Donkey Kong Country Returns HD possui todas as características típicas de um jogo Nintendo: belo, repleto de carisma e com criatividade infinita. A história é quase inexistente e o multiplayer caótico, mas este remake mostra a pujança da mascote Donkey Kong.
Poucos são os estúdios no mercado que conseguem fazer jogos de plataformas com a qualidade e consistência de uma Nintendo: ela é mestre em criar experiências de alto gabarito que apelam a novatos e veteranos em igual medida, sempre repletas de gráficos coloridos, mecânicas imprevisíveis e grandes quantidades de carisma.
Super Mario poderá ser a saga que nos salta imediatamente à cabeça ao pensarmos em jogos de plataforma da Nintendo (o que é inteiramente justo), mas Donkey Kong em nada lhe fica atrás, partilhando dos mesmos elementos que tornam estes jogos tão especiais. É um pouco desapontante o facto de a Nintendo Switch não ter de momento um jogo inteiramente novo do adorável gorila, mas, para colmatar um pouco a desilusão, os fãs poderão desfrutar de Donkey Kong Country Returns HD já no próximo dia 16 de janeiro.
Esta é a 3ª iteração de Donkey Kong Country Returns
Esta é a terceira iteração do jogo, lançado inicialmente na Nintendo Wii, a novembro de 2010, e posteriormente na Nintendo 3DS, 3 anos depois. A característica mais óbvia neste remake para a Nintendo Switch são os seus gráficos melhorados, que em muito superam as suas versões anteriores: as cores são mais vivas, as animações mais realistas e todos os ambientes apresentam um nível de detalhe absurdo. Mesmo jogando na televisão, Donkey Kong Country Returns HD mostra que uma bela direção de arte pode ditar o sucesso gráfico de um jogo.
Seja no primeiro ou no segundo plano, existe sempre algo curioso a acontecer e, quando possível, é aconselhável parar e apreciar o mundo ao nosso redor. Num particularmente intenso, é possível ver um polvo gigante, bem lá no fundo, a atacar aquilo que parece ser um navio pirata. Por alguma razão, essa imagem ficou gravada na minha córnea, e esses são momentos que se vão repetindo ao longo do remake e que tanto charme lhe conferem.
O jogo segue uma lógica familiar para aqueles mais acostumados aos títulos da Nintendo: os jogadores poderão contar com 80 níveis em nove mundos diferentes, cada um deles com uma temática específica e um boss. Selvas traiçoeiras, mares agitados, penhascos periclitantes ou fábricas eletrizantes são alguns dos biomas que teremos obrigatoriamente de percorrer, cada um deles com mecânicas muito específicas.
Criatividade infinita
Existe algo sempre novo a acontecer no jogo, essencial para motivar-nos a prosseguir. Os diversos níveis do jogo ultrapassam-se sucessivamente em termos de criatividade, engenho e desafio, e existem muitos exemplos que o comprovam: tsunamis mortíferos, morcegos gigantes que lançam lasers, bolas de espinhos gigantes ou lava flamejante são algumas das múltiplas ameaças que temos de enfrentar.
Mas não se deixem enganar pela aparência adorável: Donkey Kong é um jogo desafiante, com laivos frequentes de impiedade. Por várias vezes dei por mim com uma vontade intensa de atirar a Switch. Lívido de raiva, mãos suadas. O jogo pode parecer muito fácil nas fases iniciais, mas a dificuldade escala exponencialmente até atingir graus verdadeiramente insanos. O nível de precisão exigido é altíssimo, são necessários reflexos muito rápidos e qualquer pequeno erro resulta em morte certa – a margem de manobra é pequeníssima, com uma vasta plenitude precipícios, armadilhas, inimigos e plataformas pequeninas com as quais temos de lidar.
Esta dificuldade acrescida é especialmente evidente nos níveis em que Donkey Kong faz uso de um foguetão ou de um carrinho de minas (se já jogaste um jogo da saga no passado, saberás certamente do que estou a falar). Estes níveis movem-se automaticamente e cabe ao jogador desviar-se dos diversos perigos que vão surgindo, sejam eles inimigos ou estruturas ambientais. Ao mais pequeno toque, o veículo explodirá/cairá, pelo que temos de estar sempre muito atentos e memorizar os obstáculos que ainda estão por vir para agirmos em conformidade.
