“A gente não quer trem onde não cabe trem, mas onde couber, que essa seja a escolha.” A afirmação é da advogada Ana Patrizia Lira, há três meses diretora-executiva da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros Sobre Trilhos).
Após 22 anos de atuação no setor público em áreas que envolviam regulação e concessões de transporte, entre outras, a advogada, servidora de carreira da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), deixou a subsecretaria de acompanhamento econômico e regulação do Ministério da Fazenda para assumir a associação.
Num momento em que o setor ainda busca se recuperar dos reflexos da pandemia, e enfrentando problemas como furtos e roubos em sistemas ferroviários —especialmente no Rio—, a executiva afirma que é preciso pensar de forma metropolitana no transporte de passageiros sobre trilhos para que o sistema possa se desenvolver de forma sustentável.
“Onde cabe trem, tem de ser escolhido o trem e não algo que seja mais rápido. A gente também defende que não tem como colocar trem em todo lugar, porque nem todo lugar cabe. A gente não quer trem onde não cabe trem, mas onde couber, que essa seja a escolha, por todas as vantagens que tem o trem.”
Meio de transporte de alta capacidade, os trens e metrôs têm condições de gerar economia de tempo de deslocamento nos grandes centros urbanos, além de uma economia estimada em R$ 11,4 bilhões no custo operacional das vias, mas nos últimos cinco anos a expansão da malha urbana foi de apenas 38 quilômetros de trilhos no país. Todos os 21 sistemas em operação no Brasil somam 1.133,4 quilômetros.
“O setor de passageiros sobre trilhos é um que ninguém fala mal. Ele é sustentável, confiável, tem conforto e tem regularidade em relação aos horários. Ao mesmo tempo, apesar de tudo isso, ele ainda não decolou no sentido de ser desenvolvido com o potencial que, de fato, ele tem. É a partir daí que vem o desafio”, afirmou.
Segundo ela, o sistema de transporte sobre trilhos vai evoluir a partir de investimentos, melhorias regulatórias, planejamento e integração.
“Integração em relação ao modal, ao planejamento, à parte de tarifa, à governança. Foi a partir dessa visão, alinhada com os desejos dos associados, que a gente construiu um trabalho para o ano que vem muito focado nesses pilares, de buscar um melhor desenvolvimento, governança integrada, mecanismos de financiabilidade.”
A governança integrada, conforme a executiva, permitirá, a partir de um “esforço” conjunto, regionalizado, avançar. O sistema ferroviário regional é visto pelo setor como uma oportunidade para desenvolver uma indústria forte em 25 regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes cada.
“As questões do planejamento, da financiabilidade e da segurança jurídica, e a visão de política de governo têm uma figura que pode reunir todos esses atributos, que é a necessidade de as metrópoles terem uma governança integrada, mais conhecida como autoridade metropolitana. Não gosto muito dessa palavra, autoridade, para que não haja a visão dos municípios de que eles vão perder a autoridade, mas a governança integrada trará essa integração modal, tarifária e da governança, que permitirá planejamento de longo prazo e a evolução.”
A malha metroferroviária brasileira é composta por 536 quilômetros de trens urbanos, 307,5 quilômetros de metrôs, 274,6 quilômetros de VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos), 14,5 quilômetros de monotrilho e 0,8 quilômetro de people mover (sistema de trem entre a estação da CPTM e os terminais do aeroporto de Guarulhos).
Na última semana, Ana Patrizia participou de debates no Conselho Econômico Social Sustentável da Presidência da República, que incluiu em seu relatório recomendações da ANPTrilhos sobre mobilidade urbana sustentável.
As propostas versaram sobre políticas de financiamento do transporte coletivo e de incentivo justamente para criar a autoridade metropolitana, além de plano de mobilidade sobre trilhos e um programa de segurança jurídica para investimentos no setor.
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