O delegado Fábio Pinheiro Lopes, conhecido como Fábio Caipira, demonstrou indignação nesta sexta-feira (20) com a notícia de seu afastamento da direção do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), um dos órgãos mais importantes da Polícia Civil de São Paulo.
“[Estou] puto, puto. Não tem outra palavra. Uma injustiça. Tenho 32 anos de polícia. Você pode ver minha carreira, eu sempre trabalhei para a polícia. Tenho uma história aqui dentro. Agora, por causa de um ‘puta’ de um mentiroso a gente ser afastado… Mas eu tenho certeza de que tudo vai se esclarecer rapidamente”, afirmou em entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira, na sede da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, no centro da capital.
O governo paulista decidiu afastá-lo após divulgação de trechos da delação de Antônio Vinicius Gritzbach, 38, morto ao sair do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em novembro, implicá-lo.
O nome de Lopes aparece nas declarações feitas pelo delator do PCC ao Ministério Público de São Paulo, bem como o do deputado estadual Delegado Olim (PP) e o do ex-titular do 24º DP (Ponte Rasa) Murilo Fonseca Roque.
Gritzbach afirmou em delação que o advogado Ramsés Costa, que teria muita influência na polícia, fez proposta de um acordo, do qual Lopes, Olim e Roque fariam parte, para beneficiá-lo em investigações do Deic das quais era alvo.
O empresário era o principal suspeito de ser mandante do assassinato de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, em dezembro de 2021 na zona leste de São Paulo, e de outro membro do PCC. Em acordo de delação premiada, ele acusou policiais civis de exigirem propina para beneficiá-lo em investigações do Deic, como liberação do passaporte, desbloqueio de bens apreendidos, e não pedido de prisão.
Para tanto, o empresário deveria pagar R$ 5 milhões, sendo R$ 800 mil de honorários ao advogado e o restante em propina. Parte da propina teria sido paga em imóveis, cheques e mais R$ 300 mil em dinheiro.
Lopes nega veementemente as acusações.
“Que benefício ele teve no Deic? Tudo o que tinha que ser feito contra ele dentro da legalidade foi feito. Foi graças à nossa investigação que houve o acordo de delação premiada. Nós pedimos o bloqueio de 49 imóveis dele, de um helicóptero e de duas lanchas. O passaporte dele continua apreendido lá no Deic”, afirmou.
Segundo ele, o advogado esteve em sua sala uma vez, em 29 de abril de 2022, e disse que queria falar sobre Gritzbach.
“Eu direcionei para o delegado Rafael Cocito, que estava à frente da Delegacia de Crimes Patrimoniais no Deic. Ele falou que queria advogar para Gritzbach, mas não tinha procuração. O dr. Cocito explicou que sem procuração não era possível.”
O delegado estava à frente do Deic havia três anos, antes disso, era do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Lopes se reuniu com o delegado-geral de São Paulo, Artur Dian, e com Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública, quando soube oficialmente do afastamento.
“O governador [Tarcísio de Freitas] tem a postura dele de governo, ele está incomodado pelos fatos recentes que aconteceram com a PM, o fato que aconteceu da operação da Polícia Federal, e achou por bem que eu fosse afastado até que isso fosse comprovado ou não”, afirmou.
O delegado entrou em férias na última terça-feira (17). Se o caso não estiver resolvido até o começo de janeiro, quando se encerra o período de férias, ele deve ser deslocado para outra atividade.
“Até lá, se isso aqui for esclarecido, eles podem me falar, ‘Fábio, você quer ficar no Deic’? Eu vou pensar, mas não sei se quero, porque o que passei e estou passando com a minha família, eu não sei se compensa.”
Ele afirmou que diz acreditar que Griztbach tenha sido enganado pelo advogado, já que dois imóveis apontados como os que seriam usados para pagamento de propina foram transferidos do delator para o advogado e para a filha dele.
O deputado delegado Olim negou qualquer participação no caso.
“Não conheço, nunca estive ou recebi pessoalmente, o senhor Antônio Vinicius Gritzbach. Não mantive qualquer contato próximo ou mediato com essa pessoa. Nunca intermediei ou atuei pela gestão de procedimentos judiciais ou extrajudiciais a respeito dele, quem só soube existir quando do seu homicídio, publicamente divulgado, no aeroporto de Guarulhos”, afirmou.
A reportagem procurou Murilo Roque, mas as ligações e mensagens não foram atendidas. Pessoas ligadas a ele afirmaram que o delegado está indignado com a citação do seu nome nesse episódio porque ele diz jamais ter conversado com o diretor do Deic, com o deputado Olim, e com o advogado.