As buscas online por Ayrton Senna aumentaram 2.400% após o lançamento da série sobre o piloto na Netflix. Um dos temas mais procurados é sua relação com a religião, abrangendo desde especulações sobre quando e onde ele reencarnaria até debates sobre sua espiritualidade. De todos, destaco a entrevista com Alex Ribeiro, ex-piloto de Fórmula 1, evangélico e líder do ministério Atletas de Cristo.
Alex relata que Senna foi convertido à fé evangélica pela pastora Neuza Itioka. O contato entre eles teria sido intermediado por Viviane Senna, que conheceu a pastora enquanto cursava psicologia e participava da Aliança Bíblica Universitária (ABU), um ministério voltado à evangelização e ao apoio de jovens cristãos universitários.
Segundo Alex Ribeiro, Senna enfrentava uma fase difícil na Fórmula 1. Apesar de já ser reconhecido como o melhor piloto da época, enfrentava problemas nas pistas que o impediam de vencer. A pastora Neuza teria identificado que a causa dos acidentes seria de natureza espiritual, decorrente de “trabalhos” feitos contra ele. Após uma oração de libertação espiritual realizada por Neuza, Senna venceu três corridas consecutivas.
Em 2017, a pastora publicou em sua página no Facebook um relato sobre o dia em que teria orado com Senna para que ele aceitasse Jesus. Em uma entrevista de 1990, o piloto não menciona o nome da pastora, mas descreve sua experiência espiritual em termos familiares ao segmento evangélico pentecostal.
“Eu descobri, há um ano e meio ou dois anos, através de Jesus, uma força, uma fé incrível que me deu energia, tranquilidade e equilíbrio em muitos momentos de desequilíbrio, de dificuldades […] A partir do momento em que eu pude experimentar toda essa força, ter essa experiência que eu tive, foi algo que eu não larguei mais e não pretendo largar, porque é uma experiência fantástica.”
Voltando à pergunta inicial: Ayrton Senna se tornou evangélico? A resposta é negativa, caso o termo seja entendido como alguém que foi batizado por um pastor e se tornou membro de uma igreja. Porém, entre evangélicos, há uma diferenciação entre ser membro de uma igreja e ser salvo por Cristo, sendo esta última a questão mais importante da vida religiosa de uma pessoa.
Predomina, no Brasil, a compreensão do pietismo avivalista norte-americano de que a salvação ocorre por meio de uma oração em que se aceita Jesus Cristo como Senhor e Salvador. De acordo com os testemunhos de Alex Ribeiro e Neuza Itioka, Ayrton Senna teria feito essa oração.
O reverendo Sabatini Lalli, pastor presbiteriano e sogro de Viviane Senna, realizou o sermão no funeral do piloto. Na mensagem, afirmou: “Senna obteve inúmeras vitórias no esporte, mas também a vitória que Deus lhe deu, ou seja, a salvação em Cristo.”
Outro elemento na identidade evangélica é a leitura regular da Bíblia. Senna, ainda de acordo com Alex Ribeiro, tornou-se leitor da Bíblia utilizando a versão evangélica “Bíblia na Linguagem de Hoje”. Na lápide de sua sepultura, no Cemitério Parque do Morumby, em São Paulo, está escrito: “Nada pode me separar do amor de Deus”, uma referência ao texto da carta do apóstolo Paulo aos Romanos. A citação de textos bíblicos em lápides é um costume evangélico.
Com a morte precoce de Ayrton Senna, fica a dúvida sobre como sua experiência religiosa evangélica se desenvolveria: se ele se tornaria membro de uma igreja nos moldes convencionais ou se abraçaria a ideia de que “cristianismo não é religião, é lifestyle”. O que é inegável é que Senna teve contato e foi influenciado pela onda evangélica que vem transformando o panorama religioso do Brasil nas últimas décadas.