Em um dia no ano 79 d.C., Pompeia conheceu sua tragédia. A erupção do Monte Vesúvio enviou uma nuvem de cinzas e rochas para a atmosfera, bombardeando o centro comercial e resort romano com uma chuva incessante de detritos vulcânicos.
Muitos residentes fugiram para salvar suas vidas, tentando encontrar segurança antes que as rochas vulcânicas se aproximassem. Nem todos conseguiriam —estima-se que 1.500 pessoas morreram em Pompeia.
Em um estudo publicado no fim de abril na revista Scavi di Pompei, cientistas descreveram os eventos em uma casa onde uma família buscou refúgio dentro de um quarto. A tentativa consistiu em empurrar uma cama de madeira contra uma porta numa tentativa de impedir uma inundação de rochas vulcânicas que caiam do céu.
O imóvel é conhecido como Casa de Hele e Frixo, devido a um afresco ricamente decorado na sala de jantar que retrata os irmãos mitológicos. Seu átrio, um cômodo com teto aberto no centro da residência, era usado para ventilação e coleta de água da chuva. Mas naquele dia a abertura permitiu que rochas vulcânicas invadissem o espaço.
As cinzas quentes que no fim enterraram a casa se solidificaram e deixaram uma impressão que os arqueólogos preencheram com gesso para reconstruir a forma da cama de madeira que permaneceu. A técnica ajuda a ilustrar o horror dos mortos de Pompeia em seus momentos finais e como itens cotidianos perecíveis feitos de madeira, têxteis e couro estavam distribuídos em seus ambientes.
Foram identificados os restos de quatro pessoas, provavelmente membros da mesma família. As rochas vulcânicas, que atingiram quase três metros de altura em alguns locais, não puderam ser controladas. Os pesquisadores acreditam que as vítimas fizeram uma última tentativa de fuga, deixando o pequeno cômodo no qual haviam buscado refúgio. Elas conseguiram chegar apenas até o triclínio, a sala de jantar formal onde seus restos foram localizados.
“A família na Casa de Hele e Frixo provavelmente morreu quando o chamado fluxo piroclástico, uma avalanche de cinzas quentes e gás tóxico, chegou e partes do edifício desabaram”, disse Gabriel Zuchtriegel, um dos autores do estudo.
Ele e seus colegas sugerem que as vítimas eram de uma família que ficou para trás e, entre elas, poderia haver pessoas escravizadas que trabalhavam lá. Ainda assim, não está claro se eles viviam lá ou simplesmente se refugiaram depois que os proprietários já haviam escapado.
“Não há certeza se os indivíduos encontrados na casa como vítimas faziam parte da família”, disse Marcello Mogetta, professor associado de arte e arqueologia romana da Universidade do Missouri que não participou do estudo.
Se os restos pertenciam ou não àqueles que eram de fato uma família, será algo que pesquisadores poderão tentar descobrir por meio de análise de DNA.
Família ou não, isso não muda a tragédia humana da história.
“Qualquer que seja a natureza de suas relações específicas, eles teriam sido as últimas pessoas a oferecer conforto umas às outras no final”, disse Barrett.