No comecinho do ano, em 5 de janeiro, Nova York implantou o pedágio urbano com o objetivo de reduzir os congestionamentos. Será que isso é uma ideia que merece ser discutida em nossas cidades?
Como funciona
Câmeras fotografam as placas dos carros e a cobrança é feita diretamente ao proprietário. O valor é relativamente alto: US$ 9 dólares para carro, US$ 4.50 para moto e a área de restrição é grande: vai da borda do Central Park até o sul da Ilha de Manhattan.
Como era de se esperar, a medida gerou reações acaloradas, principalmente por parte dos que entram e saem da cidade para trabalhar –os “commuters”, adicionando a nova taxa ao pedágio que já pagavam.
Com poucos dias de operação, porém, começaram a surgir alguns resultados. O movimento do metrô subiu 13% e o de ônibus 10%. Há menos filas de automóveis nos túneis. O dinheiro gerado, algo como US$ 15 bi, deve ser investido obrigatoriamente em melhorias no transporte público.
Londres – Aprendizados de quem começou antes
O pedágio na região central de Londres já tem mais de 20 anos e não se discute voltar atrás. Nesse período, o trânsito diminuiu 15% e o uso dos ônibus aumentou 30%. Vários trechos das ruas foram destinados a bicicletas e aumento das calçadas. A operação ganhou apoio como um instrumento para reduzir emissões de poluentes.
A taxa gerou um fundo destinado exclusivamente ao transporte público, pagando, inclusive pelas passagens de pessoas sem condições ou moradores da região afetada.
E aqui, faz algum sentido pensar nisso?
Congestionamentos são ruins para a qualidade da vida e para a economia. Quem mora em São Paulo sabe disso. Perdemos tempo, respiramos fumaça e ouvimos barulhos. A cidade perde vitalidade quando ninguém tem paciência para sair de casa.
Num contexto assim, qualquer ideia para melhorar a mobilidade precisa ser discutida. Entretanto, antes que o pedágio urbano, com seus muitos prós e contras, entre na pauta, há coisas que poderiam ser feitas já para melhorar a qualidade e os tempos de deslocamento na cidade.
Para começar, faz falta um pensamento mais estratégico da prefeitura e do governo estadual que resulte na prioridade inequívoca para o transporte público.
Sem alguma disposição intelectual para a conversa, qualquer ideia isolada não ganhará nem tração nem sentido.
Estamos dividindo adequadamente o espaço das ruas entre o transporte coletivo e o individual? Precisamos pensar em aumentar a restrição à circulação de carros ou podemos ir aumentando as vantagens relativas do transporte público? O rodízio de automóveis está funcionando? Faz sentido rediscutir a inspeção veicular? Quais são as opções para transportar as dezenas de milhares de pessoas da Grande São Paulo que hoje cruzam a cidade?
O fato de Nova York, a maior cidade do país que popularizou o automóvel, estar questionando a prioridade absoluta do transporte individual sobre o coletivo, é simbólico e deveria ser inspirador para a maior cidade brasileira.
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