Região mais populosa do litoral paulista, a Baixada Santista concentra 9 das 10 praias mais sujas da costa de São Paulo no último ano. Espalhadas em quatro cidades, elas ficaram impróprias para banho em mais de 30 das 52 medições anuais —a partir de 26, já são consideradas péssimas.
A pior praia na Baixada é a Perequê, em Guarujá, que ficou imprópria em 51 medições semanais feitas pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). Isso significa que somente em uma semana no período de novembro do ano passado a outubro deste ano ela esteve própria para banho.
Nas demais, sempre que o banhista chegava à praia encontrava uma bandeira vermelha instalada pela Cetesb, indicando que ela estava inadequada. A praia tem avaliação péssima desde 2016, em todos os levantamentos anuais feitos pela Folha.
Há somente mais uma praia suja em 51 das 52 análises semanais: Itaguá, em Ubatuba, a única do litoral norte a figurar na lista das dez mais sujas do estado.
As demais ficam em São Vicente, Praia Grande e Mongaguá. Compõem a Baixada Santista ainda Santos, Bertioga, Itanhaém, Peruíbe e Cubatão, região que concentra cerca de 82% dos habitantes do litoral, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O litoral norte responde por 16%, enquanto o sul, por 2%.
Praia Grande é a cidade com mais praias sujas, quatro das dez: Vila Tupi (imprópria em 47 das 52 medições), Vila Mirim (39 semanas impróprias), Boqueirão (35) e Balneário Flórida (32).
Ela é seguida por São Vicente, com três: Prainha (imprópria em 47 medições), Gonzaguinha (46) e Milionários (44). Mongaguá completa a lista das dez mais sujas, com a praia de Vera Cruz, imprópria em 31 medições semanais feitas pelo órgão ambiental paulista.
Praia de pescadores, Perequê tem algumas áreas que precisam de melhorias de saneamento, o que já foi motivo de debates em anos anteriores com a prefeitura, de acordo com Cláudia Lamparelli, gerente do setor de águas litorâneas da Cetesb.
“É uma preocupação, que eu acredito que tomarão algumas medidas corretivas lá. Não é o fato de ela ser de pescador que define estar suja ou não. Ela tem atividade de pesca mais intensa, mas isso também faz com que acabe não tendo tantos banhistas”, disse.
Já em São Vicente, na avaliação da gerente, o problema existe devido à situação geográfica do município e às moradias irregulares, em palafitas.
“A maioria das praias fica na baía, que tem uma circulação de água bem prejudicada, e muita contribuição do estuário, com ocupações irregulares. São locais onde não há condição de colocar rede de esgoto.”
A prefeitura tem investido nos últimos anos para buscar a melhoria da qualidade da água e, embora o cenário continue ruim, houve diminuição da média de bactérias.
Nadar em áreas consideradas impróprias para banho pode provocar problemas de saúde, principalmente doenças gastrointestinais ou de pele, como micoses. Outros focos de contaminação, que não são considerados na análise, podem ser a presença de lixo na areia das praias –ou até mesmo desastres ambientais como o vazamento de óleo que atingiu o litoral nordestino em 2019.
Especialistas recomendam, além de o banhista não entrar na água quando ela estiver imprópria, que evite tomar banho no mar depois de chuvas intensas.
O cenário verificado nas outras cidades da Baixada contrasta com o de Santos, mais populoso município da região e que, pela primeira vez desde 2017, não teve uma praia sequer classificada como péssima –são sete locais analisados semanalmente.
Cinco dos pontos foram avaliados como ruins (Ponta da Praia, Boqueirão, Gonzaga e José Menino, esta com dois locais) e dois, como regulares (quando a praia está imprópria em até 25% das medições), o que indica a melhora gradual na balneabilidade.
É a primeira vez desde 2016 que praias santistas alcançam a classificação regular. Em 2022, todos os sete pontos analisados estavam péssimos, enquanto no ano passado quatro locais foram classificados como péssimos, e outros três, como ruins.
Os dois pontos regulares deste ano ficam nas praias Aparecida (em frente à rua Marechal Rondon) e Embaré (em frente à Casa da Vovó Anita). No ano passado, ambos estavam ruins e, no anterior, péssimos.
Para a gerente da Cetesb, além de medidas de saneamento adotadas de forma gradual nos últimos anos, também contribuiu para a melhora a estiagem severa que atingiu São Paulo neste ano. Com menos chuvas, menos detritos são carreados para o oceano.
DESAFIO CONTINUA
A melhora na balneabilidade em Santos, porém, contrasta com o dia a dia desafiador de quem conhece bem as águas. “A maré traz detritos de todos os tipos”, disse o aposentado Sidnei Alves Hurtado, 60.
“Às vezes a água fica suja na medida em que a maré aumenta e arrasta coisas de outros lugares”, disse o empresário Danilo Duarte, 45, que pratica natação com frequência no lugar. “Fora que ainda surgem muitos galhos na água nos dias seguintes às chuvas mais fortes.”
Recém-chegado a Santos, o goiano Samuel Bueno, 27, disse ter se acostumado a ver a bandeira verde da Cetesb no trecho de Aparecida, indicando que a praia está limpa.
“Gosto e aproveito. A gente percebe que a água é boa. Mas também vejo detritos. Esses dias apareceu até um pedaço de madeira com prego. É uma situação até comum quando chove, o mar fica mais mexido e traz essas coisas.”
Na praia do Embaré, perto do orfanato Casa da Vovó Anita, a professora Rosana Macario Bitencourt, 29, costuma aproveitar os dias de sol com amigas. Exatamente ali, a poucos metros do número 48 da avenida Bartholomeu de Gusmão, fica o segundo trecho que foi de ruim para regular na balneabilidade.
“Não tenho queixa. A gente tem ido para o mar sem problemas, nunca tive problemas de pele ou coisa parecida por entrar nessa água […] Sou santista e um pouco bairrista. Defendo minha cidade porque é organizada e limpa. A qualidade do mar, estando melhor, é algo bom para todo mundo.”