Aqueles que gostam de ação e desafio vão deliciar-se. Donkey Kong Country HD Returns exige uma dedicação e foco incondicional, sendo que o segredo é não nos deixarmos desmoralizar pelas dezenas de mortes que vamos inevitavelmente sofrer. Esse é o objetivo do jogo: após muita tentativa e erro, conseguiremos finalmente ultrapassar as adversidades. Para os jogadores que procuram experiências mais digeríveis, o jogo tem vários sistemas em vigor que o tornam mais fácil, incluindo checkpoints abundantes, a capacidade de comprar vidas extras, poções que tornam o carrinho invencível ou um barril com Diddy Kong.
Diddy Kong salvou-me a vida
Diddy Kong foi o “MVP” em Donkey Kong Country Returns HD, e dei por mim a utilizá-lo sempre que possível. Às cavalitas em Donkey Kong, Diddy possui um pequeno jetpack que permite levitar durante uns segundos e, desta forma, fazer saltos mais precisos entre plataformas. Por várias vezes safou-me de morte certa! Caso o jogador esteja mesmo com muitas dificuldades (e nem com Diddy conseguem completar o nível), existe a possibilidade de deixar o próprio jogo completar o nível de maneira a poderem prosseguir com a história.
Este é um dos jogos de plataformas mais completos que tive a oportunidade de jogar nos últimos tempos, com um enorme grau de longevidade. Para além de completar cada um dos mundos, que já por si é uma tarefa complicada, existe ainda um sem-número de colecionáveis presentes em cada nível, conferindo-lhe uma camada extra de adrenalina. As letras K-O-N-G são um deles, um clássico da saga, e requerem destreza com os dedos de maneira a alcançá-las. Outros dos colecionáveis são as peças de puzzle escondidas nos recantos mais obscuros dos níveis, por vezes obrigando a completar desafios cronometrados para serem desbloqueadas.
O nível de desafio é intenso: por várias vezes consegui resgatar todas as letras KONG, mas em momento algum consegui reunir todas as peças do puzzle. Não é uma tarefa nada fácil!
O multiplayer cooperativo é um pouco problemático
O ADN Nintendo está presente em cada fibra de Donkey Kong Country Returns HD, quer para o bom, quer para o mau. A Nintendo nunca foi conhecida por criar histórias consistentes nos seus jogos e o mesmo pode ser dito neste remake, cuja narrativa é adorável mas que não possui qualquer tipo de suporte emocional. A lógica do jogo é simples e direta: completar os diversos níveis, derrotar o boss no final, saltar para o mundo seguinte. Se gostas e estás habituado à fórmula clássica dos jogos do estúdio (com especial ênfase para Super Mario), então saberás exatamente aquilo que te espera.
Resta-me apenas falar do multiplayer do jogo, que permite que duas pessoas joguem cooperativamente, cada uma com um Joy-Con. Fi-lo com a minha irmã, uma pessoa em nada versada no mundo dos videojogos, e o veredito não é positivo. Acredito que o jogo seja demasiadamente exigente para novatos que não estão familiarizados com o género de plataforma, tornando toda a experiência bastante monótona e complicada. Saltar para uma simples plataforma tornou-se numa tarefa hercúlea, e se o jogo já é traiçoeiro para um jogador, tudo torna-se caótico quando um segundo é adicionado. É possível que tudo seja mais fluído se ambos os jogadores forem gamers, que saberão de forma intuitiva aquilo que devem fazer: caso contrário, prepara-te para muita gritaria e discussão.
Enquanto esperamos por um novo Donkey Kong (com sorte, vem acoplado à Switch 2), Donkey Kong Country Returns HD é ideal para colmatar a saudade. O grau de dificuldade é ligeiramente elevado, com alguns momentos de exasperação pelo meio, mas com persistência e determinação, nada é impossível. O carisma e criatividade típicos da Nintendo podem ser vistos em cada píxel do jogo, com uns gráficos e banda-sonoras exuberantes que mostram a pujança infinita da saga.
Prós: | Contras: |
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