Foi aos 38 anos que Rodrigo Mendes, um economista do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Social) que gostava de correr pelas belas paisagens do Rio de Janeiro, descobriu, numa consulta que imaginava rotineira, ser portador do mal de Parkinson juvenil, doença degenerativa responsável pelas travadas que sentia havia dois anos nas pernas e pelos ainda pequenos tremores na mão direita. “Foi um susto”, lembra ele, hoje com 51 anos. “Foi um golpe muito duro, levei uns seis meses para assimilar tudo, me via daí a pouco numa cadeira de rodas, e até conseguir sair desse buraco foi bem difícil, ganhei 15 quilos e uma tremenda depressão”. Só que a vida lhe ofereceu uma nova chance de mudar esse futuro: o montanhismo.
A história de Mendes, que saiu do fundo desse buraco para os picos mais altos à mão, à base de muitas horas de musculação, Pilates, pedaladas, malabares, natação e orientação especializada, é o tema do curta-metragem Despertar, que será exibido no próximo dia 9 de novembro no Rio Mountain Festival, no Rio de Janeiro. Dirigido por Rafael Duarte e Karina Oliani, o documentário já ganhou dois prêmios relevantes: o de melhor filme (escolha da audiência) no Rocky Spirit, de São Paulo, e o de melhor curta-metragem do Cine Health Film Festival, mostra de filmes de Saúde dos EUA.
A saída do buraco passou por uma série de atividades esportivas às quais dedica três horas diárias. “Comecei a fazer coisas que eu não fazia antes da doença, testar meus limites, as pessoas ficavam surpresas ao ver que conseguia fazer atividades que muita gente mais jovem, com mais saúde, não conseguia”, acrescenta, ressaltando que está em melhor forma física hoje do que antes do diagnóstico.
E, como desafio e montanhismo são palavras que costumam andar juntas, Mendes focou as pirambeiras mais próximas, que antes só via do chão, no caso, as encostas das montanhas cariocas. Dali, ao ver que conseguia equilibrar o controle dos movimentos ajustando a medicação específica, partiu para além das fronteiras do país. Subiu, por exemplo, o Huayna Potosi, com 6.088 metros de altitude, na Bolívia, e o Kilimanjaro, cume mais alto da África, na Tanzânia, com 5.895 metros. Dali, quis tentar o cume do Aconcágua, a montanha mais alta da América do Sul, com 6.961 metros, mas o mau tempo impediu a finalização da jornada a poucos metros da chegada —por enquanto.
“No começo, as pessoas que não são próximas não percebem que tenho a doença, e se falo não acreditam, porque a medicação controla os sintomas, e a reforço para as subidas”, explica ele. “Mas quando chega a hora de descansar, no acampamento, reduzo a dose de dopamina e os sintomas aparecem claramente, as travadas, os tremores, e aí as pessoas ficam impressionadas, ainda mais quando, no dia seguinte, volto à trilha normalmente”, acrescenta, apontando que, se no começo evitava falar de sua condição, hoje a mostra sem problemas: “Não sinto vergonha mais, sinto orgulho”, afirma.
Para o diretor e também montanhista Rafael Duarte, o filme vai muito além da boa história de superação de problemas. “O título Despertar vem do despertar para uma nova vida, para o autocuidado, para o contato intenso com a natureza”, explica. “Cada um vai sentir o filme de um jeito, mas se as pessoas saírem do cinema com vontade de se movimentar e buscar uma vida mais ativa e ao ar livre, nosso objetivo terá sido alcançado”, aponta.
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