficiente às demandas nacionais no campo da meteorologia”.