Faltando apenas quatro dias para as eleições nos Estados Unidos, marcadas para ocorrerem nesta terça-feira (5), um certo clima de tensão e desconfiança parece ter se instaurado em algumas partes do país, especialmente na Pensilvânia, um estado-pêndulo considerado por analistas como crucial para definir o novo chefe da Casa Branca.
No local, denúncias de supostos casos de fraude eleitoral estão sendo amplificadas nos últimas dias, principalmente por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, candidato do Partido Republicano à presidência, o que tem levantado preocupações entre eleitores sobre a integridade do processo eleitoral no estado.
Segundo informações do jornal americano The Wall Street Journal, desde eventos em locais de votação até vídeos nas redes sociais, as alegações de supostas tentativas de fraudar o processo eleitoral têm circulado rapidamente e gerado desconfiança antes mesmo do dia da contagem dos votos. A conquista da Pensilvânia, com seus 19 delegados, é um dos alvos centrais tanto de Trump quanto de sua adversária, a atual vice-presidente Kamala Harris, candidata do Partido Democrata. A disputa no estado é uma das mais acirradas neste pleito, com um empate técnico entre o republicano e a democrata.
Recentemente, um incidente que ganhou destaque ocorreu na cidade de Erie (na Pensilvânia), onde um influenciador republicano afirmou ter descoberto que 53 eleitores estavam registrados com um endereço de uma Igreja Católica, onde supostamente não residia ninguém. A afirmação, no entanto, foi rapidamente desmentida quando a mídia americana divulgou que na Igreja habitavam 55 freiras da Ordem de São Benedito, que haviam feito as inscrições. Apesar da rápida correção, o relato inicial se espalhou pelas redes sociais, exacerbando o temor entre apoiadores de Trump sobre a possibilidade de irregularidades no processo eleitoral.
A situação em Erie não foi um caso isolado. Denúncias semelhantes surgiram no condado de Bucks, no subúrbio da Filadélfia, onde relatos indicavam que eleitores republicanos haviam sido impedidos de solicitar cédulas de votação devido ao fechamento prematuro de filas nos locais onde ocorre a distribuição do documento. Trump, em resposta, chegou a mover uma ação judicial contra o condado, alegando que a situação violava as leis eleitorais do estado. Autoridades afirmaram posteriormente que o caso não se tratava de uma tentativa de impedir os eleitores de solicitarem as cédulas e sim de uma má comunicação que fez que com os responsáveis pelo local fechassem o estabelecimento antes da hora. Apesar da justificativa, o episódio rapidamente se tornou tema de discussão nas redes sociais, onde apoiadores criticaram a gestão do processo de registro de votos na Pensilvânia.
Nesta quarta-feira (30), Trump declarou em sua rede social, a Truth Social, que a Pensilvânia estaria sendo alvo de “fraudes em larga escala” e mencionou em um comício no estado um caso ocorrido no condado de Lancaster, onde autoridades afirmam que estão investigando 2,5 mil registros eleitorais que podem ter sido fraudados, já que, segundo investigações, eles teriam sido preenchidos com informações de identidade incorreta e entregue nos locais de votação no mesmo dia. Há ainda uma suspeita de que a caligrafia era semelhante em todos os documentos, o que poderia indicar que eles possam ter sido fraudados por uma única pessoa.
“Pensilvânia está trapaceando e sendo pega em uma escala em grande nível raramente vista antes. Relate a trapaça às autoridades. A lei deve agir, agora!”, escreveu Trump em sua publicação.
O secretário de Estado da Pensilvânia, Albert Schmidt, que é do Partido Republicano, expressou preocupação com a rápida disseminação de informações sobre supostas fraudes no estado, alegações que, segundo ele, podem estar recheadas de “informações enganosas”. Em uma coletiva de imprensa, Schmidt ressaltou que “compartilhar postagens de redes sociais repletas de “meias verdades ou até mesmo mentiras descaradas” é “prejudicial para a nossa democracia representativa”.
Musk e as denúncias sobre imigrantes
De acordo com o The Wall Street Journal, o empresário Elon Musk, dono do X e apoiador de Trump, também tem participado ativamente sobre a discussão de supostas denúncias de fraude, interagindo com publicações no X que sugerem que o sistema eleitoral da Pensilvânia poderia estar sendo comprometido.
Além do caso da Pensilvânia, Musk também tem denunciado o uso do voto de imigrantes ilegais como uma das vias para a suposta fraude eleitoral. Nos últimos meses, o empresário sugeriu que a eleição de 2024 poderia ser “a última eleição livre” se as supostas irregularidades envolvendo a votação de imigrantes ilegais “não forem investigadas” agora. Suas publicações sobre as eleições nos EUA e denúncias de irregularidades no pleito são amplamente compartilhadas por usuários nas redes, atraindo o apoio de milhões de seguidores que compartilham o receio de uma possível “manipulação” do processo eleitoral.
As alegações sobre fraudes eleitorais não têm se restringido apenas à Pensilvânia. No Texas, por exemplo, o procurador-geral Ken Paxton, moveu uma ação judicial contra o governo do presidente Joe Biden, do Partido Democrata, acusando-o de não colaborar adequadamente na verificação da cidadania de aproximadamente 450 mil eleitores registrados no estado, suspeitos de estarem inscritos para votar de forma irregular. Esta ação se insere em um contexto mais amplo de alegações de registros irregulares de eleitores em vários estados controlados por republicanos.
Na Virgínia, o governador republicano Glenn Youngkin anunciou a remoção de 1,6 mil eleitores das listas de votação, alegando que esses indivíduos não conseguiram comprovar a cidadania e eram suspeitos de serem “não cidadãos” irregularmente inscritos para votar. O termo “não cidadãos” abrange tanto residentes legais dos EUA (portadores de Green Card) que ainda não se naturalizaram quanto imigrantes ilegais.
Youngkin defendeu a medida, ressaltando que o processo é parte de um procedimento que existe há anos e que as pessoas têm a oportunidade de se registrar no mesmo dia da eleição, o que poderia contornar possíveis erros, como o de ter excluídos eleitores que são de fato cidadãos americanos. O governo Biden até entrou com um recurso para que estes eleitores fossem novamente aceitos, no entanto, a Suprema Corte dos EUA dão luz verde para que o governo da Virgínia continuasse com a remoção de eleitores suspeitos.